Zelensky critica projeto do Brasil, que costura aliança para paz na Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, usou seu discurso na ONU (Organização das Nações Unidas) nesta quarta-feira (25) para atacar a proposta de paz de Brasil e China.
"Quando a dupla China e Brasil tenta convencer outros a apoiá-los, na Europa, na África, propondo uma alternativa a uma paz plena e justa, surge a pergunta: qual é o verdadeiro interesse deles? Todos precisam entender que não terão mais poder às custas da Ucrânia", disse.
Zelensky tem atuado nos bastidores para impedir que o projeto tenha adesão, enquanto pressiona para que seu próprio plano seja o único a ser considerado como uma saída para a guerra.
O governo brasileiro costura a criação de uma espécie de terceira via para tentar retomar a ideia de um projeto de paz para a Ucrânia e a Rússia. Na sexta-feira (27), em Nova York, Brasil e China vão reunir cerca de 20 países emergentes na esperança de lançar as bases para uma conferência de paz.
No centro do debate, estará o plano de paz criado por Pequim e Brasília e que estabeleceu seis pontos para uma rota diplomática para a crise. Um dos principais aspectos da proposta é que o processo negociador culmine numa conferência que tente estabelecer um pacto de não agressão entre Moscou e Kiev.
Ontem (24), enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazia seu discurso na Assembleia Geral da ONU e mantinha reuniões, coube a seu assessor especial, Celso Amorim, se encontrar com diversos governos para preparar o encontro.
Fontes diplomáticas confirmam que a reunião será concluída com um comunicado, dando um novo peso para o projeto.
Nos bastidores, diferentes governos sinalizaram que gostariam de fazer propostas de emendas ao plano brasileiro e chinês. Por enquanto, o pacote não será aberto a mudanças, mas, numa eventual negociação estruturada, essas mudanças podem ser incorporadas.
Chineses e brasileiros acreditam que a proposta poderia ser uma via alternativa ao que existe hoje no conflito. O governo da Ucrânia insiste em seu plano de paz que, segundo revelou o presidente russo Vladimir Putin a interlocutores brasileiros, representaria o reconhecimento de uma derrota, se eventualmente fosse adotado.
Lula e Zelensky
Lula chegou a alertar Volodymyr Zelensky que não existe plano de paz unilateral e insinuou que ele teria de aceitar uma negociação. Para Kiev e uma parcela importante das potências ocidentais, negociar com Moscou diante de uma invasão representaria uma concessão inaceitável.
Há ainda a desconfiança por parte dos ucranianos de que o projeto sino-brasileiro seja meramente uma camuflagem para uma proposta que poderia ter sido desenhada pelo Kremlin.
Contudo, o projeto não repete as mesmas posições adotadas pelo governo russo em conferências organizadas em São Petersburgo. Por isso, o encontro de sexta-feira ocorre sem a presença de ucranianos e russos.
Lula falou com Putin
Lula falou sobre o plano com Putin na semana passada, antes de embarcar para Nova York. Entretanto, fontes do governo brasileiro admitem que apenas a China pode ter um papel tão importante na Rússia capaz de convencer o Kremlin a modificar sua postura.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberDurante seu discurso na ONU nesta terça, o presidente brasileiro afirmou que "é com pesar" que a guerra continua e sem perspectiva de paz.
O Brasil condenou de maneira firme a invasão do território ucraniano. Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar.
Lula, em discurso na ONU
"O recurso a armamentos cada vez mais destrutivos traz à memória os tempos mais sombrios do confronto estéril da Guerra Fria", alertou o petista.
Segundo ele, "criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes" é "crucial neste momento".
Os governos de Brasil e China sugerem uma desescalada no campo de batalha, para permitir um processo diplomático. Ambos defendem também a troca de prisioneiros e condenam qualquer uso de armas nucleares.
O que diz o plano
DESESCALADA DO CONFLITO - Brasil e China pedem a todas as partes relevantes que observem três princípios para a redução do conflito, ou seja, nenhuma expansão do campo de batalha, nenhuma escalada dos combates e nenhuma provocação de qualquer parte.
CONFERÊNCIA DE PAZ COM RUSSOS E UCRANIANOS - Os dois países acreditam que o diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise na Ucrânia. Todas as partes devem criar condições para a retomada do diálogo direto e pressionar pela redução da escalada da situação até a realização de um cessar-fogo abrangente. A China e o Brasil apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento adequado e reconhecido pela Rússia e pela Ucrânia, com a participação igualitária de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz.
TROCA DE PRISIONEIROS - São necessários esforços para aumentar a assistência humanitária às regiões relevantes e evitar uma crise humanitária em maior escala. Os ataques a civis ou a instalações civis devem ser evitados, e os civis, incluindo mulheres e crianças, e os prisioneiros de guerra (POWs) devem ser protegidos. Brasil e China apoiam a troca de prisioneiros de guerra entre as partes do conflito.
REJEIÇÃO AO USO DE ARMAS NUCLEARES - O uso de armas de destruição em massa, especialmente armas nucleares e armas químicas e biológicas, deve ser combatido. Todos os esforços possíveis devem ser feitos para impedir a proliferação nuclear e evitar crises nucleares.
Os ataques a usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas devem ser combatidos. Todas as partes devem cumprir as leis internacionais, inclusive a Convenção sobre Segurança Nuclear, e evitar acidentes nucleares provocados pelo homem.
EVITAR DIVISÃO DO MUNDO EM BLOCOS - A divisão do mundo em grupos políticos ou econômicos isolados deve ser combatida. Brasil e China pedem esforços para aumentar a cooperação internacional em energia, moeda, finanças, comércio, segurança alimentar e segurança de infraestrutura crítica, incluindo oleodutos e gasodutos, cabos ópticos submarinos, instalações de eletricidade e energia e redes de fibra óptica, para proteger a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais.
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