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Já vi doenças terríveis, mas nada parecido com a covid, diz infectologista

Profissional de saúde com roupa de proteção remove corpo para caminhão refrigerado em hospital do Rio de Janeiro - Ricardo Moraes
Profissional de saúde com roupa de proteção remove corpo para caminhão refrigerado em hospital do Rio de Janeiro Imagem: Ricardo Moraes

Do UOL, em São Paulo

07/05/2020 08h45

Rafael Galliez, médico infectologista e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), disse hoje em entrevista ao jornal O Globo que já viu epidemias "terríveis", mas que "nada é como agora" com a pandemia do novo coronavírus.

"Sou infectologista, já vi doenças terríveis, como as epidemias de dengue, H1N1, zika e febre amarela", lembra.

"Na recente epidemia desta última [febre amarela], tivemos casos gravíssimos de hemorragias associadas, condição que deixava toda a UTI com cheiro de sangue. Mas nada é como agora", conclui.

Para Galliez, a pandemia do novo coronavírus chegou no Brasil "no pior momento", com o SUS (Sistema Único de Saúde) "desestruturado" e enfrentando problemas com equipamentos e profissionais.

"O problema não é só não ter um respirador e um equipamento de hemodiálise. Não há mais equipes de saúde suficientes e menos ainda médicos que saibam usar esses equipamentos. Não temos técnicos de hemodiálise suficientes", pontua.

Para o professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, os médicos que atuam na rede pública de saúde estão "em uma batalha sem general, sem fuzis e sem soldados".

"Não temos medo da trincheira, mas precisamos ser tratados com dignidade. E o Brasil não tem tratado seus profissionais de saúde com dignidade", critica.

"Há os [profissionais] que passam horas para ir e vir dos hospitais, expondo-se em pontos de ônibus. O salário de um técnico de enfermagem, tipo de profissional mais exposto ao vírus, não é digno", conclui.

Perguntado sobre o que ainda há de alternativa para conter a disseminação do novo coronavírus, Galliez diz que deve haver um lockdown "associado à garantia de renda mínima real de suporte às populações, de suporte às empresas para garantia dos empregos".

"Adotar o lockdown é uma questão de sobrevivência e proteção individual, para que o sistema de saúde possa se reestruturar", pontua.

Segundo dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, há cerca de 125 mil casos oficiais do novo coronavírus em todo o Brasil, além de 8,5 mil mortes.