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Velórios de vítimas da covid-19 em SP duram 1 hora e têm limite de pessoas

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

24/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Velórios das vítimas têm prazo máximo de duração de uma hora
  • Cada cerimônia pode ter até 10 pessoas, e é permitido fazer revezamento
  • Limite de participantes não tem sido atingido em São Paulo
  • Existe a possibilidade de novas restrições se Ministério da Saúde entender que são necessárias
  • Prefeitura informou que consegue dobrar a capacidade de enterros na cidade

Perder uma pessoa amada não é a última dor causada pela covid-19 aos paulistanos. A despedida é curta, sem abraços e com a vítima cercada de poucos amigos e parentes. Por questões de segurança, a prefeitura está restringindo a duração dos velórios a no máximo uma hora. Somente dez pessoas podem estar na sala ao mesmo tempo. O caixão é recoberto de papelão e fechado para a cerimônia.

Por razões de humanidade, é permitido revezamento de pessoas na sala, mas isto não tem sido necessário. Com medo de contaminação, a presença nos velórios da covid-19 que ocorreram foi tão baixa que não atingiu o limite. Isto quando há velório: a maioria dos familiares prefere a cremação ou enterro direto.

Quem descreve o cenário é Alexandre Modonezi, secretário das Subprefeituras de São Paulo. Ele explica que as restrições têm razões de proteção contra a contaminação pelo coronavírus.

"Não existem diferenças e o tratamento de vítimas de covid-19 é o mesmo. Damos dignidade a todas as despedidas, aos familiares. A diferença é que o velório passou de quatro para uma hora. E há diferença com relação à segurança dos funcionários que têm contato com corpos com suspeita de coronavírus".

O secretário conta que o ritual das cremações também foi alterado. Antes, o caixão baixava enquanto parentes e amigos davam o adeus final. Agora, o corpo segue direto para a cremação.

Modonezi acrescenta que pode haver alterações a depender de determinações do Ministério da Saúde, que avalia se há riscos de uma vítima da covid-19 transmitir a doença mesmo depois de morrer.

"Há dúvida se pode colocar corpo no solo, se precisa fazer tratamento do local se tocar o solo. Alguns países determinaram cremação por entender que há perigo. O procedimento pode mudar e o velório ser suspenso, ter enterro ou cremação direto", explica.

O secretário disse que existe capacidade de ampliar o número de cremações por dia, mas não soube precisar o tamanho desta reserva técnica.

Na Itália, caixões foram retirados por um comboio militar - ANSA/AFP - ANSA/AFP
Na Itália, caixões foram retirados por um comboio militar
Imagem: ANSA/AFP

Não deve haver falta de cemitérios em SP como na Itália

O cenário nacional é de aumento no número de vítimas, e São Paulo é a cidade com mais caso no país. Mas o secretário das Subprefeituras afirmou que a cidade não vai repetir a situação de Bergamo, cidade da Itália onde faltou espaço nos cemitérios e pessoas precisaram ser cremadas compulsoriamente.

"Em São Paulo, temos em média 350 sepultamentos por dia. Fizemos um planejamento e dobramos esta capacidade."

Para conseguir esta resposta, espaço em cemitérios públicos foram providenciados com a remoção de corpos enterrados há mais de três anos. Também será possível usar gavetas verticais, explicou o secretário. Ele declarou que a área da saúde transmite informações da situação a cada 24 horas e assim é feito o ajuste do planejamento.

"Nós vamos resolver a questão, posso garantir", diz o secretário.

Equipamento de proteção de funcionários de cemitérios será reforçado por causa da covid-19 - Thiago Amaral/Folhapress - Thiago Amaral/Folhapress
Equipamento de proteção de funcionários de cemitérios será reforçado por causa da covid-19
Imagem: Thiago Amaral/Folhapress
Cuidado com a segurança dos funcionários

Ainda não existe definição sobre se uma vítima de coronavírus pode transmitir a doença depois de morrer, mas, por precaução, foi elevado o nível de proteção de quem trabalha no setor. Ontem, 2 mil litros de álcool foram distribuídos e mais 4 mil chegarão aos trabalhadores até quarta-feira.

Neste mês, há um carregamento de 50 mil litros contratados, além de outros 50 mil para abril. Os funcionários trabalham com equipamento de proteção que inclui máscara, luva e um macacão de tyvek, um material que protege da infiltração de líquidos.

Houve ainda reforço na frota de veículos que transportam os corpos. Existem três circulando somente para atender vítimas da covid-19, dez em estágio final de preparação e outros dez disponíveis para entrar em ação se for necessário. Há salas reservadas somente para velórios de vítimas da covid-19 que são desinfetadas ao final de cada cerimônia.

"Estamos montando toda uma estrutura que esperamos não usar", afirma.