Dos EUA, escritor relata "angústia e desespero" com a família no Brasil
Flávio Duncan, 40 anos, é escritor e uma referência em projetos do terceiro setor no Brasil. No começo deste ano, ele se dividia entre o Brasil e os Estados Unidos, onde administra uma plataforma voltada a imigrantes. Com a pandemia de coronavírus, se viu obrigado a ficar nos EUA, não pôde se despedir de uma prima, vítima de covid-19, e agora está preocupado com a família, que flutua entre a angústia e o desespero.
Ontem, o Brasil ultrapassou pela primeira vez os Estados Unidos em número de novas mortes por covid-19: foram 807 óbitos brasileiros registrados em 24 horas, contra 620 norte-americanos. Hoje, o país passou de 390 mil casos diagnosticados da doença e chegou a 24.512 mortes pela doença. Os EUA são o país com maior quantidade de óbitos pela covid-19 no mundo — 98.261, segundo o CDC (Centro para o Controle e Prevenção de Doenças americano).
Neste contexto, o UOL ouviu brasileiros que moram nos EUA e que, além da relação próxima com a doença, lidam com a preocupação com a família a milhares de quilômetros de distância.
"Saber que o que vemos no jornal está muito mais próximo do que imaginamos é muito difícil. Isso já passou da angústia e está beirando o desespero. Um medo grande da perda. Minha mãe tem idade avançada, minhas tias...", conta, emocionado.
Por seu engajamento em projetos sociais, Flávio foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2012. Ele tem livros publicados em vários idiomas e se acostumou a passar semanas longe do Brasil. A covid-19, porém, transforma a distância em apreensão.
"Conversei com meus familiares, e decidimos que eu ficaria aqui [nos EUA]. Infelizmente sei que corro muito mais perigo voltando para casa do que ficando. Mas é muito angustiante, porque é o tempo todo preocupado com a minha família."
O que mais o aflige em relação ao Brasil é a pandemia não ser levada a sério, uma subvalorização que, na visão dele, é alimentada pelo próprio governo federal.
"Os protocolos de proteção e combate [ao vírus] não estão intimamente ligados a recursos públicos, a dinheiro. É óbvio que a pandemia impacta a economia e que Brasil e EUA são países diferentes, mas há uma diferença sensível [entre os países], de o próprio presidente fomentar as pessoas a não seguir estes protocolos", critica, referindo-se ao comportamento de Jair Bolsonaro nesta pandemia.
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