Pacientes morrem em emergência do Rio: o drama da espera por transferência
Resumo da notícia
- Paciente com sintomas de covid-19 espera durante mais de 24 horas por transferência para leito de hospital
- Cinco dias depois de perder o marido, idosa de 84 anos com covid-19 luta para sobreviver
- "Querem que a minha mãe morra em casa", desabafa Lucicleide de Souza Silva
Parentes de pacientes à espera de atendimento ou transferência no CER (Coordenação Regional de Emergência) Barra, unidade de saúde localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, revelam a dramática realidade de quem já lida com as limitações do sistema de saúde em meio à pandemia do novo coronavírus. Ao menos duas pessoas morreram dentro da unidade ontem (30).
Um homem com sintomas da covid-19 aguarda por transferência para um leito no Hospital Municipal Lourenço Jorge, ao lado da unidade de saúde, há mais de 24 horas. Na noite de anteontem, o estado de saúde do empresário Jorge Nelson Sales, 48, começou a se agravar. Com diarreia, febre, tosse e perda de paladar, ele foi levado às pressas por parentes para o CER Barra. Chegou ao local pouco depois da meia-noite de ontem. De acordo com a família, profissionais de saúde disseram que ele será avaliado hoje.
O caso ocorreu no dia seguinte à denúncia publicada com exclusividade pelo UOL sobre o Lourenço Jorge, que tinha corpos enfileirados em cima de macas em frente ao necrotério da unidade e falta de médicos na ala destinada a pacientes com covid-19.
"Meu marido passou a noite sentado em uma cadeira, à espera de transferência. A situação está caótica", desabafou a técnica de enfermagem Sabrina Sales, esposa de Jorge.
Do lado de fora da unidade, a costureira Lucicleide de Souza Silva, 41, contou o drama que vive desde que a mãe começou a apresentar sintomas compatíveis com a doença. Anteontem, ela disse ter levado a dona Marluce de Souza, de 60 anos, para a UPA da Cidade de Deus, na zona oeste do Rio. "Não quiseram nem olhar para a minha mãe. Disseram que já tinha cinco mortos lá dentro", contou, aos prantos.
Segundo Lucicleide, a mãe, que tem diabetes e hipertensão e faz parte do grupo de risco para covid-19, voltou para a casa. Mas não dormiu. "Ela passou a noite inteira vomitando. Querem dar alta para a minha mãe para que ela morra em casa, moço!"
Ainda em luto por causa da morte do avô, que faleceu com insuficiência respiratória, a comissária de voo Luana Monteiro Campos, 37 anos, agora espera que a avó se recupere da doença.
Valdino Pinto Bandeira, 86, morreu no sábado a caminho do hospital. Cinco dias depois, a viúva Joselia Monteiro Pinto, 84 anos, que testou positivo para covid-19 e está à base de medicamentos, precisa lidar com as limitações de atendimento na unidade. Ela só foi encaminhada para fazer a tomografia sete horas após chegar à unidade.
"Confirmaram que a minha avó estava com covid e deram alta. Pediram só que eu ficasse 'de olho'. É desesperador! Perdi meu avô e agora estou aqui, esperando que a minha avó se recupere", desabafou Luana.
Dados da Central Estadual de Regulação, que controla leitos públicos municipais, estaduais e federais, mostram que ontem havia 361 pacientes na fila por um leito de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) no estado do Rio, com casos em que o tempo de espera por uma transferência supera uma semana.
O que diz a Prefeitura do Rio
A Prefeitura do Rio não respondeu aos questionamentos sobre as mortes no CER Barra ou sobre a espera de pacientes por transferência. Informou apenas que foram abertos 140 leitos de UTI desde o início da pandemia. "Além do Hospital de Campanha do Riocentro que irá ampliar o quantitativo de leitos abertos na rede municipal de saúde", relatou, por nota.
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