Chegava então o momento do debate no G7 em Biarritz sobre a crise e, em seguida, o anúncio do pacote. Mas o ambiente uma vez estava contaminado.
Na noite anterior, o presidente havia chancelado um comentário de um internauta que zombava da primeira-dama da França e a vulgaridade do governo passou a fazer parte dos debates.
Mas Piñera, 8.000 quilômetros de distância dali, continuava a trabalhar por um acordo: queria garantias de que todos estavam no mesmo tom conciliador.
Antes mesmo de o encontro começar, Piñera trataria da situação com Merkel. O assunto ainda fez parte de encontros do secretário-geral da ONU, António Guterres, e do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Enquanto isso, o Brasil aguardava por notícias, já insinuando nos bastidores que o assunto estaria perdendo força diante da ação do Chile e da recusa do governo de Trump de sequer participar da reunião dedicada ao clima no G7.
De seu gabinete, o chanceler Ernesto Araújo decretou uma ordem para que todos os embaixadores brasileiros pela Europa suspendessem suas férias e voltassem imediatamente aos postos nas capitais do Velho Continente. Em pleno mês de férias de verão na Europa, a crise pegou diversas embaixadas semivazias.
Macron: 'Que os brasileiros tenham logo um presidente à altura do cargo'
Quando a reunião do G7 começou, ficaria claro que os países anunciaram um pacote de ajuda imediato. Mas também seria estabelecido que a questão estrutural da preservação da floresta seria deixada para uma reunião na ONU, no próximo mês. O Chile ficaria com o papel de coordenador dessa gestão e Piñera subiria ao palco ao lado de Macron para, numa conferência de imprensa, colocar fim à crise.
"Estamos muito contentes por termos chegado a um acordo com os países amazônicos, Brasil, Peru, Bolívia, Paraguai e muito mais, e com o G7, para colaborar com os países amazônicos para combater os incêndios", anunciou o chileno, com orgulho.
Mas aquele não era o fim da crise. Macron, saindo do script, insinuou que o dinheiro e as ações poderiam ser tomadas ao lado de ONGs europeias, deixando o governo brasileiro desconfiado de que o plano não era o mesmo que havia ouvido de Piñera.
O que fez o copo transbordar, porém, foi a insinuação do presidente da França de que o "status internacional" da Amazônia continuava sobre a mesa, uma linha vermelha que a diplomacia brasileira e que militares jamais aceitaram debater.
Não ajudou em nada o fato de que Macron sugeriu aos brasileiros mudar de presidente e de qualificar como "triste" o comportamento de Bolsonaro em relação à sua mulher.
E a crise que parecia resolvida ganhava nova força. Já na madrugada de terça-feira, na Europa, o Brasil anunciaria que não receberia o dinheiro da ajuda. Salvo se houvesse um pedido de desculpas por parte de Macron.
A crise ambiental havia se transformado numa crise diplomática, com um incêndio que poucos ousam prever quando poderá ser resolvido.