Lula, Lira e Pacheco falam que incêndios são criminosos e pedem pena maior

O presidente Lula (PT) e os presidentes do Legislativo disseram concordar que os incêndios que batem recorde pelo país têm origem criminosa. Nesta terça (17), o governo anunciou um crédito extraordinário de R$ 514 milhões para um programa de combate às queimadas.

O que aconteceu

Os chefes dos três Poderes se reuniram no Palácio do Planalto para debater a situação. Estavam no encontro os presidentes do STF, Luís Roberto Barroso, do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além da cúpula do governo e as direções da Polícia Federal, do TCU (Tribunal de Contas da União) e da PGR (Procuradoria-Geral da República).

"Não pode acusar, mas que há suspeita [de crime], há", disse Lula na reunião, citando o ato bolsonarista na av. Paulista durante o 7 de Setembro, que teve chamadas nas redes sociais com a frase "Vai pegar fogo". "O dado concreto é que, para mim, parece muita anormalidade."

Pacheco seguiu no mesmo tom. "É muito evidente que, diante desse contexto, a quantidade de focos [de incêndios], há, sim, uma orquestração, mais ou menos organizada, que pretende incendiar o Brasil", disse.

Lira disse estar "claro" e "evidente" que há influência criminosa no aumento dos incêndios. "Estamos enfrentando um problema iminente de organizações criminosas, inclusive no atear fogo", disse, citando exemplos de queimadas que viu nesta tarde em Minas Gerais e no Distrito Federal.

O Brasil tem batido recorde de queimadas. Em agosto, o país registrou 68 mil focos de calor, segundo dados do Programa de Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) —o maior número para o mês desde 2010 e 145% a mais do que no mesmo mês no ano passado.

Lula cobrou uma pena maior aos criminosos ambientais. "O que nós queremos é também autorização para que a gente possa fazer as investigações, cumprir os inquéritos, investigar, interrogar, porque, se as pessoas estiverem comendo esse tipo de crime, a lei tem que ser exercida sua própria plenitude", disse o presidente.

Em sua fala, o secretário-executivo do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, disse ver "milhares de indícios" de crimes diariamente. "Temos uma quantidade muito grande de frentes extintas e controladas, mas elas continuam aparecendo a cada semana, cem novas frentes praticamente a cada semana —o que implica numa seguinte constatação: estão pondo fogo", disse.

O calor é o maior dos últimos tempos e está no mundo inteiro, mas algo me cheira de oportunismo também, sabe, de alguns setores que tentam criar confusão nesse país.
Lula, em reunião sobre queimadas

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R$ 514 milhão para combater queimadas

O governo debateu o assunto durante toda a segunda-feira (16). Originalmente, seria a reunião semanal de alinhamento do governo com lideranças do Congresso, mas, assustado e irritado com o avanço das chamas sobre a capital federal, Lula mudou os rumos do encontro e cancelou uma agenda ligada à economia popular na parte da tarde para discutir o assunto por mais tempo.

A situação incomoda o governo em especial por ser às vésperas de discurso na ONU (Organização das Nações Unidas). Lula vai a Nova York no final de semana e pretendia abrir a Assembleia-Geral com uma fala destacando o Brasil como país sustentável e de energia limpa, mas ter a própria capital em estado calamitoso atrapalha o posicionamento.

"É que a natureza resolveu mostrar suas garras", justificou Lula. "Então, essa reunião aqui é para a gente fazer uma revisão no conceito que cada um tem sobre a questão climática no Brasil, ela está pior do que em qualquer outro momento."

Queimadas no país e na capital federal

Neste ano, a Amazônia queimou três Sergipes. De 1º de janeiro a 1º de setembro de 2024, foram queimados 6.718.025 hectares na Amazônia, segundo o governo federal. Ao todo, até a última semana, foram registrados 189 incêndios: só 38 foram extintos e 158 seguem ativos, 76 deles de forma controlada.

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Brasília está encoberta por fumaça desde domingo (15), depois que focos de incêndio se alastraram pelo Parque Nacional. A fumaça entrou nas casas dos moradores do Plano Piloto e do entorno, e o fogo só foi controlado nesta manhã.

Lula sobrevoou a área no domingo. Segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e os bombeiros, foram consumidos pelas chamas 7 milhões de m² do parque e não se sabe a causa do incêndio.

A Polícia Federal abriu duas investigações para apurar os incêndios que têm ocorrido em Brasília desde o início de setembro. Os inquéritos estão sendo conduzidos pela superintendência regional da PF para apurar condutas criminosas nas queimadas no Parque Nacional e na Floresta Nacional (Flona) da capital.

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