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Médica afastada pelo Einstein pede desculpas após fala sobre holocausto

Gilvan Marques

Do UOL, em São Paulo

12/07/2020 18h28

A médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi, suspensa temporariamente pelo Hospital Albert Einstein, onde trabalha, pediu desculpas e disse ter havido "interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico".

O comitê de ética do hospital investiga uma declaração da médica feita ao programa "Impressões", da TV Brasil, quando ela afirmou que "você acha que alguns poucos militares nazistas conseguiriam controlar aquela massa de rebanho de judeus famintos se não os submetessem diariamente a humilhações, humilhações, humilhações...". Nise Yamaguchi será ouvida ainda esta semana e o presidente do hospital, Sidney Klajner, não descarta a possibilidade de demissão.

"É, portanto, inegável que o posicionamento da Dra. Nise Yamaguchi nunca foi antissemita, ao contrário, expressa verdadeira e irrestrita admiração ao conhecimento e toda a contribuição que o povo judeu deu ao planeta, quer por suas percepções científicas, quer pela sua convivência mais íntima, como por exemplo, de sua irmã Greice Naomi Yamaguchi convertida ao judaísmo", disse ela, em comunicado enviado ao UOL, hoje, por meio de seu advogado, Danilo Garcia de Andrade.

"Por fim, [a doutora Nise] manifesta o pedido de desculpas por expressões outras e interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico que envolveram seu nome, pois é solidária à dor dessa ilustre comunidade como a maior das atrocidades de nossa história ocidental", completou.

Ao UOL, por telefone, Nise Yamaguchi disse que não iria falar sobre o assunto e que prefere ficar "quietinha".

Médica que defendeu a hidroxicloroquina, como forma de tratamento para a covid-19, Nise Yamaguchi revelou na sexta, em entrevista ao SBT, que foi suspensa pelo Hospital Albert Einstein, onde trabalha há mais de 30 anos.

Na entrevista, ela citou dois motivos para o afastamento: a sua defesa pelo medicamento (ainda sem comprovação científica de sua eficácia) e uma fala que compara o medo da pandemia ao holocausto, em entrevista à TV Brasil.

"Eu recebi uma ligação do diretor clínico do hospital me informando que, a partir deste momento, eu não poderia estar exercendo as minhas funções no hospital, não poderia estar prescrevendo e nem atendendo aos meus pacientes que já estão internados", disse ela.

"Eles acreditam que a minha fala em prol da hidroxicloroquina não tem fundo científico denigre o hospital, porque todo mundo relaciona a minha presença à imagem do hospital. E eu sempre tenho colocado que eu não falo pelo hospital. Eu faço a defesa da hidroxicloroquina porque eu tenho certeza que ela cura nas fases iniciais", acrescentou.

Ao UOL, a assessoria do Hospital Albert Einstein justificou o afastamento devido aquilo que classificou como "analogia infeliz e infundada entre o pânico provocado pela pandemia e a postura de vítimas do holocausto". (Assista ao vídeo abaixo)

"Como se trata de manifestação insólita, o hospital [entendeu] por bem averiguar se houve mero despropósito destituído de intuito ofensivo ou manifestação de desapreço motivada por algum conflito. Durante essa averiguação, que deve ser breve, o hospital não esperava que o fato viesse a público", lamenta o hospital.

"A expectativa do hospital é a de que o incidente tenha a melhor e mais célere resolução, de modo a arredar dúvidas e remover desconfortos", conclui, sem dar prazo de quanto tempo a médica ficará suspensa.

Nise Yamaguchi é considerada uma das principais defensoras do uso da hidroxicloroquina em pacientes leves e moderados com coronavírus e já afirmou que o a medicamento deveria ser usado em pacientes que ainda não tivessem sido internados, apesar de que ainda não há comprovação científica de sua eficácia.

A médica foi, inclusive, um dos nomes cotados para ocupar a vaga de Nelson Teich no Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Na época, ela chegou a dizer em entrevista ao UOL que aceitaria o convite caso fosse convidada pelo presidente.

Nas redes sociais, bolsonaristas protestaram contra a suspensão da médica e pesquisadora do Hospital Albert Einstein.

Comunicado de Nise Yamaguchi

A Dra. Nise Yamaguchi reitera o agradecimento das inúmeras manifestações de apoio e solidariedade de todos aqueles que compreendem a importância sobre os estudos e tratamentos precoce com a Hidroxicloroquina ao combate da covid - 19, pesquisa essa que encontra ressonância com o trabalho incessante que desenvolve conjuntamente com o Doutor Vladimir Zelenko da Comunidade Chassidica de Nova York pela utilização desse Protocolo no Mundo.

Exerce a medicina como membro do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein por mais de 30 (trinta) anos, possibilitando ajudar e atender milhares de pacientes, contribuindo com a história da referida Instituição conjuntamente com inúmeros notáveis que ali possibilitaram e possibilitam o avanço do debate em prol da saúde e da vida.

Dentre as suas inspirações estão os brilhantes cientistas judeus, os quais destaca homenagens à pessoa do seu mentor, o Professor Doutor Reuben Lotan (Z"L) do M.D. Anderson Cancer Center e previamente do Instituto Weizmann de Israel, que muito a apoiou na sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo.

Nunca houve por parte de nossa cliente qualquer manifestação separatista, racista e/ou xenofóbica de qualquer sorte, o que houveram foram apenas interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico que envolveram sua biografia, pois é solidária à dor dessa ilustre comunidade como sendo a maior das atrocidades de nossa história ocidental.

É, portanto, inegável que o posicionamento da Dra. Nise Yamaguchi nunca foi anti-semita, ao contrário, expressa verdadeira e irrestrita admiração ao conhecimento e toda a contribuição que o povo judeu deu ao planeta, quer por suas percepções cientificas, quer pela sua convivência mais íntima, como por exemplo, de sua irmã Greice Naomi Yamaguchi convertida ao judaísmo.

Por fim, manifesta o pedido de desculpas por expressões outras e interpretações errôneas sobre assuntos sensíveis ao grande sofrimento judaico que envolveram seu nome, pois é solidária à dor dessa ilustre comunidade como a maior das atrocidades de nossa história ocidental.

Atenciosamente,

DANILO GARCIA DE ANDRADE