Vereador ligado a donos de bufê suspeito quis CPI contra padre Julio

O vereador Rodrigo Goulart (PSD), ligado aos donos do bufê que vendeu à Prefeitura de São Paulo alimentos até 400% acima do valor para serem doados à população em situação de rua, quis investigar ONGs que oferecem comida gratuitamente na cidade.

Em janeiro, Goulart assinou o pedido de abertura de uma CPI para averiguar o trabalho de organizações que atuam no centro da capital. O padre Julio Lancellotti foi um dos alvos.

A comissão ficou em suspenso após parte dos vereadores retirar apoio. Goulart, no entanto, o manteve.

O vereador pertence à base do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e é amigo da família dona do bufê Prime Alimentação e Eventos.

Rodrigo Goulart (PSD)
Rodrigo Goulart (PSD) Imagem: Redes Sociais

Conforme o UOL revelou, o estabelecimento foi declarado vencedor de uma licitação em que quatro concorrentes com preços mais baixos foram desclassificados.

Há indícios de favorecimento ao fornecedor.

Os alimentos em questão são usados pela prefeitura na Operação Baixas Temperaturas, que oferece água, sopa, achocolatado e chá para a população em situação de rua em dias frios.

A reportagem mostrou que o município paga R$ 4,11 em cada garrafa de água de meio litro. A mesma marca distribuída neste inverno é vendida a partir de R$ 0,77 em supermercados — diferença que chega a cerca de 400%.

A sopa pequena custa R$ 11,92. É mais cara do que a própria prefeitura paga em marmitas com o dobro do tamanho, no programa Cozinha Cidadã — R$ 10.

O próprio fornecedor da sopa é uma das empresas contratadas para produzir a marmita.

No copo de achocolatado, a administração municipal paga R$ 4,32. No de chá, R$ 3,91.

As compras começaram em maio do ano passado. Até agora, foram adquiridos 3,4 milhões de itens, por R$ 20 milhões.

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Procurada, a prefeitura afirma que não há irregularidades na contratação da Prime ou favorecimento para apoiadores de um aliado político.

De acordo com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, a empresa foi escolhida depois que outras quatro empresas "foram desclassificadas por não cumprirem integralmente as exigências quanto à documentação solicitada no edital de licitação".

A secretaria não quis comentar a diferença entre os valores pagos pelo poder público e os oferecidos pelo varejo, como no caso da água mineral com 400% de disparidade entre os dois.

A empresa Prime Alimentação não respondeu às tentativas de contato nem respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.

O vereador Rodrigo Goulart diz que é amigo dos donos da Prime Alimentação, mas que não tem relação com a contratação da firma pelo poder público.

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