Vacina Versamune: o que se sabe sobre imunizante anunciado pelo governo federal
Além de Astrazeneca/Fiocruz, Janssen, Pfizer e Coronavac, os brasileiros podem incluir em breve mais um nome à lista de vacinas contra a covid-19 sendo testadas no país: a Versamune-CoV-2FC, um projeto da farmacêutica brasileira Farmacore e da americana PDS Biotechnology.
A vacina também foi chamada de MCTI BR pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), mostrando que ela é uma aposta da pasta.
Em entrevista coletiva na sexta-feira (26/3), o ministro Marcos Pontes afirmou que, das 15 linhas de pesquisa com vacinas que receberam apoio do governo federal desde o ano passado, a Versamune-CoV-2FC foi a que mais avançou, chegando agora à etapa de solicitar autorização para testes em humanos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou nesta sexta-feira ter recebido o pedido de autorização para a realização das fases 1 e 2 dos testes, e analisará dados de segurança dos experimentos já realizados em laboratório, além de previsões sobre número de participantes e outras informações que constam no projeto. A Anvisa não definiu quando sairá o resultado de sua análise.
Horas antes, o Instituto Butantan também anunciou que pretende começar testes clínicos com a Butanvac; e o laboratório União Química abriu uma solicitação na Anvisa para uso emergencial da vacina Sputnkik V, desenvolvida na Rússia.
Mas agora, vamos à Versamune-CoV-2FC.
Quais são os próximos passos até a vacina chegar à população?
Segundo o ministro Pontes, as fases 1 e 2 devem envolver cerca de 360 voluntários. Em linhas gerais, essas fases avaliam a segurança e a dosagem de um tratamento; depois, na fase 3, é demonstrada a eficácia em um volume maior de pessoas. De acordo com Pontes, espera-se que a fase 3 com a Versamune-CoV-2FC inclua de 20 mil a 30 mil pessoas.
Fundador e consultor científico da Farmacore, Celio Lopes Silva, também professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), disse à BBC News Brasil que sua equipe pretende executar as fases 1 e 2 até agosto e, em seguida, tocar a fase 3 até novembro, se tudo correr bem com a Anvisa.
Ainda de acordo com Silva, nas primeiras etapas os voluntários serão indivíduos sadios com pouco ou nenhum contato com o vírus. Na terceira fase, o perfil será mais diverso.
Como funciona a vacina?
Celio Lopes Silva explicou que a vacina em estudo junta o que se chama de proteína recombinante a um carreador.
A proteína recombinante vem de um pedaço do vírus manipulado em laboratório que, ao entrar no nosso corpo em uma quantidade segura, gera uma resposta do sistema imunológico que acaba por nos proteger. O médico explica que, na Versamune-CoV-2FC, a origem está na proteína S, especificamente a subunidade S1. A proteína S, ou spike, na superfície do vírus, é uma espécie de chave que se conecta às células humanas e inicia a infecção.
Essa proteína é somada a um carreador, uma nanopartícula de natureza lipídica que funciona como um veículo para carregar a proteína recombinante, fazer esta combinação circular pelo corpo e impulsionar a ação dos linfócitos T.
Nos chamados testes pré-clinicos, com cobaias, a combinação apresentou ótimos resultados, segundo Silva.
"Este composto é injetado no sistema linfático e logo chega às células do sistema imune. Vimos que ele ativa todo o sistema imune: a imunidade inata, aumenta a produção do interferon tipo I, ativa células NK e células dendríticas... E o mais importante: ativa a produção de anticorpos neutralizantes que impedem o vírus de entrar nas células, além de ativar linfócitos T que matam todas as células infectadas pelo SARS-CoV-2", explicou Silva, especialistas em imunobiológicos.
Vacinas como essa são consideradas de segunda geração pois usam tecnologias mais recentes do que as de primeira ? as do tipo vírus inativado, em que o vírus "inteiro", e não seu pedaço ou material genético, é usado no imunizante.
De acordo com o professor da USP, a vacina deve ser apresentada em duas doses e não exige refrigeração mais baixa do que o fornecido por uma geladeira ? um facilitador logístico. A previsão é que ela seja totalmente produzida no Brasil, mas o nome do fabricante, em negociação, ainda não foi revelado.
Tampouco há, até o momento, alguma publicação ou previsão de divulgação de resultados em algum artigo científico.
Como tem sido o trabalho com a empresa americana e o governo brasileiro?
O fundador da Farmacore explica que a parceria com a americana PDS Biotechnology vem de um projeto anterior ao coronavírus ? o de uma vacina contra a tuberculose. O carreador usado em ambas é patenteado pela PDS Biotechnology e chamado de Versamune.
"Para a vacina contra o coronavírus, usamos uma tecnologia que já estava em desenvolvimento, mas trocamos o antígeno da tuberculose", explica Silva.
Em um comunicado de 11 de março, a PDS, que se define como uma empresa focada em tratamentos contra o câncer e doenças infecciosas, afirmou que o consórcio com a Farmacore recebeu aporte no valor de US$ 60 milhões (cerca de R$ 345 milhões) do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil (MCTI), com a finalidade de desenvolver e comercializar a vacina contra a covid-19.
"A maior parte do capital fornecido pelo MCTI financiará o crescimento da escala no processo de fabricação, a produção e a fase 3 de testes", diz o comunicado, publicado em inglês.
"A Secretaria de Pesquisa e Formação Científica do MCTI se comprometeu a fazer todo o esforço para financiar todas as etapas clínicas e de desenvolvimento do projeto."
O texto divulgado pela PDS Biotechnology menciona ainda a participação da farmacêutica brasileira Blanver.
Um outro comunicado, da Farmacore, registrou que os envolvidos no projeto da Versamune-CoV-2FC tiveram reuniões na Anvisa ainda em novembro de 2020.
*Colaboraram André Biernath e Rafael Barifouse, da BBC News Brasil em São Paulo.
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