Epidemiologista contrapõe Osmar Terra e vê Brasil longe do fim da epidemia
O Brasil está no início da epidemia do coronavírus e longe de chegar ao ponto de imunizar a população, a chamada "imunidade de rebanho". É o que explica o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da Universidade de Pelotas que comanda estudo pioneiro com testes em massa para determinar o tamanho real da disseminação da covid-19 em uma região do país.
A declaração dele, com base em dados, contraria a posição do ex-ministro Osmar Terra, conselheiro do presidente Jair Bolsonaro e deputado federal (MDB-RS), que vê a pandemia perto do fim no Brasil (assista abaixo).
A pesquisa da Universidade de Pelotas está aplicando 18 mil testes no Rio Grande do Sul, associados a entrevistas. Os testes vão tentar identificar anticorpos na população que já tenha sido infectada.
O objetivo é conhecer o percentual da população infectada, a velocidade da propagação da doença e identificar quantas são os casos assintomáticos ou com sintomas leves. Os resultados serão revelados na próxima semana.
O Ministério da Saúde pediu para a universidade que o estudo seja ampliado para o Brasil já que, atualmente, não há testes em massa para avaliar o tamanho real da disseminação do coronavírus no país.
Pico da epidemia e imunidade de rebanho
Ontem, no UOL Debate, Osmar Terra disse avaliar que o pico dos casos acontece agora e deve se estender até o mês que vem. Para o deputado, a epidemia termina no final de maio —a estimativa dele se opõe ao Ministério da Saúde, que prevê o pico para o início de junho.
"Ele [coronavírus] já está chegando no pico. Ele deve chegar essa semana, se já não chegou. A dúvida é se dia 8 de abril foi o pico. Dia 8 teve um número muito elevado de casos novos —2.200 casos novos. Nos dias seguintes, 9, 10, 11, 12, não teve nenhum número que superou isso", disse Terra, que falou o mesmo sobre o São Paulo.
Segundo Hallal, dados preliminares da pesquisa feita pela Universidade de Pelotas indicam que a epidemia do coronavírus está no início no Brasil. Mais do que isso, o pesquisador disse que o país está longe de chegar à chamada "imunidade de rebanho", expressão usada quando o vírus atinge metade da população e começa a cair o contágio porque existe menos lugares para o vírus ir.
"Essa pauta de imunidade de rebanho só será pauta no Rio Grande do Sul daqui a muitas semanas. O percentual de população gaúcha infectada é muito pequeno. Tentar entrar nessa discussão de imunidade agora, como o Osmar quer e respeito ele, está muito errado."
Em um dos municípios da Alemanha que foi o epicentro, fizeram a testagem em massa e era 14% que foi infectado. Pegaram um município que mais tinha caso. Mesmo lá, não tem imunidade de rebanho e estão na nossa frente. Falar em imunidade de rebanho é precipitação. Não é ciência, é política
Pedro Hallal, epidemiologista
Para se atingir a imunidade de rebanho, entre 50% e 60% da população teria de já ter sido infectada, segundo Hallal. Ele explicou que a epidemia só vai parar de circular quando atingir esse percentual de contaminação da população e, assim, o vírus não terá mais como se expandir.
"Para aqueles que estão torcendo [sobre a epidemia ter atingido o pico], não tem bastante infecção da população. Talvez em São Paulo e no Rio tenha percentual mais alto. Não estimo percentual de 5% em nenhuma cidade, embora dizer qualquer número hoje é chute. Todas as evidências indicam que a epidemia está muito no início no Brasil. Muito no início", completou.
Na questão da imunização, o Ministério da Saúde, no momento, não tem o número de curados no Brasil. Ou seja, o governo ainda não sabe qual seria o número de pessoas que supostamente poderiam ter imunidade. Isso porque ainda não há certeza de que infectados não possam voltar a pegar a doença.
Sem esses dados, e sem imunização, Hallal defende que todos os exemplos pelo mundo mostraram que o distanciamento social é a única solução de controlar a epidemia de forma que todos os doentes possam ser atendidos pelo sistema de saúde sem ter um colapso. Ele entende que há excesso de política e pouca ciência na discussão sobre a necessidade das restrições para retardar o contágio pelo coronavírus.
A discussão sobre distanciamento social em toda mídia está baseada em ideologia e não ciência. Tem um grupo de pessoas que acha que tem relaxar e votaram no mesmo candidato, e as outras pessoas que votaram contra e são a favor de distanciar
"Exemplo: a Suécia estava fazendo sem distanciamento social. Agora está em emergência como a Itália e tendo que decidir se escolhem a pessoa A ou B para ser atendida. Só existe uma forma de relaxar o distanciamento: testagem de massa, liberação de quem está imunizado e retorno do trabalho para imunizado", completa o epidemiologista.
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