Boulos: Manter Derrite é salvo-conduto de Tarcísio para ação violenta da PM

Em meio a denúncias de violência policial, em São Paulo, a manutenção de Guilherme Derrite na Secretaria da Segurança Pública significa uma espécie de salvo-conduto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para ação da Polícia Militar, afirmou o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), no UOL News, do Canal UOL, nesta quarta-feira (4).

Derrite deve ser demitido. Essa é a postura que o Tarcísio tem que ter. Mas, pelas declarações de Tarcísio, eu acho que não vai demiti-lo. E se ele não der esse gesto de demissão do secretário, o governador estará dando um salvo-conduto para esse tipo de ação. Guilherme Boulos

Dois casos ganharam repercussão apenas nas últimas 48 horas: no domingo (1º), Gabriel Renan da Silva Soares, sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, foi morto por um policial militar que estava de folga em frente ao mercado Oxxo, no Jardim Prudência, zona sul da capital paulista. No mesmo dia, outro agente foi gravado em vídeo arremessando um homem de uma ponte em uma abordagem, em Diadema, na Grande São Paulo. Neste caso, a vítima sobreviveu.

Eu acredito que, em qualquer lugar do mundo, uma cena como aquela que a gente viu ontem, de uma pessoa sendo arremessada de uma ponte por um policial em serviço, o secretário de Segurança já teria sido demitido no minuto seguinte.

Lamentavelmente, não é isso que tem acontecido, o exemplo está vindo de cima: quando o governador diz que 'não está nem aí', quando o secretário de segurança tem toda uma série de ódios na sua carreira policial mal esclarecidos e ele estimula a violência policial... E é isso que está acontecendo na gestão do Derrite. Me surpreende, inclusive, que a gente não tenha um movimento mais forte na sociedade paulista pela demissão do Derrite. Guilherme Boulos

Deputado diz que denúncias são casos isolados

Ainda durante o UOL News, o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) —aliado político do governador Tarcísio de Freitas— disse que as denúncias de abuso e violência policial cometida durante a gestão de Guilherme Derrite são considerados casos isolados.

Nós temos quase que 90 mil homens trabalhando nos 645 municípios [do estado], 24 horas por dia. Então, vocês imaginam a quantidade de intervenções que a Polícia Militar tem em todo o estado de São Paulo, o tempo todo. Nós estamos falando também de uma polícia que trabalha diretamente ligada com o combate a facções criminosas, que estão se fortalecendo e ramificando até por todos o interior paulista.

A Polícia Militar está altamente motivada no estado de São Paulo. O governador Tarcísio e o Derrite estão, sim, fazendo um excelente trabalho e conhece muito bem a área da segurança pública e não pode ser responsabilizado por atos isolados e errados. O que tem que ser analisado tem que ser averiguado é se essa questão do aumento da letalidade, se está embasada, se está justificada dentro da lei. Nós não temos compromisso nenhum com o erro. Capitão Augusto

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Assista ao comentário:

Tarcísio defende Derrite

Questionado sobre os casos de letalidade e abusos da PM, Tarcísio afirmou que Derrite faz um bom trabalho e respondeu que sim: "Olhe os números. Você vai ver que está". Ele foi questionado por jornalistas na Câmara dos Deputados, em Brasília, onde recebeu uma homenagem na manhã desta quarta.

O governador, porém, não explicou quais números comprovariam o bom trabalho do secretário. Um repórter insistiu no tema e Tarcísio respondeu: "olhe as estatísticas", mas não deu detalhes. Ele também foi perguntado se pretende substituir Derrite após os casos de violência da PM, mas não respondeu.

Secretário repreende casos de violência

Os crimes que acabaram na morte de homem negro e com homem sendo jogado de ponte foram chamados de "condutas antiprofissionais" pelo secretário. "Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro", afirmou Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública de São Paulo, em publicação na rede social X nesta terça (3).

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Derrite também mencionou "severa punição" ao falar que encaminhou PMs envolvidos em ação para trabalho administrativo. Em vídeo publicado nas redes, ele afirmou que os PMs envolvidos em um caso de um homem arremessado de uma ponte em Carapicuíba vão cumprir expediente na corregedoria até o fim das investigações.

Mortes em ações policiais aumenta

A PM matou 474 pessoas durante ações policiais no estado de São Paulo de janeiro a setembro deste ano. Os dados foram contabilizados pela própria Secretaria de Segurança.

A maioria dos alvos (64%) é formada por pessoas negras (255 pardos e 51 pretos). Ainda há 143 vítimas identificadas como brancas, enquanto as outras 25 pessoas não tiveram a cor da pele registrada.

O levantamento feito pelo UOL mostra ainda que 99% das vítimas são homens, como o estudante Marco Aurélio Cardenas Acosta. A capital paulista lidera a lista de mortos com 122 casos, seguida de Santos, com 36, e São Vicente, 29.

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