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Marido de infectada no DF diz, em nota, que agiu como 'esposo preocupado'

Teste do novo coronavírus - Freepik
Teste do novo coronavírus Imagem: Freepik

Felipe Amorim e Alex Tajra

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

11/03/2020 19h06Atualizada em 11/03/2020 20h02

Acusado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal de ter se recusado a fazer o exame para a detecção de coronavírus e de não ter obedecido a orientação para se manter em isolamento, o segundo paciente que teve a infecção confirmada em Brasília afirmou hoje ter agido "na tentativa única de procurar socorro médico para sua esposa".

O paciente, um homem de 45 anos, é marido da primeira paciente confirmada do DF, uma advogada de 52 anos que está internada em estado grave na UTI do HRAN (Hospital Regional da Asa Norte), unidade referência no atendimento ao coronavírus na rede pública.

Após o primeiro teste da advogada dar positivo, na última quinta-feira (5), o marido dela passou a ser considerado um caso suspeito, apesar de ele não apresentar sintomas. Segundo o infectologista da Secretaria de Saúde, Eduardo Hage, na sexta-feira (6) o homem foi orientado a fazer os exames e a se manter em isolamento. Mas ele só viria a fazer o exame na segunda-feira (9) e teria mantido as visitas à esposa no HRAN.

A suposta recusa do paciente em ser examinado levou a Procuradoria-Geral do Distrito Federal a acionar a Justiça. Na terça-feira (10), portanto após a realização do exame, a juíza da 8ª Vara da Fazenda Pública do DF, Raquel Mundim Moraes Oliveira Barbosa, emitiu decisão judicial obrigando a realização dos testes e determinando que ele permanecesse em isolamento até que o resultado fosse conhecido.

O resultado do exame foi divulgado hoje e deu positivo para o coronavírus. Com isso, o paciente se tornou o segundo caso confirmado no Distrito Federal.

A repercussão do caso levou o paciente a divulgar uma nota por meio de sua advogada, a defensora Cláudia Rocha Caciquinho. O texto afirma que ele realizou o exame e se manteve em isolamento domiciliar antes de ser intimado da decisão judicial.

"O que o signatário fez foi tão somente acompanhar a esposa, em um momento difícil de sua vida, ao vê-la em estado precário de saúde, tendo que ser transferida de uma unidade hospitalar para outra", diz a nota.

A reportagem do UOL conversou com profissionais de saúde do HRAN que corroboraram a afirmação do paciente de que não houve recusa à realização do teste. Os funcionários do hospital pediram para ter a identidade preservada.

"Como exigir de um ser humano que é esposo e pai um comportamento diverso do que teve, na tentativa única de procurar socorro médico para sua esposa? Por fim, o singnatário informa que está à disposição das autoridades para qualquer outro esclarecimento", conclui o texto.

Viagem à Suíça e filha na casa de amigos

O casal voltou recentemente de uma viagem à Suíça e ao Reino Unido, entre os dias 25 de fevereiro e 2 de março. A mulher começou a apresentar sintomas ainda no exterior, no dia 26. Seu marido chegou a ter uma leve gripe, mas voltou ao Brasil sem sintomas e de início não foi considerado um caso suspeito.

Apenas dois dias após voltar de viagem, na quarta-feira (4), a advogada procurou atendimento em um hospital particular de Brasília, na região do Lago Sul. Seu quadro se agravou e, na quinta-feira (5), ela foi transferida ao HRAN, onde permanece internada na UTI.

A pessoas próximas do casal o homem demonstrou estar abalado emocionalmente com o estado de saúde da esposa e com a restrições impostas a sua família. A filha do casal teve que ir para a casa de amigos, para evitar o risco de contágio pelo pai.

A filha não é considerada um caso suspeito. Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, não há nenhum caso suspeito entre as pessoas que tiveram contato com o casal, mas as autoridades de saúde seguem monitorando as pessoas que estiveram com os dois pacientes para caso haja o aparecimento de eventuais sintomas.

Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado no início da tarde desta quarta-feira (11), o Brasil tem 52 casos confirmados do novo coronavírus.

As ocorrências de covid-19 estão espalhadas por ao menos sete estados e o Distrito Federal. O maior número ocorre em São Paulo, onde há 30 casos confirmados até o momento.