Bolsonaro exalta cloroquina e diz que ministros devem estar alinhados a ele
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou hoje, em novo pronunciamento em rede nacional de televisão e rádio, que seus ministros devem estar sincronizados a ele e exaltou o uso da cloroquina para o tratamento contra o coronavírus.
Bolsonaro abriu seu discurso se solidarizando às famílias que perderam entes para a covid-19 e disse que, como presidente, sua responsabilidade é "olhar o todo".
Tenho a responsabilidade de decidir sobre as questões do país de forma ampla, usando a equipe de ministros que escolhi para conduzir os destinos da nação. Todos devem estar sintonizados comigo
presidente Jair Bolsonaro
Na tarde de hoje, Bolsonaro se reuniu com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para apaziguar a relação entre os dois e tentar "caminhar para a unidade". Até o encontro, pessoas próximas ao presidente haviam dito à Folha que ele ainda estava disposto a exonerar o ministro. Na segunda-feira, o chefe da pasta chegou a admitir que suas gavetas no gabinete foram limpas e que ficou apreensivo durante todo o dia.
Contudo, no final da tarde, Mandetta relatou "um bom clima" e chamou o superior de "parceiro".
Durante o pronunciamento de quatro minutos, cidades brasileiras registraram uma nova série de panelaços contra o presidente, que tem sido alvo de protestos desde o início da pandemia.
Aposta na cloroquina e ajuda da Índia
Ainda no seu pronunciamento, Bolsonaro saiu em defesa da cloroquina — fármaco utilizado contra malária e lúpus, por exemplo — ao afirmar ter cumprimentado o médico Roberto Kalil pelo uso da medicação durante o tratamento para a covid-19 e também pela aplicação em alguns de seus pacientes, "mesmo não tendo finalizado o protocolo de testes".
"Cumprimentei-o pela honestidade e pelo compromisso com o juramento de Hipócrates ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos", elogiou o presidente. Foi uma forma também de cutucar o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus de São Paulo, que não quis revelar se foi tratado com o medicamento.
Hoje mais cedo, Kalil afirmou que pensou muito antes de contar que fez uso da cloroquina, porque "podia influenciar muitas pessoas a usar o remédio". O médico salientou que utilizou o medicamente de forma "ponderada e com recomendação médica".
"Passei a divulgar a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial", afirmou também Bolsonaro, sobre a cloroquina. Ainda em referência à medicação, o presidente declarou que o país deve receber, até sábado (11), matéria-prima vinda da Índia para continuar produzindo a hidroxicloroquina.
Segundo Bolsonaro, a medicação servirá para tratar pacientes com covid-19, malária, lúpus e artrite. O presidente diz contar com a chancela de "médicos, pesquisadores e chefes de estado de outros países".
O Ministério da Saúde tem recomendado o uso de cloroquina em pacientes críticos e graves da covid-19. A pasta sempre reconhece, porém, que os testes sobre a aplicação do produto ainda não são conclusivos e que a cloroquina, quando administrada sem acompanhamento médico, pode provocar efeitos colaterais.
Alfinetada em governadores e prefeitos
Logo após pregar sintonia por parte dos ministros, o presidente afirmou que governadores e prefeitos tomaram medidas "de forma restritiva" sem consultar o governo federal sobre amplitude ou duração. Foi um novo ataque, embora sutil, à decisão dos chefes de Executivo nos estados e municípios que recomendam fechamento do comércio e isolamento social como medida de prevenção à covid-19.
Respeito a autonomia de governadores e prefeitos. Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração
Novamente, Bolsonaro recorreu a orientações da Organização Mundial de Saúde para justificar críticas ao isolamento horizontal (que abrange toda população). Em referência a falas anteriores de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, ele disse que os mais humildes não podem deixar de se locomover para garantir o pão diário.
No entanto, Bolsonaro omitiu, mais uma vez, a cobrança do diretor para que governos se responsabilizem pela parte econômica para que trabalhadores possam ficar em casa durante a pandemia.
As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença. O desemprego também leva à pobreza, à fome, à miséria, enfim, à própria morte
Auxílio emergencial de R$ 600
Bolsonaro anunciou que o governo federal deve começar amanhã a pagar o auxílio emergencial para trabalhadores informais, desempregados e microempreendedores durante os próximos três meses. O presidente disse que 9 milhões de famílias serão beneficiadas pelo auxílio de R$ 600 por pessoa e no máximo R$ 1,2 mil por família.
"Concedemos também a isenção do pagamento da conta da energia elétrica aos beneficiários da tarifa social por três meses, atendendo a 9 milhões de famílias que tenham suas contas de até R$ 150", disse.
Bolsonaro anunciou que autorizou para junho um saque de até R$ 1.045 às pessoas que têm conta vinculada ao FGTS e que repatriou mais de 11 mil brasileiros que estavam no exterior.
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