Aécio quer PSDB mais ao centro e avalia fusão com outros partidos
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) agora é um dos principais articuladores tucanos na Câmara dos Deputados. Ele, que já foi candidato à presidência e governador de Minas Gerais por dois mandatos, vê o partido encolher e toma para si a responsabilidade de manter o PSDB expressivo. "Fomos os primeiros a reconhecer que perdemos muito", disse, em entrevista ao UOL.
Ciente de que sozinho o PSDB não consegue se manter na política brasileira, Aécio faz reuniões com lideranças de partidos que julga "mais ao centro", com a intenção inicial de ampliar a federação partidária.
Ainda este ano, Aécio diz que vai anunciar a ampliação da federação e, assim que a ideia estiver amadurecida, quer propor uma fusão entre os partidos PSDB, Cidadania e Solidariedade — algo similar com o que aconteceu com o União Brasil, a partir da fusão entre o Democratas e o PSL.
Para o deputado, os erros do partido começaram com a desistência da disputa pela presidência em 2022. "Na hora que uma candidatura que jamais foi viável do ex-governador João Dória, privilegia o projeto de poder de São Paulo e aí o partido se desvirtua e acaba se fragilizando muito", afirma.
No momento em que nós abdicamos da nossa responsabilidade de lançar uma candidatura à presidência da República nós caímos para 13 deputados e nós reconhecemos isso. E eu apontava isso à época, eu dizia que isso ia custar muito caro ao PSDB.
Deputado federal Aécio Neves (PSDB)
Fim do PSDB?
Parte do PSDB trocou o partido por outras siglas desde 2018 —seus principais destinos foram o PSD, o União ou até mesmo o PL. "Antes nós tínhamos mais de 30 parlamentares. Foram para 18 no momento em que nós abdicamos", relembra o parlamentar que busca por outros partidos para evitar o fim do PSDB.
O deputado confirmou ao UOL que o partido Solidariedade deve ampliar a federação PSDB-Cidadania, que no futuro pode resultar na fusão dos três partidos. O PDT também passou por negociações, mas o presidente do partido, Carlos Lupi, decidiu não continuar no projeto de criação de um novo partido. "Outros virão ao longo do próximo ano", diz Aécio.
Solitariamente é muito difícil para o PSDB e para qualquer partido político construir um projeto viável de Brasil. Temos sim, conversa do com outras forças políticas próximas ao centro, em busca de dar musculatura a esse projeto.
Por melhor que seja a nossa relação e minha relação pessoal com o presidente [Carlos] Lupi —que é meu amigo de uma vida inteira— o PDT está hoje extremamente vinculado ao projeto do PT. Ali existem afinidades históricas, que de alguma forma dificultam a construção de um projeto independente. Não é um projeto aliado ao que o lulopetismo significa, é o que nós sempre combatemos.
Temos que levar essas questões com muita cautela, porque é natural que existam alguns conflitos e nós temos que superá-los. O passo seguinte é, sim, a incorporação ou mesmo a fusão entre partidos.
O número de parlamentares não é um impeditivo para que o PSDB, com a sua história, com seus quadros, com os governadores que tem, passe a construir ou até mesmo liderar uma alternativa para o Brasil.
Mas nós, que ainda estamos no PSDB, acreditamos em primeiro lugar, que existe espaço para um partido de centro no Brasil. Não devemos ser medidos ou quantificados pelo número de prefeitos e vereadores, mas sim pelo que nós representamos e poucos partidos hoje se dispõe a construir um projeto de país.
Aécio Neves (PSDB)
"PSD não é PSDB"
"Eu vi essa semana uma declaração do meu amigo, hoje secretário de Estado de São Paulo e presidente do PSD, Gilberto Kassab, e da qual eu discordo profundamente", disse o deputado. Na declaração, feita em entrevista ao Nexo Jornal, Kassab comparou o atual eleitorado do PSD com o antigo eleitor do PSDB. Para Aécio, o PSDB tem um projeto político bem definido, e critica Kassab por apoiar diferentes espectros políticos "sem qualquer constrangimento" para aumentar presença no governo.
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Quero receberDiscordo de forma extremamente respeitosa. O PSDB goste ou não, forte ou fraco, sempre teve clareza de um projeto de oposição a esse projeto do PT, de distanciamento do bolsonarismo. E isso nos fez ter muitas dificuldades, inclusive, nessas últimas eleições.
Diferente da estratégia usada pelo PSD, que busca alianças com quaisquer governos para se fortalecer internamente. Com isso, aumenta o seu fundo eleitoral, aumenta a sua presença em governos, quaisquer que sejam eles.
É como acontece hoje com o Lula, de um lado, com um representante do Bolsonaro, que é o Tarcísio, do outro, sem qualquer constrangimento, mas é uma opção que talvez ele, até na sua lógica, possa se dizer um vitorioso, foi quem fez o maior número de prefeitos hoje. Essa não é a lógica que atende ao PSDB.
Lula "ultrapassado" para 2026
Em busca de alternativas "mais ao centro" para formar uma aliança para as eleições presidenciais, Aécio defende que os tucanos devem fazer oposição ao PT e pensar no governador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como uma possibilidade.
O DNA do PSDB é de oposição ao que o PT representa. É um governo ultrapassado em vigor, sem projetos estratégicos para o país.
Nós não somos uma oposição irracional. Nós somos oposição que conversa, com diálogo. Nós fizemos oposição ao PT a vida inteira —e uma oposição diferente, inclusive, da que o PT fez aos governos do PSDB. Contra FHC, com o Plano Real, contra a lei de responsabilidade fiscal, que são conquistas dos brasileiros.
Vamos conversar sem pré-condicionantes. Sem apoios prévios que não estão na hora de acontecer, mas quem sabe possamos construir um projeto que permita que o Brasil saia dessa polarização ineficiente, raivosa, inculta e que é rasa.
Eu vejo o governador Tarcísio, com quem converso, eventualmente muito mais amplo do que o Bolsonaro mesmo. Ele vai além do bolsonarismo. Ele tem um diálogo muito efetivo com as forças de centro, é de centro, e nós temos que estar dialogando.
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