Boulos encara resistência da Faria Lima por 'imagem radical'
A campanha da eleição municipal nem começou e o deputado e pré-candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL-SP) já encara questionamentos sobre sua imagem de "radical" para uma parcela do eleitorado.
O que aconteceu
Comparação com a extrema direita. Durante encontro nesta sexta, 19, com a Prada Assessoria, voltada em investimentos e sucessão patrimonial, o deputado mostrou-se desconfortável quando a anfitriã Lucia Hauptman, presidente da Prada, comparou o PSOL com a extrema direita. "Você está sendo injusta", pontuou Boulos.
Direitos humanos. Para ele, não faria sentido comparar um partido que apoia os direitos humanos com outro que se posiciona contra a democracia."É importante sempre demarcar isso", disse Boulos.
´Faria Limers´. A Prada Assessoria é uma das empresas que representam os investidores da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, onde o psolista tem mantido reuniões para derrubar resistências a seu nome.
Eleitores refratários. O medo é repetir o quadro de 2020, quando Boulos só ganhou em oito das 58 zonas eleitorais da cidade — todas na periferia. Nas áreas em que Bruno Covas (PSDB) teve os maiores percentuais, como Indianópolis e Jardins, a maioria dos eleitores tende a votar em Ricardo Nunes (MDB) em 2024.
Governar para todos, foco no diálogo. Ciente da fama, Boulos afirma que caso seja eleito vai governar para uma cidade, e não para os eleitores do seu partido. "Não serei eleito pelos militantes do PSOL, mas pela cidade de São Paulo e vamos governar com um conjunto de partidos", defendeu ele no evento da Prada.
Maior rejeição entre os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo. Segundo o Datafolha, o indicador chega a 34% e é maior do que o apresentado por Kim Kataguiri, do União Brasil (32%), Altino, do PSTU (27%), Nunes (26%), Tabata Amaral, do PSB (19%) e Marina Helena, do Novo (18%).
Falas polêmicas no caminho
De Hamas a Venezuela. A falta de diálogo com moradores de algumas partes da cidade e o histórico de declarações polêmicas ligadas a Hamas, Venezuela e outros temas serão outros entraves no caminho de
Declaração sobre conflito no Oriente Médio custou apoio de ex-secretário. Em 8 de outubro, um tuíte em que Boulos condenou "ataques violentos" que mataram "250 israelenses e 232 palestinos" levou Jean Gorinchteyn, que comandou a Saúde no estado de São Paulo na gestão Doria, a se afastar da pré-campanha do Psol.
Minha defesa dos direitos do povo palestino é pública. Cheguei inclusive a realizar uma visita à Cisjordânia em 2018, da qual os bolsonaristas estão utilizando imagens para propagar Fake News.
-- Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) October 8, 2023
Agora, condeno sem meias palavras ataques violentos a civis, como os que mataram nas?
Médico disse ter tomado a decisão por "postura pró-Palestina que não menciona ou condena o grupo extremista islâmico Hamas". Gorinchteyn é judeu. Dois dias depois da situação, Boulos se solidarizou com "todos os familiares das vítimas dos ataques propagados pelo Hamas" durante uma sessão na Câmara dos Deputados.
"Não publicaria", disse Boulos no último dia 2 sobre post polêmico do MTST nas redes sociais. Na Sexta-feira Santa, o movimento divulgou uma charge de Jesus crucificado em que um dos soldados romanos dizia a frase "bandido bom é bandido morto" — uma crítica a um mote comum entre membros da direita brasileira.
Quando você faz uma crítica social e não deixa isso claro, você abre margem, ainda mais num tema delicado, como é a fé das pessoas, para distorções
Guilherme Boulos, pré-candidato a prefeitura pelo PSOL, em entrevista no último dia 2
A imagem foi alvo de críticas por misturar política e religião. Nunes se disse "indignado" com a publicação. Diante da repercussão, o MTST decidiu apagar o post no último dia 4. Após reunião, a coordenação nacional do movimento considerou a postagem "inapropriada" e reafirmou seu respeito às religiões.
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Quero receberDeputados estaduais do Rio Grande do Sul pediram investigação pela Polícia Federal de possível crime de "intolerância religiosa". Em representação ao Ministério Público Federal, a Frente Parlamentar em Defesa da Liberdade Religiosa afirma que a publicação representou "ofensa e escárnio à religião cristã".
Boulos já foi pró-Maduro e criticou PT
Já defendeu Nicolás Maduro, mas voltou atrás. Pré-candidato à presidência, ele disse à Folha em 2018 que o ditador havia sido "eleito" e que a direita tinha "milícias" na Venezuela. Já em 2020, durante a disputa pela Prefeitura de São Paulo, negou que Cuba e Venezuela fossem "modelos de democracia".
Invasão ao tríplex do Guarujá (SP). Em 16 de abril de 2018, Boulos, então coordenador geral do MTST, invadiu, junto com outros integrantes do movimento, o apartamento triplex do Guarujá cuja posse foi atribuída ao então ex-presidente Lula. A tese de que o imóvel teria sido um presente da empreiteira OAS para garantir acesso aos contratos da Petrobras, levou Lula à prisão naquele ano.
Trava quebrada. Boulos e integrantes do MTST ficaram algumas horas no apartamento, após quebrarem a trava do portão de entrada para chegar ao apartamento 164A, onde seria o imóvel de Lula Por conta do episódio, Boulos virou réu em uma ação na Justiça Federal, arquivada definitivamente em 21 de abril de 2022.
Hoje aliado, PT foi alvo de Boulos em 2014. Em artigo publicado na Folha após as eleições daquele ano, ele disse que os três primeiros mandatos do partido na presidência foram "alicerçados no que há de mais atrasado na sociedade brasileira", em uma menção ao PMDB, e defendeu o que chamou de reformas populares.
O PT nem ensaiou nestes 12 anos levantar a bandeira das reformas populares -bloqueadas no país desde João Goulart. Reformas urbana e agrária, reforma tributária progressiva, reforma política e do sistema financeiro. Auditoria da dívida pública, desmilitarização das polícias e democratização das comunicações. Estas são as pautas populares e de esquerda para o Brasil. Alguém as viu nos últimos governos?
Guilherme Boulos, em artigo publicado pela Folha em 30/10/2014
Em 2013, Boulos reclamou de Haddad, que hoje o apóia. Em artigo na Folha, o então membro do MTST diz que o prefeito de São Paulo à época não "se dignou a recebê-los" após várias ações de despejos. Quando o PT anunciou o apoio a Boulos, em agosto, Haddad disse que Boulos tinha "o tamanho da nossa cidade".
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