Amorim: Assassinato de líder do Hamas foi 'excesso que pode custar caro'
O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou nesta quinta-feira (1º) que o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irã foi um "excesso que pode custar muito caro". Israel não assumiu a autoria do ataque.
O que Amorim disse
"Você não poderia fazer uma coisa dessas, é uma violação à soberania", declarou Amorim. O assessor de Lula afirmou que o Irã acabou de eleger um presidente mais moderado, "segundo a visão ocidental", mas que a situação forçará o país a provocar uma escalada da tensão na região.
"Em vez de enfraquecer o Hamas, isso fortalece", opinou. "É uma agressão, e eu não sei como o Irã vai reagir. Tenho lido que eles vão retaliar com força", completou, em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, no programa É Notícia, da RedeTV!.
Haniyeh era um líder que conversava, disse Amorim. "O Hamas praticou uma ação terrorista [contra Israel em outubro de 2023] que condenamos, sem dúvida alguma. Mas não é tratado na maioria da região como um grupo terrorista. É tratado como um partido político, talvez mais radical, que frequenta a Turquia, um membro da Otan, e o Irã."
"Nosso problema é com o governo Netanyahu." O assessor da Presidência também fez críticas ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. "Não se pode confundir o povo judeu, o governo Netanyahu e o Estado de Israel. Se ele [Netanyahu] sai do poder, pode ser que ele seja preso, há várias acusações sobre ele... A guerra é uma forma de ele se manter no poder."
Haniyeh era procurado pelo Tribunal Penal Internacional. Em 20 de maio, mandados de prisão foram emitidos contra o líder político e principal interlocutor do Hamas por crimes contra a humanidade cometidos desde 7 de outubro. A mesma decisão da Corte também emitiu mandado contra Netanyahu.
Rússia x Ucrânia
Amorim afirmou que "adotar a posição principista e radical da Ucrânia" não resolverá o conflito do país com a Rússia. O diplomata defendeu a proposta de negociação assinada pelo Brasil e pela China no final de maio. Segundo ele, com o impasse na tentativa de buscar uma resolução com base no que propõe o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o plano elaborado por Brasília e Pequim começa a ser notado por outros países.
Há uma sintonia positiva entre o Brasil e a China, que são grandes países, defendem a Carta da ONU, defendem a não intervenção, defendem a integridade territorial. Implicitamente aí há várias críticas à Rússia, mas também não adianta você adotar a posição principista e radical da Ucrânia que não vai ter resultado.
Celso Amorim, assessor de Lula para assuntos internacionais
No final de maio, Amorim viajou à China e assinou com o chanceler chinês, Wang Yi, o documento chamado "Entendimentos Comuns entre o Brasil e a China sobre uma Resolução Política para a Crise na Ucrânia". O texto traz seis pontos que devem ser considerados para a solução da guerra e o apoio de ambos os países à realização de uma conferência internacional de paz "em um momento apropriado".
Venezuela
Na entrevista, Amorim também disse que a demora do Comitê Nacional Eleitoral decepcionou autoridades brasileiras. O chanceler afirmou ainda acreditar que a organização sem fins lucrativos que acompanha eleições ao redor do mundo, o Centro Carter, "não é manipulado".
O assessor da Presidência disse ainda que o contexto venezuelano agrava a situação. "Em qualquer país, o ônus da prova está em quem acusa. Mas, no caso da Venezuela, o ônus da prova está em quem é acusado, em quem é objeto de suspeição. Em função de tudo o que já aconteceu, de todo o quadro político, há uma expectativa de que a Venezuela e o governo venezuelano possam provar a votação que ele alega ter tido."
Ele afirmou que as atas poderão sanar dúvidas em relação à contagem eleitoral. "Perguntei isso [sobre as atas] ao presidente Maduro disse que era uma questão de dois ou três dias", afirmou Amorim ao apresentador.
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