Topo

Contagia menos que sarampo e mata menos que varíola: números do coronavírus

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

13/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Novo coronavírus tem grau de contágio entre 2 e 3, que é considerado moderado
  • O sarampo, por exemplo, tem nível entre 12 e 18, considerado muito alto
  • Número não mede a gravidade da doença, mas o tamanho que uma epidemia pode ter
  • Transmissão respiratória dificulta medidas de controle, diz especialista

A covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, já atingiu mais de 125 mil pessoas no mundo todo e deixou mais de 4.600 mortos desde o início do surto na China em 31 de dezembro. Apesar do número alto de contaminados e da velocidade com a qual tem atingido mais países a cada dia, o que obrigou a OMS a declarar uma pandemia, a doença tem nível de contágio considerado moderado e baixa letalidade.

Ainda assim, a preocupação para conter a disseminação ainda é justificável.

Modelos matemáticos são capazes de calcular o grau de contagiosidade de uma doença e assim ajudar a determinar medidas de contenção e cura. O novo coronavírus tem grau de contágio entre 2 e 3, que é considerado moderado.

O sarampo, último grande surto que atingiu o Brasil, tem nível entre 12 e 18, considerado muito alto.

Esse índice é chamado número básico de reprodução, ou R0, e serve para calcular quantas pessoas saudáveis alguém doente é capaz de contaminar.

"O número básico de reprodução mede o número de casos novos que são geradas a partir de um caso-índice de uma população de indivíduos totalmente suscetíveis à doença", explica o professor da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas, Claudio Struchiner.

O valor é calculado com base em modelos matemáticos complexos e sofre influência de diversos fatores, tais como biológicos, sócio-comportamentais e ambientais, de acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Ele não é constante e não serve de parâmetro para medir a gravidade de doenças, mas ajuda a compreender o tamanho que uma epidemia tem ou pode vir a ter e ajuda a determinar a proporção populacional que deve ser vacinada.

Em comparação com outras doenças, esse é um valor de contágio moderado. "Doenças comuns da infância, tipo rubéola e sarampo, ficam numa faixa de 10", diz Struchiner. "Pode chegar até um R0 de 1000 no caso de malária em regiões hiperendêmicas num passado próximo na África".

Segundo o infectologista da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Waldman, o grau de contágio de uma doença é uma característica única do agente infeccioso e não há explicação para um ser mais contagioso que o outro.

No caso do sarampo, respirar o mesmo ar que uma pessoa contaminada já é suficiente para pegar a doença, o que justifica o R0 tão elevado. O novo coronavírus exige um contato direto com o paciente ou com secreções expelidas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Porém, segundo o infectologista, apesar do grau moderado, o fato de ser uma doença de transmissão respiratória dificulta as medidas de controle, principalmente se envolver contágio de pessoas assintomáticas.

"Como ele [o vírus] tem uma proporção — pelo menos segundo os dados disponíveis — elevada de pessoas infectadas assintomáticas, na hora que você percebe você já pode ter um número muito grande de fontes de infecção e um crescimento exponencial nos casos que é o que está acontecendo na Itália", explica o infectologista.

Para Claudio Struchiner a preocupação também se justifica devido ao desconhecimento com relação à nova doença. Embora o sarampo seja uma doença muito mais contagiosa, ela já é uma velha conhecida e possui vacina.

"A gente sempre deve se preocupar com todas as doenças, como o sarampo, por exemplo, que esteve no noticiário de toda a imprensa, não só aqui no Brasil mas também fora, porque houve um ressurgimento dos casos [em 2019]. Então essa preocupação [com o coronavírus], ela é em parte porque é uma doença nova e em parte pela importância da própria doença. Mas sim, existem doenças que são mais contagiosas e que matam mais do que o coronavírus".

Grau de letalidade

Além de menos contagiosa, a covid-19 tem letalidade baixa, de aproximadamente 3,4%, segundo estimou a OMS em 3 de março. É um valor menor que da dengue, por exemplo, mas maior que do sarampo e da gripe comum.

"Globalmente, cerca de 3,4% dos casos relatados de Covid-19 morreram. Em comparação, a gripe sazonal geralmente mata muito menos que 1% das pessoas infectadas", informou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O cálculo da letalidade é diferente. Ele é uma razão entre os números de infectados confirmados com o de mortos, explica Struchiner. Na tarde desta quarta-feira (11), a OMS informou que há 113.702 casos suspeitos e 4.012 mortes, o que corresponde ao valor de 3,4%.

É um grau mais abaixo do que a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), os dois últimos coronavírus a se tornarem epidemias. Enquanto a Sars tinha um grau de contágio moderado, de 2 a 5, ela matava cerca de 10% de seus infectados. A Mers também tinha R0 entre 1 e 5, mas matou cerca de 30% dos infectados.

Waldman explica que o grau de letalidade influencia diretamente na capacidade de contágio da doença. Por serem mais graves, a Sars e a Mers podiam matar seus pacientes antes que eles espalhassem a doença.

"A capacidade de transmissão não é tão diferente [entre os coronavírus], mas quando é mais grave você tem muito menos casos assintomáticos e tem um número maior de fontes de infecção que são tão graves que eles já vão para o hospital e morrem, então a probabilidade de transmitir acaba sendo menor", diz.

O grau de letalidade também pode ser calculado com base em recortes, o que ajuda a compreender melhor a forma de agir do vírus. Recortes possíveis são de região e de idade. "Na Itália, por exemplo, com essas últimas mortes, se você faz o cálculo só para a Itália, [o índice] subiu para em torno de 10%", diz Struchiner.

Outro recorte possível é o de idade. Enquanto entre jovens praticamente não há casos de letalidade, ela cresce se for considerado apenas os idosos ou pessoas com doenças crônicas.