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Bahia: prefeitura cria delivery de 'kit covid' com cloroquina e ivermectina

Prefeitura de Itagi diz que a entrega em domicílio do "kit-covid" (foto) integra plano de combate à pandemia - Reprodução
Prefeitura de Itagi diz que a entrega em domicílio do "kit-covid" (foto) integra plano de combate à pandemia Imagem: Reprodução

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

12/07/2020 22h40Atualizada em 13/07/2020 19h06

A Prefeitura de Itagi, município do sudoeste da Bahia, anunciou que começou a distribuir hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina para todos os moradores com sintomas do novo coronavírus. Os remédios não têm eficácia comprovada no tratamento da covid-19.

Segundo a prefeitura, a iniciativa de entregar o "kit-covid" em domicílio faz parte do plano local de enfrentamento à pandemia e tem como objetivo evitar que as pessoas precisem se deslocar até a farmácia. Em postagem nas redes sociais, a ação é definida como "pioneira" e destinada "a todos os pacientes sintomáticos" de covid-19.

O município de 14 mil habitantes tem hoje 160 casos notificados de coronavírus e 37 pessoas em quarentena, de acordo com o boletim epidemiológico mais recente.

"A Secretaria da Saúde, de acordo com o plano de enfrentamento à COVID-19, a fim de evitar que pacientes dessa doença se desloquem para farmácias, criou o KIT-COVID que está sendo entregue, em domicílio, a todos os pacientes sintomáticos", diz o texto da prefeitura, sob gestão do médico Olival Andrade Junior (PPS).

A publicação, no entanto, não esclarece quais foram os critérios adotados para que os moradores os recebam em casa, uma vez que sua utilização necessita de prescrição médica.

O UOL procurou o prefeito Olival Andrade, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Prefeitura não tem autorização, diz secretário estadual

O secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, informou que a Prefeitura de Itagi não tem autorização para realizar esse tipo de ação, uma vez que a dispensação de hidroxicloroquina só deve ser feita com a apresentação de receita médica e entregue por um farmacêutico.

Ele diz que acionará a Vigilância Sanitária estadual para apurar o caso.

"Não se pode fazer a distribuição dessa forma. Existe uma legislação que precisa ser seguida. A hidroxicloroquina é uma medicação que tem que ser dispensada por um profissional farmacêutico dentro de uma unidade [de farmácia]", afirmou o secretário ao UOL.

Anvisa faz alerta sobre ivermectina

Na última quinta-feira (9), mesmo dia em que a Prefeitura de Itagi anunciou a distribuição dos kits, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez um alerta não recomendando o uso de ivermectina contra o coronavírus.

Segundo o órgão ligado ao Ministério da Saúde, o comunicado foi feito diante das notícias recentes de que algumas prefeituras pelo Brasil o distribuirão como forma de tratamento e até prevenção à covid-19. A agência lembrou que a ivermectina é recomendada contra parasitas.

Já o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina entrou na agenda política da pandemia no país por causa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, por meio de uma portaria, determinou que o Ministério da Saúde ampliasse a administração de ambos em pacientes com sintomas leves de covid-19.

Antes da mudança do protocolo, a indicação dos medicamentos era apenas para pessoas com sintomas graves e críticos e em acompanhamento hospitalar.

Diagnosticado com o vírus na última semana, Bolsonaro divulgou ao menos dois vídeos em que aparece fazendo uma defesa enfática da cloroquina, com a qual, segundo ele, tem se tratado desde que começou a ter sintomas.

Ainda não foi comprovada cientificamente a eficácia da hodroxicloroquina e a da cloroquina no combate ao novo coronavírus.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A matéria mencionou incorretamente um estudo da revista The Lancet que questionava a eficácia da hidroxicloroquina e da cloroquina no combate ao coronavírus. Posteriormente, a revista admitiu erros na pesquisa. A informação foi retirada do texto.
Diferentemente do publicado no terceiro parágrafo, a cidade tinha 160 casos notificados (e não confirmados) de covid-19 e 37 pessoas em quarentena no momento da publicação da matéria, e não 152 e 42, respectivamente. As informações foram corrigidas.