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Reinaldo: Sob pretexto de prerrogativa, Eduardo dá um dane-se a Marielle

O colunista Reinaldo Azevedo afirmou no Olha Aqui! desta quarta (10) que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) usa o pretexto de uma prerrogativa parlamentar para defender o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e dar um "dane-se" ao caso Marielle. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara vota hoje se suspende a prisão do deputado, determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Ele é acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes.

O deputado foi às redes sociais defender a soltura de Brazão. Ele evocou artigo da Constituição segundo o qual membros do Congresso não podem ser presos, à exceção de flagrante por crime inafiançável.

De fato, o Artigo 53 da Constituição diz que um parlamentar só pode ser preso por flagrante de crime inafiançável. Mas, jurisprudência do Supremo, que não é recente, considera que crime de obstrução da Justiça em organização criminosa é crime permanente. Sendo crime permanente e sendo organização criminosa um crime inafiançável, é flagrante. Não é por outra razão que o Darcy de Matos (PSD-SC), o relator da questão da prisão, acatou a decisão do Alexandre [de Moraes] e defende a prisão. Sob pretexto de proteger uma prerrogativa de parlamentares, o que essa gente está fazendo, de verdade, é 'dane-se' a questão da Marielle. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Fico muito chocado com o ódio que essa mulher desperta na extrema direita brasileira. É assombroso. Quando você enxerga o horror, chega ao coração das trevas da indecência. Por que? Porque é mulher, preta, da periferia, porque sendo mulher preta da periferia casada com uma mulher tinha voz, falava, articulava, enfrentava? O Eduardo está dizendo o seguinte: 'Se eu defender que esse cara fique solto, sei que não terei prejuízo algum. O meu eleitorado não quer na cadeia o cara acusado de ter matado Marielle e que está preso legalmente. É mentirosa essa restrição do Artigo 53. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Reinaldo destacou que, em outros tempos, a atitude de Eduardo Bolsonaro seria um suicídio político.

Como você se organiza pra soltar um sujeito que todas as evidências apontam [a culpa]? É mentira que a prisão seja ilegal. Essa gente não dá a menor bola, ao contrário, usa a morte da Marielle pra 'fazer H' junto ao seu eleitorado. Olha a que estágio chegamos. E sob pretexto de conter o Alexandre (de Moraes), eu vou dizer que não vou prender. Há um movimento daqueles que dizem 'então vamos cassar'. A ideia é: a gente não prende- e aí tem um jeito malandro de não prender, porque essa gente também é covarde. Os covardes estão defendendo que, para ele ficar preso, tenha 257 votos 'sim'. É claro que o razoável seria, uma vez que um poder prendeu, que o outro, tendo a prerrogativa de soltar, tenha maioria para negar o que ele fez - ter 257 'não'. Embora a votação seja aberta, há um jeito de se esconder. É só não aparecer, só não dar quórum. Ainda que os progressistas apareçam, há chance, se não houver 257 votos, de ele sair da cadeia. Por 1 voto pode sair. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

Queremos cassá-lo. Aí sim, pode virar uma maneira de protegê-lo. Tem uma votação que está em curso, sobre o foro especial. Se a proposta do Gilmar Mendes [ministro do STF] prosperasse, o Brazão, mesmo cassado, continuaria com foro no Supremo. Mas, [sem essa proposta] sendo cassado pode ir pra 1ª instância. Digamos que os 'Brazão' na sua paróquia sejam bastante influentes. Isso que os imbecis chamam de foro privilegiado, hoje, os parlamentares querem fugir como o diabo da cruz. Não só querem fugir do foro, como querem usar o homicídio para dar resposta ao Supremo. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

O colunista disse que não há suicídio político, mas moral.

O Eduardo [Bolsonaro] e os outros estão dizendo: 'Estou nem aí pra Marielle, a gente é do tipo que rasga placa com o nome dela, a gente vai pra rede sustentar que ela era ligada ao narcotráfico. Nós somos essas pessoas más, não estamos nem aí. Ainda que se vá cassar Brazão depois e tirá-lo da prisão para dar recado ao Supremo, pode não ser um suicídio político, porque o eleitorado dessa gente quer isso. Moral é. Mas essa gente tem alguma moral que não seja a moral do esgoto? É espantoso, mas não surpreendente. De novo, Marielle servindo para mobilizar a extrema direita e contra a punição daqueles que estão envolvidos com sua morte. Não estão preocupados apenas com prerrogativas parlamentares, até porque o argumento é escancaradamente falso. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL

O Olha Aqui! vai ao ar às segundas, quartas e quintas, às 13h.

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Veja abaixo o programa na íntegra:

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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