Pneumologista: condição socioeconômica pode reduzir idade média da covid-19
Pneumologista da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, acredita que o novo coronavírus pode ter efeitos no Brasil tão ou mais graves do que na Itália. Em entrevista ao jornal O Globo publicada hoje, a médica acredita que ainda não é possível saber ao certo o panorama da covid-19 no país e que as condições socioeconômicas possam fazer com que uma parcela mais jovem da população seja acometida pela doença.
"Aqui poderemos "rejuvenescer" a covid-19. A minha preocupação é que a média de idade aqui seja muito mais jovem do que na Itália, justamente por nossas condições socioeconômicas. Mas não só por isso, mas também pelo que temos visto nos hospitais", acrescenta.
Dalcolmo acredita que é difícil saber o número de casos fatais nos hospitais porque há mortes por covid-19 na rede pública de saúde sem diagnóstico.
"A média de idade dos pacientes em estado grave no Brasil está, por ora, entre 47 anos e 50 anos. São pessoas de classe média e alta, internadas na rede particular. E aqui ainda nem sabemos bem o que está acontecendo porque existe uma lacuna entre os números oficiais e o que acontece nos hospitais. Não temo em dizer que estão ocorrendo mortes por covid-19 sem diagnóstico na rede pública", disse.
Na entrevista, a médica relata o temor caso o coronavírus encontre a tuberculose no Brasil, o que pode mudar o perfil da doença no país e causar um número de mortes "absurdo".
"Um exemplo é o caso da tuberculose, uma doença que é fator de agravamento da covid-19. O Brasil tem uma taxa elevada, cerca de 30 casos por 100 mil habitantes. Em cidades como o Rio de Janeiro, ela já é muito alta, de 70 a 75 casos por 100 mil. Mas na Cidade de Deus, onde houve um caso, na Rocinha e em Manguinhos, por exemplo, ela explode para 280 a 300 por 100 mil. E nos presídios chega a absurdos 2.500 casos por 100 mil. Cerca de 80% dos casos de tuberculose são pulmonares. Quando a covid-19 encontrar a tuberculose teremos uma mortalidade absurda", analisa.
Questionada sobre as medidas que podem ser adotadas neste momento, Dalcolmo defende o isolamento social radical como única alternativa.
"Defender o isolamento social radical. Não há alternativa. Isso tem um alto custo econômico, terrível mesmo. Mas a doença custará ainda mais caro. O Brasil tem milhões de trabalhadores informais. O governo tem que ajudá-los, mas a iniciativa privada também deveria colaborar com essa parte. Não haverá vacina para salvar as pessoas nessa pandemia. A vacina será para daqui a cerca de dois anos. Mas as pessoas estão morrendo agora", afirmou.
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