Em entrevista, prefeito de Itabuna tenta explicar "morra quem morrer"
Resumo da notícia
- Prefeito de Itabuna havia dito que reabriria o comércio "morra quem morrer"
- Declaração repercutiu muito mal e governador decretou toque de recolher
- Em entrevista após o episódio prefeito tenta se explicar e diz que está sob muita pressão
- Segundo o prefeito, comércio não essencial de Itabuna está fechado há 115 dias
O prefeito de Itabuna (BA), Fernando Gomes (PTC), em entrevista para tentar explicar a declaração, disse que estava sob pressão ao afirmar que autorizaria a reabertura do comércio da cidade "morra quem morrer".
"A gente diz as coisas e coloca umas palavras soltas, de raiva, já que está na pressão. Não colocaram o que eu disse antes.(...) A pressão que estou levando ser humano nenhum aguenta. O governador está no palácio, prefeito está no palácio e prefeito está na rua. O Hospital de Base de Itabuna está hoje com 82 leitos, 10 leitos de UTI. Eu ia abrir [o comércio] e quando chegou na segunda-feira estourou [o número de casos da Covid-19] , encheu a Santa Casa e os 10 leitos de UTI do Hospital de Base. Sabe o que aconteceu? O prefeito que se vire para resolver o problema", disse Gomes ao G! na última sexta-feira (3)
O prefeito tem 81 anos e está no quinto mandato a frente da cidade, localizada no sul da Bahia.
A declaração polêmica de Gomes ocorreu numa transmissão na internet, na última quarta-feira (1), sobre a reabertura do comércio na cidade, e repercutiu nacionalmente.
A prefeitura de Itabuna pretendia reabrir o comércio dia 1, mas adiou os planos quando o município registrou 100% de ocupação dos leitos de UTI para pacientes com a Covid-19, após alerta da Procuradoria Jurídica do Município.
De acordo com o último balanço divulgado pela prefeitura de Itabuna, na sexta-feira, a cidade contabiliza 2.863 casos confirmados da Covid-19, 1.136 pessoas curadas e 72 mortes. Dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), informados no mesmo dia, dão conta de que o município é o quinto da Bahia com maior coeficiente de incidência por 100 mil habitantes.
"Com a dúvida, com os nossos morrendo por causa de um leito em Itabuna, vou transferir essa abertura. No dia 8, mandei fazer o decreto, que no dia 9 abre, morra quem morrer", disse o prefeito na declaração do dia 1.
Comércio fechado há 115 dias
Na entrevista, Gomes disse que o comércio não essencial da cidade já está fechado há 115 dias, mas garantiu que não tem qualquer descaso pela vida da população.
"A pressão que recebo hoje em Itabuna, pouco ser humano aguenta receber. Uma palavra que eu disse. Agora querem criticar. Tudo política. Se você está em uma pressão, solta uma frase qualquer. Se está numa guerra, solta uma frase. Uma frase que um homem que está governando o município. Quer matar alguém? Não. Minha preocupação sabe o que é? O comércio está há 115 dias fechado".
Gomes disse estar arrependido da declaração: "Sim [me arrependo]. Você solta uma frase... Bolsonaro solta, presidente dos EUA. Diz uma coisa e sai outra. É na pressão, o cara está nervoso com a pressão. Não é verdadeira [a frase] porque eu sempre procurei nos meus governos saúde e educação", continua.
Toque de recolher
Um dia depois da declaração do prefeito, o governador da Bahia, Rui Costa, decretou toque de recolher em Itabuna. Fernando Gomes explica que já tinha decidido pela medida por três vezes mas, na última, a Justiça suspendeu o decreto municipal.
"Fiz o primeiro, segundo e terceiro [toque de recolher]. Só que o juiz de Itabuna derrubou meu decreto. Aí disse ao governador, que decretou. O juiz que não vai na rua, não vê a situação, derruba. A lei é para se cumprir".
"[O governador] falou comigo, conversamos tudo. Uma frase que eu disse. Quem mais fez e faz pela vida sou eu em Itabuna na história. A imprensa bota só uma palavra. Estou consciente, sou cara de fé, sei o que estou fazendo", disse Gomes.
Insiste com reabertura
O prefeito de Itabuna reafirma o desejo de abrir o comércio da cidade, mas com segurança.
"Quero abrir comércio com segurança. Se eu tivesse, hoje, 20 leitos disponíveis, abriria hoje. Tem que ter normas, começar 9h e terminar 16h, todo mundo com máscara, álcool em gel na porta. Meu decreto é duro".
"Vida é vida. O que está acontecendo nesse país...O desemprego é grande, situação difícil. Temos que combater o vírus e depois resolvemos a fome. Medidas duras têm que ser tomadas", afirmou.
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