Com 70% de emergências lotadas, Rio tem fila por UTI de pacientes com covid
Com o avanço da pandemia de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a rede pública de saúde da cidade do Rio de Janeiro se aproxima de um colapso. Dados da Central Estadual de Regulação obtidos com exclusividade pelo UOL mostram que 22 das 32 unidades de urgência e emergência da capital operam no limite ou, na maioria dos casos, até mesmo com superlotação (veja o mapa abaixo).
Enquanto isso, há mais de 60 pacientes na fila por um leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Ontem, havia 63 pacientes à espera de um leito de UTI no estado, dos quais 38 tinham confirmação ou suspeita de covid-19. O estado do Rio já tem 490 mortos por covid-19, 303 deles na capital.
Os dados, atualizado em tempo real por gestores de unidades de saúde municipais, estaduais e federais, dizem respeito a hospitais, UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e CERs (Coordenações de Emergência Regionais). Elas são as portas de entrada no sistema de saúde para pacientes com covid-19 que precisam de hospitalização.
O mapeamento mostra que apenas dez das 32 unidades ainda possuem alguma vaga em suas salas vermelhas —elas recebem os pacientes mais graves, que necessitam de cuidados intensivos e aguardam transferência para UTI— ou amarelas —destinadas a pacientes com alguma gravidade, mas que já estão estabilizados.
No total, as 32 unidades têm hoje 166 pacientes para 140 vagas nas salas vermelhas, e 390 internados para 360 vagas nas amarelas.
Segundo os dados oficiais das secretárias estadual e municipal de Saúde, a maior parte das unidades que ainda possuem leitos disponíveis fica na zona oeste, onde a epidemia chegou por último. A cidade ainda tem outras seis UPAs que não disponibilizaram informações sobre lotação.
Entre as grandes unidades do Rio, apenas três ainda podem receber novos pacientes: o Hospital Federal de Bonsucesso tem 16 vagas para a sala amarela e uma para a vermelha; o Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na zona oeste, possui 11 leitos amarelos, e o CER Santa Cruz, também na zona oeste, tem 12 vagas na sala amarela, mas sua sala vermelha atende 25 pacientes em um espaço previsto para apenas 11.
Unidades de referência perto da lotação
A superlotação das emergências, sobretudo de suas salas vermelhas, é um sintoma de que há dificuldade de conseguir leitos de UTI para os pacientes com coronavírus nas unidades de referência para o tratamento da doença mantidas pela prefeitura e pelo governo do estado.
Segundo dados de ambas as esferas, esses hospitais também já estão perto de sua capacidade máxima.
A SES (Secretaria Estadual de Saúde) afirma que hoje a taxa de ocupação na rede estadual é de 66% em leitos de enfermaria e 78% em leitos de UTI.
O Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), já tem 100% de seus leitos de UTI ocupados, enquanto na enfermaria há 42% da capacidade ocupada. No Instituto Estadual do Cérebro, há 88,6% de ocupação dos leitos de UTI. Já no Hospital Estadual Anchieta estão ocupados 42,8% dos leitos de UTI e 37,7% dos de enfermaria.
No âmbito da Prefeitura do Rio, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, zona norte do Rio, é a unidade de referência para covid-19. Segundo médicos que atuam na unidade, já não há mais vagas de UTI. A SMS (Secretaria Municipal de Saúde) não confirma essa informação, mas informa que a unidade hoje tem 206 leitos, dos quais 75 de UTI.
Por isso, já há pacientes da capital sendo transferidos para o Hospital Regional do Médio Paraíba Dra. Zilda Arns, em Volta Redonda, no Sul Fluminense. A unidade de saúde fica a 120 km do centro do Rio.
Especialistas apontam colapso iminente
Para especialistas ouvidos pelo UOL, os dados mostram que o limite do sistema de saúde do Rio está mais próximo do que fazem crer as autoridades.
Na visão do médico especializado em gestão de saúde e professor da Escola de Educação do Hospital da USP Rubens Baptista Júnior, os números retratam um colapso esperado do sistema de saúde do Rio, diante de um cenário histórico de falta de leitos.
"Precisamos ter em mente que a superlotação de UTIs é um problema crônico de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Qualquer aumento na demanda poderia causar esse 'desbalanço'. A pandemia está aí para comprovar que a falta de leitos é crônica. É um lento colapso que acontece há anos, que vem se acentuando ainda mais. Não é inesperado", afirma.
Mestre em gestão e políticas em sistemas de saúde, Rafael Robba vai na mesma linha e defende que o estado garanta atendimentos para a população na rede privada.
"Os números mostram que a capacidade do sistema de saúde está chegando ao seu limite. A questão é como garantir o acesso à saúde como um direito social. Uma vez que o estado não consegue tomar ações e mostra uma incapacidade de atender a população, ele passa a ser obrigado a viabilizar atendimentos, ainda que na rede privada", afirma.
O que dizem a prefeitura e o governo do RJ
A SMS afirma, em nota, que está concluindo obras para aumentar para 381 leitos a capacidade do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, dos quais 200 de UTI. Também está concluindo a montagem do hospital de campanha no Riocentro, com 400 leitos de enfermaria e cem de UTI.
Já a SES diz que abriu 548 leitos exclusivos para pacientes de covid-19 e que esse número deve chegar 3.414 em todo o estado, dos quais 2.000 em nove hospitais de campanha. "A SES reforça ainda o papel importante da rede privada, pública e federal na luta contra o coronavírus no estado do Rio, que contabilizam 32 mil leitos e 6.500 leitos de terapia intensiva", pontua em nota.
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