Lula alfineta Zelensky e minimiza crítica sobre ditaduras de esquerda

Em entrevista em Nova York, o presidente Lula (PT) alfinetou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desconversou sobre críticas de outros líderes globais e sinalizou "estar pronto" para o acordo entre Mercosul e União Europeia.

O que aconteceu

Questionado sobre cobranças públicas de Zelensky, Lula alfinetou o ucraniano. "Ele, se fosse esperto, diria que a solução é diplomática —e isso depende de capacidade de sentar e conversar, ouvir o contrário e tentar chegar a um acordo", disse Lula.

Em sua fala na Assembleia Geral, Zelenski acusou Brasil e China de fortalecerem o presidente russo, Vladimir Putin, com o plano de paz alternativo. "Quando alguns propõem alternativas, acordos frágeis ou, ainda, 'conjuntos de princípios', eles não apenas ignoram os interesses e o sofrimento dos ucranianos [...], como dão a Putin espaço de atuação política para continuar a guerra", declarou.

Lula questionou a fala. "O que nós estamos propondo não é fazer a paz por eles. O que nós estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir que a Ucrânia sobreviva enquanto o país soberano e a Rússia sobreviva", disse Lula.

Lula foi a Nova York para participar da Assembleia Geral da ONU. Na abertura, ele criticou o financiamento de países desenvolvidos, saudou a Palestina, alfinetou o X (antigo Twitter) e criticou a continuidade das guerras.

Desconversou sobre críticas

O presidente evitou falar de críticas por apoios a ditaduras de esquerda. Em reunião sobre democracia, proposta por Lula, nesta terça (24), em Nova York, o presidente chileno, Gabriel Boric, voltou a questionar líderes democráticos, como o brasileiro, que criticam o israelense Benjamin Netanyahu, mas não o venezuelano Nicolás Maduro ou Putin.

Questionado, Lula desconversou. "Sabe qual é a essência da democracia? É as pessoas falarem o que querem falar e a gente escutar o que a pessoa falou. Ele falou o pensamento dele e jamais eu vou contestar se ele pensa o que ele falou", disse Lula, que lembrou que o chileno faz essa crítica "sistematicamente". "É importante que ele continue falando, porque só ele pode falar o que ele pensa, eu que não."

Lula não tocou no assunto em sua ida à ONU (Organização das Nações Unidas). Em seu discurso na Assembleia Geral, nesta terça (24), ele cobrou os países pelo fim da guerra, defendeu Cuba e o chamado "sul global" e falou de ameaças democráticas, mas não citou a Venezuela.

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Antigos aliados, Lula e Maduro têm entrado em conflito por causa das eleições. O ditador venezuelano se declarou reeleito em um resultado questionado pela oposição e por órgãos internacionais, sem apresentar devidamente as atas do processo, algo exigido pelo Brasil para reconhecimento do resultado.

Impasse no acordo com UE

Lula voltou a colocar pressão na União Europeia para que o acordo, debatido há décadas, saia em breve. Nesta viagem, ele tratou do assunto com diferentes líderes europeus, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O presidente brasileiro tem dito estar otimista. "Eu disse a Ursula von der Leyen que o Brasil está pronto para assinar o acordo, que agora a responsabilidade é toda da União Europeia, e não do Brasil", afirmou o presidente, que tem repetido isso nos últimos meses.

O Brasil tem tentado negociar para finalizar acordo. Mauro Vieira, chanceler brasileiro, confirmou ao UOL que os pedidos brasileiros foram atendidos pelos europeus e que, portanto, não haveria motivo mais para qualquer tipo de bloqueio.

Ainda há impasses. Segundo negociadores do Mercosul e da Comissão Europeia, todas as exigências apresentadas pelo Itamaraty no setor de licitações públicas —que movimenta em torno de US$ 114 bilhões— e que vinham sendo rejeitadas pela Europa foram acatadas pelo braço executivo do bloco.

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Durante as conversas, o Brasil conseguiu que a Europa aceitasse algumas das demandas centrais da proposta do governo Lula. Excluir o SUS de qualquer abertura de mercados para a participação dos europeus em licitações públicas foi uma delas. A meta do Brasil é a de preservar o mercado bilionário para, assim, tentar fortalecer a indústria farmacêutica nacional.

Outra foi a criação de uma margem de preferências para empresas nacionais em licitações públicas, atendendo aos objetivos da nova política industrial do governo. De acordo com negociadores, a Comissão Europeia topou o entendimento, sem impor condicionamentos ou limites.

Em 2023, o acordo também estava próximo. Mas, por uma questão eleitoral, o presidente da França, Emmanuel Macron, se apressou em tentar bloquear o processo. Seu argumento era de que o acordo permitiria uma invasão de produtos do Mercosul no setor agrícola.

Diplomatas apontam que o argumento do francês sobre o risco para a agricultura não condiz com a realidade. Os estudos realizados por ambos os lados do processo apontam que, caso o acordo que já é negociado há 25 anos entre em vigor, o volume extra de exportação brasileira prevista não representaria abalo no mercado europeu, como alegam os franceses. Macron, porém, temia perder o apoio do setor rural, às vésperas da eleição para o Parlamento Europeu e quando a extrema direita avançava para seduzir o voto dessa população.

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