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O efeito do amor é similar ao de drogas? Veja mitos e verdades

Noelle Marques

Do UOL, em São Paulo

12/06/2015 09h52

"Eu sentia calafrios e o coração acelerado antes mesmo de termos ficado. Depois veio a ansiedade toda vez que íamos nos ver". A relações públicas Marina Machado, 27, teve um início de paixão um pouco conturbado. Não pelo relacionamento em si, mas pelo que sentiu quando se apaixonou por seu namorado. Ela também conta que chegou a parar de comer uma vez, mas só quando o casal ficou uns dias sem se ver.

Ao se apaixonar, muitas pessoas relatam um nervosismo muito grande, uma ansiedade para ver a pessoa e sensações como dificuldades para respirar, falta de apetite, aumento na pressão arterial e até efeitos similares ao de uso de drogas. Mas será que o amor é capaz de afetar a saúde desta forma?

Segundo a coordenadora do programa de estudos em sexualidade da USP, Carmita Abdo, a sensação de quando a pessoa se apaixona pode sim ser parecida com a do uso das drogas, pois há uma liberação de neurotransmissores que torna a pessoa mais excitável, atenta e energizada. O apetite também pode ser afetado nesta fase. "Nós vemos frequentemente pessoas muito apaixonadas que se esquecem de comer e se sentem saciadas por aquela situação. E isso tem relação com o estado de alerta muito grande, que acaba inclusive consumindo as reservas do organismo, fazendo até a pessoa emagrecer. Mas isto é passageiro, já que o estado de paixão não dura para sempre", explica Abdo.

A paixão varia de pessoas para pessoa, podendo durar semanas ou meses. Mas ninguém passa a vida inteira apaixonada por uma pessoa na mesma intensidade. De acordo com Abdo, depois que o indivíduo vive o êxtase da paixão, o sentimento pode desaparecer ou se transformar em afeto, por conta da descarga da substância ocitocina no cérebro. Neste outro estágio, os ânimos e sensações tendem a se acalmar, já que o amor é um sentimento menos desgastante. Segundo Jairo Bouer, psiquiatra e blogueiro do UOL, o mais comum é que a pessoa sinta uma inquietação e ansiedade muito grande nas fases iniciais da paixão, mas isso tende a melhorar com o tempo e com a intimidade.

E as mudanças não param por aí. Quando alguém se apaixona, há também alteração no hormônio. Quem define a motivação sexual tanto de homens quanto de mulheres é a testosterona, liberada em maior quantidade em um primeiro momento. Abdo explica também que quando há uma vinculação entre o casal, há a liberação de ocitocina pela mulher e de vasopressina pelo homem. Ambas substâncias, que são hormonais, têm o mesmo efeito no organismo e são produzidas no momento que o casal passa pelo período de querer ficar junto.

O beijo e o abraço aliviam a ansiedade, e o sexo, quando feito de forma satisfatória, desenvolve melhor a imunidade, pois as sensações de bem-estar, leveza, satisfação e prazer acabam revertendo em maior proteção imunológica.

Machado, que sofreu um pouco com as sensações do início do namoro, diz que o amor só trouxe coisas boas. "Acredito que ele eleva o estado de espírito, nos deixa mais feliz, melhora humor e até a pele", conclui.