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Médica que ligou zika à microcefalia diz que existem casos não notificados

Xinhua/Rahel Patrasso
Imagem: Xinhua/Rahel Patrasso

Cristiane Capuchinho

Do UOL, no Rio

08/11/2016 18h50

A primeira médica a ter relacionado o vírus da zika ao nascimento de crianças com microcefalia no Nordeste brasileiro tem um medo: de que haja muito mais casos de crianças nascidas com síndrome congênita da zika que não estão sendo relatadas pelos médicos.

"Eu acho que o que temos é uma subnotificação de casos porque a maioria dos Estados está notificando só aquilo que se pode ver com uma fita métrica", avisa Adriana Melo, de Campina Grande (PB).

A síndrome congênita da zika já foi relatada em crianças nascidas com o crânio menor do que o esperado, mas também em bebês com crânio de tamanho normal. Nesses casos, o vírus atacou o sistema nervoso central infantil provocando, por exemplo, calcificações no tecido cerebral, hidrocefalia, problemas nos olhos, nos ouvidos e nas articulações e até membros com má-formação.

Desde o início do ano, a orientação do Ministério da Saúde é que sejam notificados como casos suspeitos de microcefalia meninas que nascerem com o perímetro cefálico menor que 31,5 centímetros e meninos com menos que 31,9 centímetros, além de casos com outras alterações do sistema nervoso.

Até o momento, o ministério notificou 2.079 casos de crianças nascidas com alterações no sistema nervoso central por conta do zika. A maior parte deles no Nordeste.

Cérebro ‘normal’ com calcificação

 

Entre os casos apresentados no Rio de Janeiro durante um simpósio internacional de zika, está o de uma criança nascida com o crânio e mesmo o cérebro do tamanho esperado para sua idade de uma gestante que teve zika.

A criança, nascida em Niterói, chamou a atenção por ter o encéfalo normal com medidas e peso considerada adequados em uma primeira análise, mas tem importantes calcificações no tecido cerebral, explicou Leila Chimelli, pesquisadora do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer.

Até então, o que se via eram crianças que poderiam ter o crânio do tamanho normal, mas que sempre tinham o cérebro com massa reduzida, às vezes com grande quantidade de líquido no lugar da massa cerebral.

De acordo com as pesquisadoras, o que se percebe até o momento é que os fetos que foram atingidos pelo vírus da zika entre o primeiro e o segundo trimestre da gravidez tiveram problemas no desenvolvimento do cérebro mais claros. No entanto, ainda não se sabe até que momento a infecção pelo vírus da zika pode passar da mãe para o bebê.

No caso de Niterói, a infecção aconteceu por volta do sexto mês da gravidez.

Um ano após o anúncio de emergência de zika e microcefalia, os pesquisadores ainda não sabem responder qual a frequência de transmissão do vírus de mãe para filho durante a gestação e em qual percentual de casos o zika causa más-formações.

Só neste ano, o Ministério da Saúde registrou 16,5 mil casos prováveis de gestantes infectadas pelo vírus da zika. Desses, 9,5 mil foram confirmados laboratorialmente.

"É muito importante o acompanhamento dessas crianças porque não sabemos como esses cérebros vão se desenvolver", recomendou Chimelli.

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