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Instituto detecta coliformes fecais em amostras de queijo minas

Alguns queijos analisados pelo Idec têm muito mais gorduras do que declaram no rótulo, e das nove marcas que se dizem light, oito não são - Douglas Lambert/Folhapress
Alguns queijos analisados pelo Idec têm muito mais gorduras do que declaram no rótulo, e das nove marcas que se dizem light, oito não são Imagem: Douglas Lambert/Folhapress

Do UOL

Em São Paulo

04/04/2013 15h57Atualizada em 04/04/2013 18h56

Uma pesquisa divulgada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) nesta quinta-feira (4) mostra que diversas marcas de queijo minas frescal existentes no mercado são mais gordurosos e têm menos proteínas do que declaram no rótulo. Além disso, alguns produtos apresentam quantidade de coliformes fecais acima do limite permitido, o que representa uma ameaça à saúde.

A análise foi feita entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013. Foram avaliadas em laboratório 25 amostras de queijos de 15 marcas: Almeida, Almeida Light, Cana do Reino, Cascata, Cascata Light, Cristina, Cristina Light, Cruzília, Dia, Dia Light, Fazenda Bela Vista, Ipanema, Ipanema Light, Montesanina, Puríssimo, Puríssimo Light, Quatá, Quatá Light, Santa Clara 85%, Santa Clara SanBios, Santiago, Santiago Light,  Tirolez, Tirolez Light e Vernizzi.

O Idec encontrou coliformes fecais acima do limite permitido em queijos de cinco marcas: Almeida, Almeida Light, Cascata, Santiago Light e Verinizzi. Para a pesquisadora e nutricionista do Idec Ana Paula Bortoletto, apesar de nenhum outro micro-organismo (patogênico ou não) ter sido detectado, o nível de contaminação por coliformes de origem fecal foi alto. O limite estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é de até 500 UFC (Unidades Formadoras de Colônia). As cinco marcas tinham quantidade dez vezes maior.

A intoxicação alimentar causada pelos coliformes fecais pode causar diarreia (às vezes com sangue), vômito, dor de estômago, gases, dor abdominal e até infecção urinária ou nos rins. Quanto mais pedaços do lácteo forem ingeridos, maiores as chances de quem comeu passar mal. "Além disso, crianças, idosos e pessoas com baixa resistência imunológica (pacientes com câncer ou portadores de HIV, por exemplo) são mais vulneráveis a esses efeitos", informa o comunicado do Idec.

Rótulos incorretos

O teste também verificou a quantidade dos principais nutrientes presentes nesse tipo de queijo: proteínas, gorduras (totais, saturadas, insaturadas e trans), cálcio e sódio. Os valores detectados foram comparados com os declarados na tabela nutricional presente na embalagem dos produtos.

A conclusão foi que as empresas informam incorretamente a quantidade de nutrientes no rótulo. Alguns têm muito mais gorduras do que declaram, e das nove marcas que se dizem light, oito não são.

As maiores variações entre o valor do rótulo e o real foram identificadas nos queijos light.  O pior caso foi o do Dia Light, que tem 932% a mais de gorduras totais em relação ao que é declarado na embalagem. Quase 10 vezes mais. O rótulo informa que uma porção de 30 g do alimento tem apenas 0,5 g desse nutriente, mas, na verdade, contém 5,16 g.

No geral, os produtos apresentam discrepância em mais de um nutriente. O queijo Santiago Light, por exemplo, informa valores muito diferentes do que realmente tem em sua composição para gorduras totais, saturadas e insaturadas, e também para sódio.

Quando se trata de proteínas, o problema é generalizado e afeta tanto os light quanto os integrais: em 19 das 25 amostras a quantidade real do nutriente é menor que a informada no rótulo.

Light?

Os queijos Puríssimo Light e Santiago Light vão além: o teste identificou que o teor de gorduras totais deles é maior que o dos produtos convencionais da mesma marca. A versão light da marca Puríssimo tem 9,1% mais gorduras totais que o integral; no caso dos queijos Santiago, a diferença é de 0,6% a favor do integral.

O Dia light contém praticamente a mesma quantidade de gorduras totais que seu similar integral: o primeiro tem 5,16 g de gorduras totais por porção, e o segundo, 5,30 g. “O consumidor é enganado porque pensa que está comprando um alimento mais saudável, mas que, na verdade, não é”, destaca Ana Paula.

Para a Anvisa, apesar da quantidade limitada de queijos testados, chama a atenção a alta incidência de amostras com problemas. De acordo com o órgão regulador, a legislação sanitária não exige que os fabricantes apresentem laudos que atestem a composição físico-química dos alimentos, mas eles são responsáveis pela qualidade dos produtos que ofertam, bem como pelas informações veiculadas nos mesmos.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vai analisar o resultado do teste realizado pelo Idec e solicitar que os órgãos estaduais fiscalizem as empresas envolvidas.

Segundo a divisão de leite e derivados do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Mapa, os fabricantes devem fazer análises microbiológicas frequentes para atestar a qualidade de seus produtos. O órgão de inspeção estadual coleta periodicamente amostras dos alimentos para verificar se o controle feito pela empresa está adequado. Se for constatado problema, o governo exige o recolhimento dos produtos, multa a empresa e, dependendo da gravidade da falha, suspende a produção.

Respostas das empresas

Em relação à análise nutricional e rótulo, as empresas responsáveis pelas marcas Cruzília, Fazenda Bela Vista e Vernizzi alegaram que seus produtos estão de acordo com as normas de rotulagem, pois a RDC nº 360/2003 da Anvisa estabelece tolerância de 20% para mais ou para menos dos teores declarados no rótulo. Elas disseram também que a quantidade de gorduras insaturadas não deveria ser questionada pelo Idec porque sua declaração não é obrigatória.

A responsável pela marca Cristina Light informou que encaminhou amostras do produto para análise e que, se for comprovado que a rotulagem nutricional está incorreta, tomará providências imediatas para sua adequação.

A Tirolez, além de também defender que a tolerância para o teor de nutrientes declarado no rótulo é para mais ou para menos, justificou que a variação de gorduras saturadas no queijo convencional da marca deve-se à perda de soro decorrente de mudanças na temperatura de refrigeração do produto. Quanto à discrepância no teor de gorduras totais, saturadas e insaturadas na versão light, disse que os resultados do teste do Idec não condizem com o histórico da empresa, que faz análises periódicas, e enviou laudos de maio de 2011 e outubro de 2012.

A responsável pela marca Dia Light avisou que notificou todos os funcionários envolvidos, que solicitou ao Serviço de Inspeção Federal a análise do produto e que adotará todas as medidas necessárias para que o fato não volte a ocorrer.

As donas das marcas Cana do Reino, Puríssimo e Purríssimo Light disseram que vão alterar o rótulo.

A responsável pelas marcas Almeida e Almeida Light afirmou que desde janeiro deste ano substituiu a empresa terceirizada que produz os queijos, pois já havia identificado problemas no processo de fabricação.

Em relação à análise microbiológica, que detectou coliformes fecais, uma empresa responsável por duas marcas reprovadas (Santiago Light e Cascata) não respondeu até o fechamento do texto divulgado pelo Idec.

A Vernizzi disse que o número de amostras analisadas deveria ser de pelo menos cinco e questionou sobre a temperatura de armazenamento no ponto de venda e no transporte das amostras até o laboratório, argumentando que o produto, por ter alta umidade e sofrer muita manipulação, está sujeito a uma série de contaminações.