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Após iniciativa em PE, estados discutem como decidir quem tem direito a UTI

Maioria dos leitos de UTI para tratamento da Covid-19 em São Luís estão ocupados - A. Bâeta/Prefeitura de São Luís
Maioria dos leitos de UTI para tratamento da Covid-19 em São Luís estão ocupados Imagem: A. Bâeta/Prefeitura de São Luís

Cleber Souza

Do UOL, em São Paulo

06/05/2020 04h06

Após associações médicas produzirem um protocolo ético e técnico com os critérios para internação de pacientes com covid-19 em leitos de UTI (Unidades de Terapia Intesiva), conselhos regionais de medicina discutem a utilização do EUP (Escore Unificado Para Priorização) — sistema de pontos que define quem terá unidade de terapia.

Pelo país, o aumento acelerado no número de casos da covid-19 já faz com que cidades tenham fila de espera por leitos de UTI em hospitais. Estados como Amazonas, Rio de Janeiro e Pernambuco já têm pacientes que precisam aguardar uma vaga e se internar.

Em Pernambuco, médicos criaram o sistema de pontos que define quem terá direito a um leito de UTI. O risco iminente de colapso no sistema público saúde fez com que o Cremepe (Conselho Regional de Medicina de Pernanbuco), publicasse uma pontuação para os pacientes na hora de decidir quem terá prioridade. De acordo com o documento enviado pelo conselho ao UOL, a prioridade será de pacientes com mais chance de viver.

Pernambuco já tem a segunda maior taxa de letalidade pela doença do país, com 5,31 mortes a cada cada 100 mil habitantes, São Paulo registra 4,46, e Rio, 4,27. Em primeiro lugar está o Amazonas, com taxa de 7,33.

São Paulo

Em nota, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), diz que estuda a elaboração de recomendações, para o caso de as UTIs do estado atingirem a capacidade máxima. Na capital paulista, a taxa de ocupação em unidades de terapia intensiva já passa dos 80%.

"O sistema é debatido com frequência na literatura bioética, sendo o adotado por Pernambuco uma das alternativas possíveis para operacionalizar a tomada de decisão médica frente a esse cenário."

Amazonas

Já segundo o Cremam (Conselho Regional de Medicina de Amazonas, não há um protocolo neste sentido no estado. O conselho entende que essa recomendação é contraditória, com prós e contras.

"Já ouvi diversas versões sobre isso e em todas cabem crítica. Não recomendo aqui. É uma situação muito difícil, o homem com o poder de decidir quem pode ou não morrer. O paciente não ter a oportunidade de UTI é revoltante", disse o presidente, José Bernardes Sobrinho.

Ele ainda afirma que a cada dois pacientes que entram em um hospital e utilizam uma UTI, um sobrevive. Ou seja, a chance de vida é de 50%. Para ele, paciente não deve ser condenado à morte pela situação em que a saúde pública se encontra.

Rio de Janeiro

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) afirma que ainda não se pronunciou sobre o assunto, pois depende da Secretaria Estadual de Saúde apoiar ou não essa medida. Nesta terça estava programada uma plenária para a discussão do assunto.

Associações nacionais lançam protocolo

Para auxiliar os médicos, a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) e a Abramede (Associação Brasileira de Medicina de Emergência) lançaram o "Protocolo de alocação de recursos em esgotamento durante a pandemia por covid-19", com uma tabela de critérios que devem ser observados na tomada de decisão. Elas devem se nortear, basicamente, por três critérios: gravidade, maior grau de sobrevida e capacidade do paciente.

Na primeira versão do documento, lançada no fim de abril, em vez de capacidade funcional, era levado em conta a idade do paciente. Entretanto, uma revisão retirou o critério e resultou num relançamento do documento.

Critérios

1) Salvar mais vidas

Como é feito? Usando o escore Sofa (Sequential Organ Failure Assessment), que avalia uma série de parâmetros de dados vitais. Quanto maior essa pontuação, menor a chance de sobreviver (vai de 1 a 4 pontos).

2) Salvar mais anos de vida

Como é feito? Avaliando a presença de comorbidade grave com probabilidade de sobrevida inferior a um ano (caso isso ocorra, soma-se 3 pontos à conta).

3- Capacidade do paciente

Como é feito? Por meio da escala de performance funcional Ecog (Eastern Cooperative Oncologic Group). Nesse caso, o paciente é avaliado em uma escala que vai de "completamente ativo" até "completamente incapaz de realizar autocuidado básico" (vai de 0 a 4 pontos). Em caso de empate de pontos, diz o protocolo proposto, deve ser usada a seguinte ordem de escolha:

  • Menor pontuação do Sofa
  • Julgamento clínico da equipe de triagem.