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Mandetta vê 'novo normal' a partir de setembro e chegada da vacina em 2021

Margareth Dalcolmo, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Atila Iamarino debatem coronavírus na GloboNews em 12 de julho - reprodução/GloboNews
Margareth Dalcolmo, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Atila Iamarino debatem coronavírus na GloboNews em 12 de julho Imagem: reprodução/GloboNews

Do UOL, em São Paulo

12/07/2020 21h51

Um debate na noite de hoje colocou os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich frente a frente na GloboNews. Os dois últimos ministros da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) apresentaram suas perspectivas sobre quando acreditam que a população do Brasil poderá "voltar ao normal" após longos meses de enfrentamento do coronavírus. O primeiro acredita que a chamada nova normalidade terá início em setembro.

"Eu acho que a gente vai até setembro passando por essa onda maior. A partir de setembro, esse novo normal com distanciamentos relativos, mas com as cidades funcionando, vai ser a tônica", opinou Mandetta. "Este novo normal vai acontecendo de maneira mais comum neste segundo semestre até a chegada da vacina, que eu espero para o começo do ano que vem."

O primeiro ministro da Saúde do atual governo, que foi exonerado por Bolsonaro em abril, crê que o que ele chama de "grande pico" seja sucedido por sequências de "surtos menores" do coronavírus.

"Depois você tem surtos menores do que o surto principal, então talvez o que a gente vá assistir agora seja isso: uma epidemia com grande pico, uma grande montanha, e depois uma sequência de pequenos morrotes até que a gente tenha uma vacina que dê imunidade coletiva. Mas ainda no campo da suposição. Esse primeiro batismo brasileiro é de 20 semanas, a partir de março, terminando em setembro", afirmou.

Mandetta disse acreditar que sua gestão à frente da pasta corria bem por investir em trabalho estatístico, mas deixou claro que não aprovou a troca dos técnicos da Saúde. "Trocar um ministro, tudo bem. O ministro é mais ou menos um porta-voz da sua equipe, tem vários atores nesta história", começou.

"Nós temos o Supremo [Tribunal Federal], o TCU [Tribunal de Contas da União], o próprio Executivo, o conjunto de ministros... As soluções são múltiplas. Mas quando você troca o pessoal do segundo e do terceiro escalões e coloca todo mundo novo, aí é muito difícil", argumentou Mandetta.

"Eu não sei como foi dada a sequência a esse exercício de bioestatística. Nós tínhamos um setor somente para isso, com gente muito forte. Mas eu tenho muita dificuldade para saber como eles estão usando isso hoje", acrescentou o ex-ministro, que vê a falta de diálogo da União com estados e municípios como um problema.

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Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde
Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

"O SUS é o pacto federativo vivo, mas alguns estados apresentaram planos de contingência terminando hospitais, outros apresentaram planos reativando hospitais paralisados, e outros apresentaram a característica do hospital de campanha. Alguns fizeram isso sem o diálogo necessário entre estado e município. O Rio de Janeiro é exemplo disso, não houve diálogo entre os dois. Cada um saiu fazendo do seu entendimento de sistema de saúde", explicou.

"Enfim, fazer a gestão de especialistas seria um papel da União como moderador da utilização deste parque adquirido. Literalmente, a União saiu dessa pactuação, então a gente está vendo estados e municípios fazendo de acordo com as suas impressões da doença", concluiu Mandetta.

Teich complementou a fala do antecessor com elogios a Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde. "Eu mantive o Wanderson por isso, ele era uma pessoa fundamental. Para tudo que foi iniciado na gestão do Mandetta, a permanência do Wanderson garantia continuação. Quando eu falo que é preciso ter inteligência, eu não quero dizer que falta inteligência, só que não está sendo usada", afirmou.

Teich compara máscara a cinto de segurança e pede novo plano

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Nelson Teich, ex-ministro da Saúde
Imagem: EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Ao longo do debate, Nelson Teich defendeu que seja elaborado um novo plano de combate ao coronavírus —mesmo se isso exigir o reinício de todo o planejamento.

"Eles podem pegar os hospitais que estão vazios e usar esse espaço para as pessoas ficarem protegidas, e suas famílias também. É muito difícil ficar em um cômodo separado quando o quarto é pequeno. Como a gente não sabe como [o coronavírus] vai evoluir, ainda é tempo de parar e refazer a estratégia", analisou Teich.

"Mesmo que a gente tenha de começar um pouquinho do zero, acho que vai ser importante. (...) A gente não consegue hoje enxergar com clareza critérios para saída, a gente tem critérios para tentar sair. Fica esse 'vai e volta' que provavelmente vai trazer mais angústia", afirmou.

O ex-ministro da Saúde (último titular da pasta antes do interino Eduardo Pazuello) diz acreditar que a pesquisa e a ciência são aliadas imprescindíveis para as autoridades sanitárias. Teich disse que, além de estudar medicamentos, também é necessário analisar o que tem funcionado nos modelos de distanciamento e uso de máscaras.

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Nelson Teich coloca máscara antes de pronunciamento
Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

"A covid-19 é tão confusa que a gente tem de recomeçar a planejar todo dia. Se existe alguma coisa confusa, o que você vai fazer? Para, repensa, faz as projeções e reestrutura o sistema para isso. (...) Se você reparar bem, o conhecimento que a gente tem hoje sobre estratégia de distanciamento é o mesmo que a gente tinha quando a pandemia começou. Quando eu falo da inteligência, é isso. A gente tem de trazer a academia para fazer pesquisa, não só em relação a remédio, mas sobre distanciamento, uso de máscara", iniciou.

"Que o isolamento e o distanciamento funcionam, isso é certo. A pergunta é: qual é a forma certa de usar? Em que momento eu uso isso? É isso que está faltando, é o que vai nos dar a condição de ter as rédeas nas mãos. Hoje a gente não tem isso. Hoje, a gente está sendo conduzido pela situação. Um dos maiores problemas que a gente tem hoje é falta de informação", acrescentou Teich, que, em seguida, deu um exemplo sobre UTI.

"Se eu não tenho informação do que acontece na ponta, eu não consigo entender o que está acontecendo ao longo do caminho. Eu não conseguia saber a mortalidade das diferentes UTIs. Eu tenho certeza de que a mortalidade é diferente entre elas, mas o que causava isso? Eram os profissionais, o equipamento? Se eu tivesse essa informação do que acontece em cada UTI, eu poderia saber quem performa melhor. Assim, você pode copiar boas práticas. A gente não tinha isso. Quando você descentraliza sem informação e coordenação, você tem muita fragmentação. E o que é fragmentado é ineficiente", alertou.

Para o ex-ministro, a população terá de se acostumar ao uso das máscaras da mesma maneira como se adaptou e passou a utilizar o cinto de segurança em veículos de transporte.

"O que me parece que vai acontecer é que provavelmente a gente vai mudar os hábitos: passar a usar máscara de forma rotineira. É uma analogia não muito boa, mas talvez seja como o que aconteceu com o cinto [de segurança]", opinou Teich.