PF: Ramagem municiou golpistas e Bolsonaro com estratégia contra urnas
A Polícia Federal aponta o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) como um dos responsáveis pela estratégia de ataque às urnas eletrônicas durante a eleição de 2022. Na época, ele era diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O que aconteceu
PF indiciou o parlamentar, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 35 pessoas por tentativa de golpe. Na eleição de 2024, ele perdeu a Prefeitura do Rio para o atual mandatário, Eduardo Paes (PSD), que foi reeleito em primeiro turno.
Ramagem também foi alvo da PF em janeiro de 2024. Na ocasião, os investigadores apuravam o esquema da "Abin Paralela". Ele chegou a depor sobre o caso em julho deste ano por sete horas. A PF encontrou um áudio em que ele combinava uma estratégia de defesa para Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em um processo sobre rachadinha quando ele era deputado estadual no Rio.
Ramagem integrou "núcleo de inteligência paralela". Segundo o relatório da PF, havia uma divisão de tarefas estabelecida pela organização criminosa. O deputado federal integrava o núcleo de inteligência paralela junto com Marcelo Câmara (então assessor de Bolsonaro), Mauro Cid (ajudante de ordens da Presidência), além de servidores da Abin. "O grupo desenvolveu diversas ações clandestinas, utilizando, de forma ilícita, órgãos do Estado brasileiro, com a finalidade de consumar o golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder", diz o relatório.
Ramagem não comenta. Procurado pela reportagem, o deputado federal não falou sobre as acusações nem sobre o indiciamento pela PF.
"Abin Paralela" produzia informações falsas sobre o processo eleitoral. De acordo com os investigadores, Ramagem integrou a chamada "Abin Paralela", órgão extraoficial que produzia informações falsas sobre o processo eleitoral e sobre os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disseminando essas informações para influenciadores digitais alinhados a Bolsonaro.
Influenciadores ampliavam mensagens. Segundo o relatório, os influenciadores usavam suas redes sociais para estimular ações violentas e incitar a população a manter as manifestações em frente a estabelecimentos militares.
Ação resultou em violência. Para os investigadores, o discurso contra a democracia instigou atos de violência como o ataque ao prédio da PF e um plano para matar o ministro Alexandre de Moraes. "Nesse contexto, elementos de prova identificaram uma atuação coordenada entre os investigados e indivíduos que atuaram na tentativa de explosão de um caminhão-tanque nas proximidades do aeroporto de Brasília e na tentativa de invasão do edifício-sede da Polícia Federal também na capital federal", prossegue o relatório da PF.
Email de Ramagem foi usado em documento golpista. De acordo com os investigadores, um email vinculado ao deputado foi usado em julho de 2021 para modificar o arquivo "Presidente TSE informa.docx''. Dois dias depois, Bolsonaro fez uma live atacando o TSE e as urnas eletrônicas. "O conteúdo do aludido arquivo contém alegações de fraude no processo eleitoral de 2018, ataques à credibilidade das urnas eletrônicas e ao Supremo Tribunal Federal, bem como orientações sobre a estratégia a ser adotada pelo então presidente da República", informa o relatório.
Conversas com Bolsonaro. O relatório cita também mensagens enviadas pelo ex-diretor da Abin ao então presidente Bolsonaro, nas quais "foram identificadas diversas medidas de natureza ilícita possivelmente discutidas por Ramagem com o então chefe do Poder Executivo".
Para investigadores, Ramagem queria que Bolsonaro interferisse no trabalho da PF no STF. De acordo com o relatório, o contexto das mensagens mostra que Ramagem incentivou Bolsonaro a interferir na administração da Polícia Federal para restringir a atuação funcional de delegados da Polícia Federal junto a inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal.
O encaminhamento repassado por Ramagem é de que todas as investigações fiquem sob o controle do diretor-geral do órgão, de forma que se tenha maior influência e poder sobre as apurações. Ramagem também indica que a Polícia Federal deveria questionar as decisões judiciais consideradas 'ilegais' ou 'inconstitucionais' que viessem do STF. As anotações foram produzidas entre os anos de 2020 a 2023, período contemporâneo a tramitação dos inquéritos 4.781/DF (Fake News) e 4.874/DF (Milícias Digitais), nos quais a Polícia Federal realizou várias medidas investigativas que resultaram na identificação de materialidade e autoria delitiva de diversos integrantes da organização criminosa.
Trecho do relatório da PF
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