Teich planeja diretriz para que Estados criem políticas sobre isolamento
O ministro da Saúde, Nelson Teich, anunciou hoje que o governo federal vai lançar uma diretriz para que estados e municípios possam criar políticas e programas próprios em relação ao isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus. A proposta será apresentada na semana que vem pela pasta, que passa a ter como secretário-executivo o general Eduardo Pazuello.
"É a gente desenhar uma diretriz para dar suporte a estados e cidades para que desenhem seus programas sobre o isolamento. Se você não tem um acontecimento explosivo da doença no Brasil, como acontece aqui, é impossível um país sobreviver ficando um ano e meio parado", analisou Teich, usando como régua o tempo que pode demorar para que uma vacina contra a covid-19 seja desenvolvida.
As medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos têm sido, desde o início da crise gerada pela covid-19, alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e foram um das causas que levaram ao desgaste na relação e à decorrente demissão do antigo ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Seguindo recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), Mandetta defendia a quarentena como medida para contenção da pandemia e orientou mais de uma vez a população a dar ouvidos a governadores e prefeitos quanto a isso. Já Bolsonaro mantém a opinião de que o isolamento não deve ser aplicado a toda a população sob o risco de impactar negativamente a economia.
Ao assumir, na semana passada, Teich reiterou em mais de uma ocasião que a Saúde e a Economia não competem, mas são complementares. Hoje, durante entrevista coletiva, argumentou que "o isolamento é uma medida natural e lógica na largada, mas ele não pode não estar acompanhado de um programa de saída".
"É isso que vamos desenhar, que vamos dar suporte a estados e municípios", completou Teich hoje, antes de dizer que o Brasil é um dos países que "melhor performa em relação à covid".
"Se você analisar mortos por milhão de pessoas, o número do Brasil é de 8,17. A Alemanha tem 15, a Itália tem 135, Espanha tem 255 e Estados Unidos, 129. O nosso número é um dos melhores", disse o ministro.
Estados enfrentam superlotação de UTIs
Com o avanço da pandemia de covid-19, que já matou pelo menos 2.906 pessoas segundo o dado oficial e infectou ao menos 45.757 pessoas, os sistemas de saúde de diversos estados começam a mostrar sinais de colapso.
Com o triplo de mortes da média do país, o Amazonas enfrenta uma grave crise no sistema de saúde. Em Manaus, o número de enterros triplicou desde o início da crise e o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) chegou a chorar ao falar sobre o estado de calamidade que vive a cidade.
Hoje, o governador do Amazonas, Wilson Miranda Lima (PSC) mostrou preocupação com o avanço da pandemia no estado que, segundo ele, ainda não atingiu o pico. "Devemos ter nos próximos 10, 15 dias, um problema muito grave", afirmou. O estado tem 2.479 casos oficiais e 207 mortes confirmadas.
Em Pernambuco, onde ocorreram 282 óbitos e há 3.298 casos confirmados, 99% os leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) já estão ocupados. O estado apelou ontem que o Ministério da Saúde envie mais respiradores para o estado ampliar a oferta de leitos de terapia intensiva.
A sobrecarga do sistema de saúde preocupa também no Rio de Janeiro, que tem quase 80% dos leitos de UTI ocupados. Com isso, dezenas de pacientes têm sido transferidos para o interior. Como agravante, mais de 1.800 profissionais já foram afastados por conta da covid-19. O estado superou hoje a marca de 5,5 mil casos confirmados da doença.
Planos para fim do isolamento
Governadores e prefeitos de diversos estados têm encontrado resistência na população para a adesão das medidas de restrição.
Alvo de protestos durante o feriado de Tiradentes, o governador João Doria (PSDB) anunciou hoje um plano de retomada das atividades econômicas no estado a partir de 11 de maio. O término da quarentena deverá respeitar um cronograma por fases e será diferente da região. Setores conhecidos como os mais vulneráveis terão retomada mais rápida.
Em Santa Catarina, a capital Florianópolis já começa a flexibilizar o isolamento social, com a reabertura de shoppings, centros comerciais e restaurantes com regras mais rígidas que o usual. "Se ultrapassar os limites, voltamos a restringir", alertou o prefeito Gean Loureiro.
Também no Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) disse que pretende reabrir grande parte do comércio no início de maio.
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