Tenente 'amigo próximo' de Bolsonaro arrecadou fundos para golpe, diz PF

"Amigo próximo" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente e suplente de senador Aparecido Portela (PL), conhecido como Tenente Portela, atuou na arrecadação de dinheiro para as manifestações golpistas que culminaram na tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, de acordo com a Polícia Federal.

O que aconteceu

Mensagens no WhatsApp revelam o papel de Portela. Segundo a PF, ele afirmou em mensagem trocada com o então ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, que as pessoas que "colaboraram com a carne" estavam questionando sobre a "realização de um churrasco". "Churrasco" era o código usado pelos conspiradores para se referir ao golpe de Estado, diz a polícia.

Em janeiro de 2023, Portela revela preocupação em ter que "devolver a parte desse pessoal". "O pessoal está em cima de mim aqui, infelizmente vou ter que devolver a parte desse pessoal, minha vida está um inferno", disse ele, que cogitava parcelar os pagamentos e teria tentado contrair um empréstimo consignado.

Diante dos diálogos identificados, restou claro que o investigado TENENTE PORTELA atuou de forma direta na solicitação e arrecadação de recursos financeiros entre apoiadores do plano de ruptura do Estado democrático de Direito.
Polícia Federal, em relatório

O UOL procurou o tenente, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

"Amigo próximo" de Bolsonaro

Portela e Bolsonaro serviram juntos no Mato Grosso do Sul. "APARACIDO PORTELA é amigo próximo de JAIR BOLSONARO desde o período em que ambos serviram na cidade de Nioaque (MS), na década de 70", segundo o relatório.

Ele também visitava Bolsonaro no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência. "De acordo com os registros de entrada e saída de pessoas no Palácio (...), o investigado TENENTE PORTELA realizou ao menos 13 (treze) visitas no mês de dezembro de 2022 ao então presidente JAIR BOLSONARO, o que evidencia a proximidade de ambos."

A relação entre os dois aproximou Portela do Senado. Presidente do PL de Mato Grosso do Sul, Portela "foi indicado pelo ex-presidente para ser suplente da senadora TEREZA CRISTINA [PP-MS]" na última eleição, afirma o relatório.

Apoio logístico

Manifestação de apoiadores de Bolsonaro em frente a quartel do Exército
Manifestação de apoiadores de Bolsonaro em frente a quartel do Exército Imagem: Tércio Teixeira/AFP
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Além do apoio financeiro, os manifestantes receberam material e ajuda logística de diversos grupos, de acordo com a investigação. Preso na semana passada sob suspeita de imprimir o plano "Punhal Verde Amarelo", para matar Lula (PT), o general Mario Fernandes seria o elo entre o governo e a coordenação das manifestações, diz a PF. Fernandes era o número dois da Secretaria-Geral da Presidência e chegou a assumir a pasta interinamente.

O general mantinha contato direto com um caminhoneiro que liderava parte dos manifestantes. "O objetivo era pressionar o Alto Comando do Exército a mudar sua postura legalista e aderir ao golpe de Estado", escreve a polícia.

Fernandes também intermediava apoio material para os acampamentos, diz a PF. Ele recebeu, por exemplo, uma solicitação para entregar uma tenda no QG do Exército em Brasília. "Inclusive com indicativos de que passava orientações de como proceder, e ainda fornecia suporte material e/ou financeiro para os turbadores antidemocráticos", diz o relatório.

Apesar de fornecer informações sobre o financiamento, a PF não detalha a origem dos recursos. Também não informa a identidade dos principais financiadores ou os mecanismos utilizados para repassar o dinheiro.

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