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Doria prorroga quarentena em SP até 31 de maio e não descarta lockdown

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

08/05/2020 12h42Atualizada em 08/05/2020 17h55

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou hoje a prorrogação da quarentena no estado até o dia 31 de maio. A decisão foi tomada nesta manhã, após uma reunião entre ele, o Centro de Contingência ao Coronavírus e secretários. Esta é a segunda vez que o político tucano estende o período de isolamento social como medida de combate à covid-19.

Ele ainda declarou que não está totalmente descartada a possibilidade de adotar um lockdown (fechamento total) em cidades do estado, embora a medida não esteja prevista.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou que a quarentena também será estendida até 31 de maio na capital.

Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, Doria se emocionou e ficou com a voz embargada ao anunciar o aumento do isolamento e ao falar sobre o Dia das Mães, que será celebrado neste domingo (10).

"Daqui a dois dias será o Dia das Mães. É o dia da celebração da família, do beijo, do abraço, do caminho. Neste ano, será diferente. Será um dia de solidariedade, de oração pela vida, pelos brasileiros. Palavras refletem sentimentos, e o sentimento agora é o da proteção. Mães são sempre as maiores protetoras e proteção. Esse é o sentimento que fui buscar nas lembranças da minha mãe, que perdi quando tinha 14 anos de idade. Como governador de São Paulo, gostaria de dar uma notícia diferente, mas o cenário é desolador. Teremos que prorrogar a quarentena até o dia 31 de maio", disse Doria.

O estado tinha um plano de flexibilizar a quarentena a partir do dia 10 de maio e, para que cada cidade pudesse retomar o comércio parcialmente, era preciso estar na chamada área verde, de acordo com a taxa de isolamento social alcançada diariamente. Mas a degradação da situação da saúde fez com que São Paulo ficasse somente com áreas vermelhas e amarelas. Um integrante do Centro de Contingência ao Coronavírus revelou ontem ao UOL que estava difícil encontrar uma região que atendesse aos requisitos.

O governador afirmou que reabrir a economia neste momento colocaria em risco milhares de vidas.

Autorizar relaxamento agora seria colocar risco milhares de vidas, o sistema de saúde e, por óbvio, a recuperação econômica. Quero reafirmar aqui, em nome de todos os secretários, retomaremos sim, tão logo possível, na hora certa, no momento adequado. Esse momento, o mais triste da história do nosso país, vai passar. Vai passar se todo mundo ajudar
governador de SP, João Doria (PSDB)

Lockdown

Sobre a possibilidade de a cidade de São Paulo e outros municípios do estado adotarem um lockdown, João Doria afirmou que essa medida ainda não está prevista, mas que não está totalmente descartada.

O fechamento total já vem sendo adotado em capitais brasileiras, como São Luís e Belém.

"Não descartamos nenhuma outra medida mais restritiva. Não estamos propondo lockdown, mas ele não está descartado. Esperamos que isso não tenha que ser praticado, mas isso vai depender muito de vocês [cidadãos]", disse Doria.

O governador ainda falou que a avaliação sobre a implementação do lockdown não seria política. Isso porque o PT, partido de oposição ao governo, anunciou que pedirá ao MP a decretação do isolamento total no estado.

"Não há nenhuma relação de política com saúde, com todo respeito ao partido [PT]. Aqui respeitamos a ciência. Neste momento, não temos o protocolo do lockdown. Acreditamos que as medidas adotadas, a ampliação da quarentena, e a consciência das pessoas podem ser suficientes."

Bruno Covas complementou que a prefeitura ainda espera que as taxas de isolamento vistas no início da pandemia sejam retomadas, o que evitaria a necessidade de uma medida drástica.

Número de mortes cresce 193% e atrapalha plano de reabertura

O projeto de reabertura do comércio foi lançado em 22 de abril, com o nome de "Plano São Paulo". A flexibilização das regras da quarentena foi condicionada à queda na curva de contaminação, testagem massiva de pessoas, alta taxa de isolamento social e disponibilidade de leitos no sistema de saúde. Nenhum dos critérios, porém, foi atingido.

Quando estes requisitos para a reabertura foram apresentados, o secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann, afirmou em coletiva que todas as regiões eram consideradas áreas amarelas e vermelhas. Desde então, o número de casos da covid-19 aumentou 159%, e o de mortes, 193%.

Além disso, a pandemia deixou de estar restrita à região da Grande São Paulo. Um estudo do Instituto Butantan divulgado ontem mostrou que 38 cidades passam a ter casos da covid-19 a cada três dias. A doença está em 371 dos 645 municípios paulista. A previsão é que até o final do mês todas as cidades tenham habitantes infectados.

As UTIs dos hospitais da Grande São Paulo estão com 89% de ocupação. A Secretaria de Saúde já falou em enviar pacientes para o interior e abrir negociação com hospitais privados, medida que a prefeitura de São Paulo já precisou adotar. Outro fator que impediu a reabertura dos negócios foi o isolamento social insuficiente.

Por fim, a taxa de adesão ao isolamento fechou em 47% nos últimos três dias, percentual insuficiente diante dos 55% vistos como necessários.

O governador havia falado que cidades com menos de 50% estavam excluídas de qualquer possibilidade de reabertura do comércio. O estado monitora 104 municípios, e levantamento do UOL mostrou que 66 deles não atingiram o mínimo estipulado por Doria.