Amazônia gera série de farpas trocadas entre Bolsonaro e Macron; entenda
Os intensos incêndios que afetam a região amazônica provocaram uma escalada na tensão entre as declarações trocadas por Jair Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron.
O francês incomodou Bolsonaro após convocar os líderes das sete maiores potências mundiais, que estão reunidos no G7, em Biarritz, na França, para discutir o que chamou de "crise internacional", na última quinta-feira, se referindo aos incêndios.
Macron levou ao encontro diversas questões relacionadas ao meio ambiente, mas considerou de "primeira ordem" discutir a Amazônia. Após as críticas, Bolsonaro rebateu os comentários e passou a divulgar as ações adotadas pelo governo brasileiro. Veja a seguir um resumo da troca de farpas entre os dois chefes de Estado:
22 de agosto: "crise internacional"
Horas depois do tuíte em que Emmanuel Macron denuncia os incêndios na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro respondeu ao francês afirmando que as críticas às políticas de combate às queimadas tinham como objetivo obter "ganhos políticos pessoais".
Bolsonaro disse ainda que a "sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI".
23 de agosto: "Bolsonaro é mentiroso"
No dia seguinte o clima voltou a esquentar. Macron disse que Bolsonaro mentiu sobre metas ambientais assumidas por ele durante a reunião do G-20 no Japão, quando falou sobre o comprometimento do governo brasileiro com a preservação do meio ambiente.
A retaliação apresentada pelo francês foi a possível oposição da França à ratificação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.
Um dos requisitos para a formalização do acordo é que os países que pertencem ao bloco sul-americano cumpram seus compromissos ambientais.
Em resposta, Bolsonaro disse que lamenta a posição do presidente francês de chamá-lo de mentiroso, e provocou, dizendo que "não somos nós que divulgamos fotos do século passado para potencializar o ódio contra o Brasil por mera vaidade", se referindo à foto publicada por Macron no dia anterior, que de fato não é atual. Ela pertence ao fotógrafo Loren McIntyre, que era um explorador da região e morreu em 2003, nos EUA.
No mesmo dia, o presidente dos EUA, Donald Trump, publicou em seu Twitter uma mensagem se solidarizando com a situação da floresta amazônica, e se colocou à disposição para ajudar a combater os focos de incêndio. Além de Trump, Bolsonaro disse que em diálogos com os presidentes do Equador, do Chile, da Argentina e da Espanha, todos ofereceram ajuda ao Brasil
24 de agosto: "A Amazônia é o nosso bem comum"
Já durante o G7, o presidente francês publicou um vídeo em sua rede social dizendo que gostaria que o encontro servisse para responder ao "chamado da floresta que hoje queima na Amazônia".
"A Amazônia é o nosso bem comum. Nós estamos todos preocupados". Ele completou dizendo que a França está ainda mais preocupada do que os demais líderes presentes, visto que a Guiana Francesa, país ao norte da América do Sul, também tem sua parcela no bioma amazônico.
Logo após a declaração, o perfil da Secretaria de Comunicação da Presidência da República publicou, na página de Macron, o pronunciamento oficial de Bolsonaro feito em rede nacional.
Entre o anúncio das medidas tomadas para a contenção dos incêndios e do desmatamento ilegal, o presidente reafirmou a soberania do Brasil. "Incêndios florestais existem em todo mundo e isso não pode servir de pretexto para possíveis sanções internacionais", concluiu.
Ainda no sábado, o clima voltou a esquentar após Bolsonaro concordar com uma imagem publicada por um seguidor, ironizando a primeira-dama francesa, Brigitte Macron. A postagem dá a entender que Macron estaria criticando a política de combate aos incêndios do governo brasileiro por "inveja", pois Michelle Bolsonaro supostamente seria mais bonita do que sua esposa.
25 de agosto: "Brasil é um país que recupera sua credibilidade"
Na manhã de domingo, Bolsonaro publicou em seu Twitter um vídeo em que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, durante a discussão sobre a Amazônia, afirma que na semana seguinte fará uma ligação para o presidente Jair Bolsonaro, como um sinal de que os líderes não estão contra ele. No vídeo Macron questiona Merkel. "Quem?", ele diz. Ela responde: "Bolsonaro".
No mesmo tuíte, Bolsonaro comemora a recuperação da credibilidade do Brasil e critica a crise colocada por Macron. "Meu muito obrigado a dezenas de chefes de estado que me ouviram e nos ajudaram a superar uma crise que só interessava aos que querem enfraquecer o Brasil!", diz.
26 de agosto: "Extraordinariamente desrespeitoso"
Foi somente na manhã de segunda-feira que Macron rebateu o comentário feito a respeito de sua esposa. Durante uma entrevista coletiva em Biarritz, sede do G7 nesta edição, ele classifica Bolsonaro como alguém "extraordinariamente desrespeitoso". O francês disse ainda que crê que as mulheres brasileiras têm, sem dúvida, vergonha de ler isso do seu presidente.
"Como tenho uma grande amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que eles rapidamente tenham um presidente que se comporte à altura", completou.
Sem comentar sobre o episódio anterior, Bolsonaro escreveu em um tuíte que o Brasil não pode aceitar ataques "descabidos e gratuitos à Amazônia" vindos de Macron,"nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma 'aliança' dos países do G-7 para 'salvar' a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém".
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