Ministro vai a culto em SP e tenta novo diálogo do governo com evangélicos

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania prepara um conjunto de ações para se aproximar dos evangélicos. O UOL apurou que as agendas junto às igrejas fazem parte de um movimento do governo Lula (PT) para ampliar o diálogo com o segmento.

O que aconteceu

Nos próximos dias, a pasta vai criar por meio de uma portaria a Rede Nacional de Direitos Humanos. O UOL apurou que o objetivo é estreitar o diálogo com os agentes de direitos humanos que estão nas pontas — atuando em trabalhos comunitários, por exemplo. O ministro Silvio Almeida acredita que os pastores evangélicos, assim como os demais líderes religiosos, fazem parte desse grupo.

O ministério prepara uma comissão com representantes de diferentes religiões. O grupo será vinculado a uma coordenação dentro da secretaria de defesa e promoção dos Direitos Humanos chamada de "Liberdade Religiosa".

Silvio Almeida foi o ministro escolhido por Lula pelo bom relacionamento com diversos segmentos da parcela de evangélicos. O ministro é católico, mas tem familiares evangélicos, como a esposa e a sogra. No primeiro momento, essa aproximação deve ocorrer com setores mais progressistas da igreja evangélica. Mas, a ideia da pasta é aumentar o diálogo com grupos evangélicos mais conservadores.

O ministro foi convidado para participar de um culto com pastores na igreja do líder batista Ed René Kivitz. O encontro ocorre na noite desta sexta-feira (21), na Igreja Batista Água Branca, na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Além do ministro, mais cinco convidados participam do evento cujo tema é "O que esperamos de uma agenda de direitos humanos no Brasil".

A igreja é conhecida no meio evangélico por ser mais progressista — Ed René foi, publicamente, contrário à reeleição de Bolsonaro (PL). O UOL apurou que o ministério também quer participar de encontros em outras denominações (leia mais abaixo).

O que é a Rede Nacional dos Direitos Humanos

O objetivo da rede é atuar em três frentes: comunicação com setores da sociedade, produção de dados e a defesa dos direitos humanos. Na pasta, a ideia é que os evangélicos, que já desempenham funções juntos às comunidades, sejam promotores de direitos humanos. A reportagem apurou que como o ministro tem a prerrogativa da liberdade religiosa, ele atuará junto aos pastores para promover e garantir os direitos humanos na prática.

Ministro planeja agenda com outros setores evangélicos. Almeida tem dito que os direitos humanos devem servir à igreja e a igreja deve servir aos direitos humanos. A avaliação de interlocutores da pasta é que levar um ministro para dentro das igrejas não é uma tarefa simples, mas que Silvio Almeida seria o nome mais indicado para a função.

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Aproximação com evangélicos é considerada "dever institucional" do ministério. No entendimento de pessoas ligadas à pasta, está entre as atribuições do ministério o "dever de criar condições para um diálogo interreligioso e a defesa do estado laico".

Lula e os evangélicos

O governo Lula (PT) enfrenta resistência dentro do segmento evangélico. Antes de ser eleito, o petista chegou a divulgar uma carta de compromisso com as igrejas. No texto, ele relembrou ações de seu governo que "reforçaram a plena liberdade religiosa", criticou o uso da fé na campanha eleitoral e defendeu a separação entre Estado e igreja. Durante a campanha, Neste ano, Lula foi alvo de notícias falsas que indicavam que ele fecharia igrejas, se ele fosse eleito.

Apesar de ter sancionado a lei que cria a Marcha para Jesus no Brasil, Lula nunca participou do evento. Pelo segundo ano consecutivo, ele foi representado pelo ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias. O porta-voz de Lula no evento foi chamado de "servo de Deus" e "nosso ministro" pelo apóstolo Hernandes.

No ano passado, Messias foi vaiado ao citar Lula em seu discurso. "Esse é o recado que o presidente pediu para trazer para vocês", disse o ministro antes da manifestação do público.

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