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Bolsonaro diz que Mandetta 'semeava pânico' e volta a criticar quarentena

Do UOL, em São Paulo

16/07/2020 19h36

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje que Luiz Henrique Mandetta, seu ex-ministro da Saúde, "semeava pânico" com o discurso sobre isolamento, quarentena e a necessidade de "achatar a curva" do novo coronavírus.

"Olha o problema que vamos ter pela frente. Vamos preservar vidas? Sim. Mas repito: quando resolveram lá atrás partir para o achatamento da curva... Lembra do Mandetta: vamos achatar curva, caminhão do Exército pegando corpos na rua, semeando pânico. O objetivo de achatar curva é que o Brasil se preparasse para que os hospitais pudessem atender os contaminados. Não temos vacina e remédio comprovado cientificamente ainda. Está sobrando leitos. Tem que começar a abrir", defendeu.

"A crise, morte, suicídio, depressão está chegando. Qualquer chefe tem de decidir [sobre reabertura]. Pior que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Tomar cuidado, sim. Houve neurose. Ninguém disse que não ia morrer, está morrendo gente, infelizmente, alguns acham que dava para diminuir o número de óbitos. Diminuir como? Devemos tomar cuidado com os mais velhos, mas, mais cedo ou mais tarde, esse idoso não está livre de ser contaminado pelo vírus. É a realidade", acrescentou.

As críticas de Bolsonaro ao plano de combate dos estados e municípios à pandemia foram feitas hoje, na live tradicionalmente realizada às quintas-feiras no Facebook e no YouTube. O presidente da República, que diz ter sido contaminado pelo coronavírus, falou sobre o tema enquanto exibia uma caixa de hidroxicloroquina na mesa. O medicamento para malária ainda não tem eficácia comprovada no tratamento para a covid-19.

"Não sou garoto-propaganda de nada, estou orientando procurar um médico e ver o que ele acha disso. E você decide, assina o termo e toma", afirmou Bolsonaro, que, em seguida, sugeriu como a substância deveria ser tomada contra o coronavírus. "Tem que tomar no início. Tinha o protocolo anterior do 'seu' Mandetta que só podia usar cloroquina em paciente grave. Em caso grave não funciona", disse o presidente.

"Ainda tem estados que estão proibindo a cloroquina. Se não tem alternativa, por que proibir? Não tem comprovação cientifica de que não tem, e nem de que tem [medicamento eficaz para covid-19]. Tem muita gente, como no meu caso, que toma e vão embora os sintomas. Por que negar? Não tem outra alternativa. Imagina daqui um tempo. Vai ter comprovação científica mais cedo ou mais tarde. Os que proibiram, quantas mortes poderiam ser evitadas?", questionou.

Cloroquina é ineficaz, dizem OMS e médicos

Na semana passada, a OMS (Organização Mundial da Saúde) reafirmou que a substância é ineficaz no tratamento da covid-19. Soumya Swaminathan, cientista-chefe do órgão, explicou o motivo de os ensaios com a hidroxicloroquina terem sido suspensos. "Todo nosso trabalho faz parte de um processo bem estabelecido, claro que estamos melhorando este processo. Fazemos uma revisão sistemática das evidências e isso demora, pois temos um grande número de estudos. Interrompemos o ensaio da hidroxicloroquina pela segurança, já que não podemos colocar a vida das pessoas em risco. Temos evidências suficientes para saber que não há nenhum impacto para pacientes hospitalizados com covid-19", disse ela.

No mês passado, o Hospital Israelita Albert Einstein, um dos mais respeitados no país, informou que "não recomenda" que médicos tratem pacientes da instituição com cloroquina.

O documento, assinado pela direção do hospital, afirma que não há evidências de que o medicamento reduz a mortalidade e o tempo de internação ou evite o uso de ventilação mecânica em pacientes graves. Também argumenta que possíveis benefícios da cloroquina não superam seus riscos.

Bolsonaro é alvo de uma representação que pede apuração de ato de improbidade administrativa, por incentivar e determinar o aumento de produção de cloroquina, substância cuja eficácia é rejeitada por cientistas. A representação apresentada pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) contra Bolsonaro foi feita à Procuradoria-Geral da República.

Brasil bate 2 milhões de casos de covid-19

O Ministério da Saúde incluiu nas últimas 24 horas mais 45.403 registros de infecção por coronavírus no Brasil. Com isso, o país ultrapassou a marca de 2 milhões de diagnósticos da covid-19 desde o início da pandemia. O total de infectados é de 2.012.151.

A pasta também contabilizou de ontem para hoje 1.322 novas mortes, com o acumulado de vítimas chegando a 76.688 em todo o país. Foi o pior dia do mês de julho, com o maior registro de óbitos em 24 horas desde 23 de junho, quando o ministério incluiu 1.374 mortes nas contas oficiais. O recorde anterior do mês tinha sido registrado na última terça-feira (14), quando 1.300 óbitos foram somados.