Ex-Saúde não vê prejuízo com Pazuello, mas alerta: Brasil 'não é só covid'
O ex-secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, disse não ver prejuízo no fato de que o atual ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, ocupa o cargo apenas interinamente. Para Wanderson, a maior preocupação é que a pasta não tem que cuidar apenas do novo coronavírus — mas também de campanhas de vacinação e outras doenças, como AIDS e dengue.
"Do ponto de vista da resposta à covid-19, não vejo prejuízo. No entanto, o Ministério da Saúde não é só covid", alertou em entrevista à CNN Brasil. "É necessário que possamos conviver com o coronavírus inserido em um contexto em que temos AIDS, hepatite, sífilis, sarampo, a sazonalidade da dengue..."
Wanderson reforçou que a questão da posição de ministro em si não é a única que importa, citando a vacância de cargos do terceiro e quarto escalões do Ministério da Saúde como exemplos.
"Na secretaria onde atuei [Vigilância em Saúde], ainda tem dois cargos de diretoria e dois cargos de coordenação geral que estão sendo ocupados por interinos. Isso dificulta até a preparação para a saída do enfrentamento da pandemia. O ideal é termos uma equipe que possa organizar o trabalho para o médio e longo prazo", avaliou.
Questionado sobre o que teria motivado sua saída da pasta, Wanderson citou a "politização de um momento tão importante" como fator preponderante. Para o secretário, "as ideologias e demais preocupações" deveriam ser secundárias em meio ao combate a uma pandemia.
Ele ainda fez uma associação entre a maneira com que o Brasil tem lidado com a covid-19 com a que torcedores encaram a Copa do Mundo de futebol. "É quase uma Copa do Mundo, quando todo mundo vira técnico de futebol. Eu sou epidemiologista, e todo mundo virou epidemiologista [também]", afirmou.
Críticas à flexibilização
Sem citar estados ou municípios específicos, o ex-secretário também disse "não ver sentido" no processo de flexibilização da quarentena adotado em alguns lugares. Ele alertou para o fato de que grande parte do País está agora no período de maior circulação de outros vírus respiratórios — além do coronavírus.
"Não faz sentido essa reabertura da maneira que tenho acompanhado. Sei que muitos estados estão buscando elaborar estratégias de classificação por região, por graduação de risco, mas estamos no período em que a circulação de vírus respiratórios é maior, então a demanda por leitos hospitalares cresceu", explicou.
Na avaliação de Wanderson, as regiões Norte e Nordeste estão mais aptas hoje a fazer "algum nível" de flexibilização do que as demais. Isso porque, ainda que elas também esteja oficialmente no inverno, seu período de maior circulação de vírus respiratórios acontece a partir de março, e não agora, como no Sudeste e no Sul, por exemplo.
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