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Covid-19 fez brasileiro voltar dos EUA após 20 anos: 'sofrimento grande'

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

26/05/2020 20h03

"Foi um sinal, foi um alerta", diz Vinícius Monteiro sobre a doença que lhe rendeu uma inflamação no pulmão e uma crise de tosse que durou quase três semanas. Ele viveu por 20 anos nos arredores da cidade de Boston, nos Estados Unidos, mas resolveu voltar ao Brasil após se curar da covid-19.

Ontem, o Brasil ultrapassou pela primeira vez os Estados Unidos em número de novas mortes por covid-19: foram 807 óbitos brasileiros registrados em 24 horas, contra 620 norte-americanos. Hoje, o país passou de 390 mil casos diagnosticados da doença e chegou a 24.512 mortes pela doença. Os EUA são o país com maior quantidade de óbitos pela covid-19 no mundo — 98.261, segundo o CDC (Centro para o Controle e Prevenção de Doenças americano).

Neste contexto, o UOL ouviu brasileiros que moram nos EUA e que, além da relação próxima com a doença, lidam com a preocupação com a família a milhares de quilômetros de distância.

"Foi um sofrimento muito grande, e o que pesou [na decisão de voltar] foi o laço familiar. Para mim foi um sinal, um alerta. Eu já tinha 20 anos lá, tinha resolvido tudo que precisava, então era a hora de voltar. Decidi voltar para casa", conta Monteiro, que diz ter passado três semanas com dores no corpo e tosse seca.

"Eu peguei no começo de fevereiro. Não cheguei a ser internado, porque minha respiração estava dentro do limite, mas foi muito difícil, uma crise de tosse que não parava. Depois de duas semanas, eu voltei ao hospital com o pulmão inflamado e só aí comecei a ter uma pequena melhora", descreve.

Vinícius Monteiro e a prefeita de Framingham, cidade dos EUA - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Vinícius deixou o Brasil para fazer a vida no exterior. Firmou-se no estado de Massachusetts, envolvido com o comércio e também fotografando eventos que aconteciam na região.

Conheceu cantores e jogadores de futebol nestes eventos, mas talvez o encontro que melhor represente seus 20 anos nos EUA tenha sido com a prefeita de Framingham, a cidade onde morou. Yvonne M. Spicer é a primeira mulher negra eleita por voto popular naquele estado americano (veja a foto ao lado).

A covid-19, no entanto, tirou todo o brilho da vida estabelecida nos Estados Unidos. "Enquanto eu estava por lá, perdi meu pai e minha mãe. Ficamos só minha irmã e eu. Não voltei ao Brasil pela crise, que pouco me afetaria lá. Voltei porque sofri duas vezes: comigo mesmo com a doença, e pela minha irmã, que daqui do Brasil não podia fazer nada", conta Vinícius.

No exterior, ele viu a população aderir com mais seriedade ao isolamento social. "Lá onde eu estava, em Massachusetts, quando o governador determinou fechar tudo, o povo realmente foi para casa. Não é questão de ser um país de primeiro mundo, porque lá também tem gente muito pobre. O que acontece é que o governo lá realmente foi firme e liberou incentivos [financeiros] mais rapidamente", opina.

Ele agora mora em Vila Velha com a irmã, Tânia, que é médica. O estado do Espírito Santo contabiliza 487 mortes por covid-19.