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Lula queria promover governo em entrevistas, mas ataques ao BC jogam contra

Presidente Lula em entrevista ao UOL no Palácio do Planalto Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Do UOL, em Brasília

03/07/2024 04h00Atualizada em 03/07/2024 08h53

A agenda intensa de entrevistas do presidente Lula (PT) foi montada com objetivo de promover os feitos do governo e até gerou efeitos iniciais positivos, mas a avaliação é que as falas polêmicas sobre mercado e Banco Central começaram a atrapalhar.

O que aconteceu

Em pouco mais de duas semanas, Lula deu nove entrevistas ao vivo, incluindo ao UOL, na última quarta (26). Isso é o triplo dos seis meses anteriores, quando ele deu apenas três entrevistas, excluindo declarações pontuais à imprensa e cafés com jornalistas.

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Com atenção especial a rádios locais, o objetivo é mostrar os feitos do governo. O presidente tem repetido que o primeiro ano foi de "reconstrução e plantação" e que, a partir de agora, está "começando a colher". As entrevistas viriam para disseminar isso.

Na avaliação do Planalto, a estratégia funcionou inicialmente, mas as repercussões começam a preocupar. Membros da administração avaliam que as declarações têm repercutido e pautado o noticiário, mas, por outro lado, as sucessivas 'brigas' com o mercado têm gerado um efeito negativo para a imagem do governo.

Auxiliares de Lula defendem o presidente no conteúdo, mas admitem o problema na forma. Dizem que ele tem razão nas críticas aos juros altos, por exemplo, mas reconhecem que a forma belicosa, principalmente contra Roberto Campos Neto, tem causado ruídos e trazido prejuízos.

Por que mudou

A retomada das entrevistas já é pensada há um tempo, frente ao fracasso das lives semanais no ano passado. Lula sempre gostou de falar com rádios populares, e as entrevistas para veículos locais se encaixaram na estratégia de apresentar feitos e investimentos do governo para cada região, ao passo que a transmissão pela internet garante os cortes para as redes sociais.

Aliados argumentam que não há ninguém melhor para falar pelo governo do que o presidente. Eles lembram que Lula sempre foi reconhecido por seu poder de comunicação e avaliam que ele estava sendo mal explorado.

O plano é que ele dê uma entrevista para cada novo local que visite. Mesmo com as falas polêmicas, a estratégia ainda é vista como mais eficiente do que o extinto "Conversa com o Presidente", encampado pelo ex-ministro da Secom Paulo Pimenta, agora na pasta de Apoio à Reconstrução do RS. As lives semanais, apresentadas pelo jornalista Marcos Uchôa para apresentar as pautas do governo, não engajaram.

Exibidas às terças de manhã no canal oficial, a audiência era baixa. Com conteúdos sempre positivos, Lula dificilmente tratava de pautas polêmicas e os vídeos raramente viralizavam, dado conteúdo quase protocolar das falas — diferentes das entrevistas e discursos que, entre palavrões, gafes e atos falhos, circulam pelas redes sociais organicamente.

Porta-voz do governo

Membros do Planalto pontuam que Lula tem pautado o debate nacional e o governo. Suas falas sobre subsídios e desoneração seguraram a fritura do ministro Fernando Haddad (Fazenda); a cobrança por pedido de desculpas do presidente Javier Milei repercutiu no governo argentino; e a negativa em desvincular a aposentadoria e o BPC (Benefício de Progressão Continuada) do salário mínimo fez com que a equipe econômica já descartasse a proposta.

Aliados veem ainda como uma forma de ele reverter assuntos mais espinhosos. Foi assim nos casos do leilão internacional de arroz, quando ele foi o primeiro a admitir que o leilão foi cancelado por ilicitude, ao citar a "falcatrua de uma empresa", e do indiciamento do ministro Juscelino Filho, das Comunicações.

Como exemplo oposto, aliados usam o caso do veto aos eventos sobre o Golpe de 64. Lula foi duramente criticado quando se tornou público que o próprio pediu para que atos de 60 anos não fossem feitos, em abril. O PT viu o caso como "assunto de bolha" e ele não comentou o assunto, mas as reclamações continuaram. Atualmente, é provável que, questionado, estancasse a sangria, dizem pessoas da comunicação.

Gafes preocupam e ligam alerta

Mas membros do governo começam a se preocupar que a polêmicas relacionadas ao câmbio estejam surtindo efeito reverso. Em vez de as entrevistas servirem para deixar o presidente mais à vontade, falando diretamente com a população, como gosta de fazer, as falas de Lula viraram vidraça.

O dólar está batendo recorde. Na segunda (1º), teve alta de 1,11% e fechou o dia a R$ 5,652, maior valor desde janeiro de 2022. Apesar de a alta ser impulsionada pelo avanço nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA no mercado internacional, no mercado nacional as falas de Lula também seguem impactando.

Embora Lula negue erroneamente, as falas que questionaram a necessidade de corte de gastos na entrevista ao UOL fizeram com que o dólar desse um pulo na manhã de quarta: estava em R$ 5,45 antes, começou a subir por volta das 11h30, após a transmissão, e chegou a atingir R$ 5,52 no começo da tarde.

Nas redes sociais, a oposição e até apoiadores começaram a cobrar o presidente e a pedir que maneirasse nas falas. Em uma postagem recente sobre o Corinthians, que poderia ser usada só com tom leve, o assunto rapidamente virou uma piada sobre a valorização do real.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quer discutir a comunicação. O ministro afirmou nesta terça-feira (2) que é preciso arrumar a comunicação sobre autonomia do Banco Central e arcabouço fiscal.

Lula já marcou reunião. O presidente admitiu que a alta do dólar preocupa, atribuiu a escalada à "especulação" e anunciou que fará uma reunião hoje (3) para debater o assunto.

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