Jamil Chade

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Brasil e China pedem desescalada de guerra e cúpula com Rússia e Ucrânia

Os governos do Brasil e da China fecham um entendimento comum sobre a necessidade de uma solução política da crise na Ucrânia e sugerem que haja uma espécie de desescalada no campo de batalha, para permitir que haja um processo diplomático. O acerto foi realizado depois de uma reunião em Pequim entre Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, e Celso Amorim, conselheiro-chefe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O entendimento também defende a realização de uma conferência de paz, mas com a participação tanto da Rússia como da Ucrânia. Os dois governos ainda defendem a troca de prisioneiros e condenam qualquer uso de armas nucleares.

Brasília considera que Pequim é o único que pode influenciar o Kremlin. O entendimento foi fechado dias depois de um encontro entre os presidentes Xi Jinping e Vladimir Putin, também na China.

A aproximação ocorre ainda num momento crítico da guerra. Os russos avançam e há, no Ocidente, uma fadiga na ajuda para a Ucrânia.

O governo brasileiro ainda se recusou a participar da cúpula sobre a Ucrânia que ocorre em junho, na Suíça, e que não terá a presença de Moscou. Lula declinou o convite diante do temor de que o evento seja usado apenas para chancelar o plano de paz de Volodymyr Zelensky. Putin chegou a confessar a interlocutores brasileiros que aceitar o plano era sua capitulação, já que exige que as tropas russas deixem todos os territórios ucranianos antes de um processo negociador começar.

Numa nota, Brasil e China afirmam que "tiveram uma profunda troca de pontos de vista sobre a promoção de uma solução política para a crise da Ucrânia e o apelo para a desescalada da situação, e chegaram aos seguintes entendimentos comuns:

DESESCALADA DO CONFLITO - Os dois lados pedem a todas as partes relevantes que observem três princípios para a redução da situação, ou seja, nenhuma expansão do campo de batalha, nenhuma escalada dos combates e nenhuma provocação de qualquer parte.

CONFERÊNCIA DE PAZ COM RUSSOS E UCRANIANOS - Os dois lados acreditam que o diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise na Ucrânia. Todas as partes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e pressionar pela redução da escalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente. A China e o Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento adequado e reconhecido pela Rússia e pela Ucrânia, com a participação igualitária de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz.

TROCA DE PRISIONEIROS - São necessários esforços para aumentar a assistência humanitária às regiões relevantes e evitar uma crise humanitária em maior escala. Os ataques a civis ou a instalações civis devem ser evitados, e os civis, incluindo mulheres e crianças, e os prisioneiros de guerra (POWs) devem ser protegidos. Os dois lados apoiam a troca de prisioneiros de guerra entre as partes do conflito.

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REJEIÇÃO AO USO DE ARMAS NUCLEARES - O uso de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares e armas químicas e biológicas, deve ser combatido. Todos os esforços possíveis devem ser feitos para impedir a proliferação nuclear e evitar crises nucleares.

Os ataques a usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas devem ser combatidos. Todas as partes devem cumprir as leis internacionais, inclusive a Convenção sobre Segurança Nuclear, e evitar resolutamente acidentes nucleares provocados pelo homem.

EVITAR DIVISÃO DO MUNDO EM BLOCOS - A divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados deve ser combatida. Os dois lados pedem esforços para aumentar a cooperação internacional em energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestrutura crítica, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações de eletricidade e energia e redes de fibra óptica, para proteger a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais.

Os dois lados dão as boas-vindas aos membros da comunidade internacional para que apoiem e endossem os entendimentos comuns mencionados acima e, em conjunto, desempenhem um papel construtivo na redução da escalada da situação e na promoção de negociações de paz.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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