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Herdeiro dos Brazão é exonerado e fica apto a concorrer à Câmara do Rio

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, e Kaio Brazão, em foto de agosto de 2023 Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

12/04/2024 04h00

Apontado como um dos mandantes do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, Domingos Brazão deve ter um enteado entre os candidatos a vereador do Rio de Janeiro em 2024. Exonerado no último dia 5 do cargo comissionado que ocupava na Câmara Municipal da cidade, Kaio Kroff Paiva Brazão está apto a concorrer.

O que aconteceu

Exoneração é passo importante para candidatura. Pela regra eleitoral em vigor, servidores com cargos públicos precisam se desincompatibilizar até três meses antes do pleito — marcado para 6 de outubro — caso queiram concorrer. Desde 2021, Kaio era auxiliar de gabinete do vereador Waldir Brazão (União Brasil).

A expectativa é que Kaio seja puxador de votos para seu partido, o Republicanos. Com 22 anos e formado em gestão pública, ele publica nas redes sociais fotos que sinalizam sua pré-candidatura desde setembro do ano passado. "Me sinto preparado para dar continuidade ao trabalho de mais de 30 anos da família", já disse.

Pré-candidato moveu processo para incluir Brazão em seu sobrenome. Iniciada em 2022, a ação correu na Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça do Rio a pedido de Kaio. Em 19 de fevereiro, o juiz Alessandro Oliveira Felix divulgou uma sentença favorável à alteração.

Pré-campanha incluiu festa de natal em Rio das Pedras. A favela fica na região de Jacarepaguá e é conhecida por ter sido um dos berços das milícias no Rio. No relatório da CPI das milícias de 2008, o então vereador Nadinho afirmou que Domingos Brazão teria feito campanha na comunidade com apoio de milicianos.

Para Kaio, prisões do pai e do tio foram feitas "sem provas". Em um story publicado no Instagram na última terça (9), ele sugeriu que a ação da PF (Polícia Federal) que resultou nas prisões de Domingos e Chiquinho, apontados como mandantes do assassinato de Marielle, se baseou em "atropelamentos jurídicos".

A prisão arbitrária do deputado Chiquinho Brazão é um ataque à nossa Constituição. O STF aceitar tal absurdo é um sinal alarmante. Não é possível a violação dos direitos constitucionais. A imunidade parlamentar existe para proteger o exercício democrático, e sua suspensão é um perigoso precedente
Kaio Brazão, em post publicado no Instagram em 8 de abril de 2024

Procurados, Kaio e Republicanos não retornaram os contatos. Já o vereador Waldir Brazão informou por meio de assessores que não comentaria o tema.

Pré-candidatura foi apoiada por Paes

"Botei pilha", disse prefeito do Rio sobre entrada de Kaio na política. Em vídeo divulgado pelo portal Última Hora em 5 de agosto de 2023, Eduardo Paes (PSD) disse que "quem mais briga pelas coisas de Jacarepaguá [bairro da Zona Oeste carioca] é a família Brazão" e que "a tradição não pode parar".

"Eu serei o braço do prefeito aqui", disse Kaio. Em seu discurso, o pré-candidato afirmou que representaria a região na Câmara de Vereadores e agradeceu o carinho de Paes por ele e sua família: "Tem quatro políticos que eu tenho admiração. Primeiro, é meu pai. Você [Paes] é um deles, e os meus dois tios. É um time".

Após prisões, Paes chamou proximidade com os Brazão de "erro". Declarações foram dadas no último dia 30. "Queremos alianças, mas as alianças têm que ter um limite", disse o prefeito do Rio, que teve Chiquinho Brazão como secretário especial de ação comunitária entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024.

Procurado, Paes não retornou os contatos da reportagem.

Quem botou essa pilha fui eu. Chiquinho já está meio velhinho, de cabelo branco. Pedro também. Dominguinhos então, nem se fala, virou um velho. Aí, eu falei, vamos botar um moleque novo (...) Chiquinho manda emenda lá de Brasília, Pedro ajuda na Alerj e a gente precisa de mais um para ajudar a gente
Eduardo Paes, em evento em Jacarepaguá, em 5 de agosto de 2023

Alianças vão de direita à esquerda

"Tem uma coisa que um amigo do meu pai sempre falava: o povo merece respeito", afirmou Kaio no mesmo evento com Paes. A frase é uma menção ao slogan de Eduardo Cunha (sem partido), ex-deputado federal, ex-presidente da Câmara dos Deputados e um dos artífices do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Vínculo entre Cunha e irmãos Brazão se refletiu em votação na Câmara nessa quarta (10). Filha de Cunha, a hoje deputada federal Danielle Cunha (União Brasil-RJ) conversou com colegas de partido e da bancada do Rio para tentar evitar que as prisões de Domingos e Chiquinho fossem validadas pelo Parlamento.

Em novembro, Kaio teve encontro com Rafael Picciani (MDB). Atual secretário de Estado de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro, o político é filho de Jorge Picciani, morto em 2021, que foi presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) várias vezes durante as gestões de Sergio Cabral e Pezão. Os três eram do então PMDB.

Ligação entre Domingos e Picciani também é antiga. Em 2014, quando Jorge Picciani disputava a presidência da Alerj pela quinta vez, Brazão foi um dos que declararam apoio a ele dentro do PMDB. Na ocasião, Picciani disputava a vaga com Paulo Mello (PMDB). Picciani e Brazão foram presos na mesma operação da PF, em 2018.

Aliados de Lula e Bolsonaro já receberam afagos do clã. Em outubro, Kaio homenageou Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo e aliado de Lula na Baixada Fluminense, em vídeo sobre Dia do Prefeito. Já nas eleições de 2022, Chiquinho postou fotos com Cláudio Castro, do PL, mesmo partido de Bolsonaro.

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