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Brasil importa bactéria capaz de bloquear o vírus da dengue; testes começam em maio de 2014

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

24/09/2012 17h30Atualizada em 24/09/2012 18h09

A bactéria Wolbachia é a nova aposta da Fundação Oswaldo Cruz e do governo federal para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti. A tecnologia de combate à doença já está em fase laboratorial no Rio de Janeiro e em Minas Gerais através do projeto "Eliminar a Dengue: Desafio Brasil". Os pesquisadores pretendem iniciar os testes de campo em maio de 2014.

O projeto, que teve início na Austrália, em 2005, e tem atividades em cinco países, se dá a partir de uma técnica de microinjeção de embriões, pela qual uma cêpa da Wolbachia, originária da mosca Drosophila, é introduzida no Aedes aegypti. Dessa forma, a bactéria se espalha na medida em que os mosquitos se reproduzem, anulando a transmissão dos quatro sorotipos da doença.

O vírus passa a competir com a Wolbachia pelos mesmos nutrientes fundamentais, atuando como uma espécie de vacina. De acordo com os responsáveis pela pesquisa, não há possibilidade de a bactéria passar pelo duto salivar do inseto, pois esta é quase dez vezes maior --garantindo assim a eficácia da técnica.

A Wolbachia também é capaz de encurtar a expectativa de vida do Aedes aegypti, o que acelera o processo de seleção da espécie --os mosquitos que não possuem a bactéria vão sendo "substituídos" na medida em que apenas os óvulos cujos embriões têm a Wolbachia são produzidos. Em média, um mosquito que viveria por cerca de 30 dias teria sua expectativa de vida reduzida em pelo menos 50%.

No Brasil, o período de experiência com mosquitos em cativeiro deve ter início em 2013, com um procedimento chamado pelos pesquisadores de "gaiolão". Os responsáveis pelo projeto já estudam quais serão os passos no sentido de obter a aprovação dos organismos de regulamentação, tais como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) --ainda não há uma definição sobre quais órgãos serão consultados.

No ano seguinte, os pesquisadores vão selecionar as localidades nas quais a técnica será testada --pelo menos 30 comunidades no Rio de Janeiro já foram previamente estudadas. Os moradores serão consultados e terão de assinar termos de responsabilidade para que haja, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, um "engajamento comunitário".

Segundo os pesquisadores, a técnica funciona de "forma natural e autossustentável", e já foi capaz de, em apenas três meses, bloquear totalmente a disseminação do vírus em duas comunidades australianas.

A versão brasileira do projeto integra o esforço internacional sem fins lucrativos do programa "Eliminate Dengue: Our Challenge", liderado pela Universidade de Monash, em Melbourne, na Austrália, e representado no país pela Fundação Oswaldo Cruz.

Naturalmente presente em cerca de 70% dos insetos no mundo, a Wolbachia é uma bactéria intracelular que não oferece qualquer risco para a saúde humana ou para o ambiente. Ela é encontrada nas células de insetos como moscas de fruta, mariposas, entre outros artrópodes e nematóides.