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Entenda a aplicação retal de ozônio sugerida por prefeito contra a covid-19

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

04/08/2020 16h40Atualizada em 05/08/2020 08h36

O prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni (MDB), anunciou ontem que a cidade fará parte de um estudo para utilizar a ozonioterapia por via retal no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus.

A falta de comprovação científica do método causou polêmica após o anúncio do político, uma vez que o CFM (Conselho Federal de Medicina) desaconselha o uso laboratorial da ozonioterapia, assunto que virou meme nas redes sociais.

Em junho, a Aboz (Associação Brasileira de Ozonioterapia) conseguiu autorização do Conep (Conselho Nacional de Ética e Pesquisa) para liderar dois estudos com ozônio: um deles com pacientes ambulatoriais e outro com doentes já internados com covid-19.

As conclusões da associação são de que a aplicação de ozônio pelo ânus é uma opção "dez vezes mais barata" do que a versão intravenosa. Quem explica a diferença estimada de custo e o método utilizado é o presidente da Aboz, o cardiologista e sanitarista Arnoldo de Souza.

Falta comprovação

O Conep autorizou ao todo três estudos envolvendo a utilização do ozônio no tratamento de covid-19. Em um deles, protocolado em abril, a conclusão foi de que faltam "estudos clínicos em humanos que demonstrem o efeito de tratamento com ozônio naqueles infectados por coronavírus".

"O efeito da ozonioterapia em humanos infectados por coronavírus é desconhecido e não deve ser recomendado como prática clínica ou fora do contexto de estudos clínicos", conclui estudo submetido pela Sobom (Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica) em abril.

O CFM emitiu uma resolução em 2018 em que proíbe aos médicos a prescrição de ozonioterapia em consultórios e hospitais. A exceção pode acontecer em caso de participação de pacientes em estudos de caráter experimental, com base em protocolos clínicos e critérios definidos pela Conep, como é o caso do estudo em Itajaí.

O CRM (Conselho Regional de Medicina) de Santa Catarina afirmou em nota que "o volume de estudos e trabalhos científicos adequados sobre a prática ainda é incipiente e não oferece as certezas necessárias" para tratar quem foi infectado pelo novo coronavírus.

Souza, porém, rebate a afirmação dizendo que os testes da Aboz levam em conta estudos "com resultados contra a covid-19" desenvolvidos na Espanha, Itália e China.

"É uma das técnicas aprovadas na prática integrativa do SUS (Sistema Único de Saúde)", diz. "No CFM está no campo experimental, mas é autorizado na Alemanha, Rússia, Itália, Índia e Portugal", afirma.

Autorização para o teste

"O prefeito de Itajaí se referiu ao projeto que testará o ozônio em pacientes tratados ambulatorialmente", afirmou Souza. "Já tocamos o estudo em uma clínica em Governador Valadares (MG), outra no Rio de Janeiro e outra em Araraquara (SP)."

"A pesquisa contará com dois grupos. Um deles receberá apenas o tratamento convencional e outro receberá o convencional além da ozonioterapia pela insuflação via retal", explica.

Essa é a forma pelo menos dez vezes mais barata de usar do que a versão intravenosa, pelo soro
Arnoldo de Souza, presidente da Aboz

Além de mais barato, o método é "mais simples, com a mesma eficiência, indolor e sem constrangimento", garante o médico. "Por isso esse critério de testar em pacientes no ambulatório, que abarca mais gente."

Embora não mencione valores, Souza diz que a Aboz conseguiu a oferta gratuita dos aparelhos de ozônio "junto aos fabricantes". "A prefeitura vai usar o oxigênio, as seringas e sondas retais que já tem em estoque. Não terá custos adicionais. Será simples, barato e viável."

Constrangimento?

Enquanto conversava com o UOL, Souza recebeu uma ligação do prefeito de Itajaí. Ele buscava mais informações para responder às "maledicências da oposição", que estaria questionando o método retal.

"Temos de vencer o preconceito. A técnica é viável, digna, não constrange e, com ética, terá resultados de forma menos agressiva por não precisar furar uma veia", diz Souza.

Promessas do tratamento

Segundo o médico, o ozônio foi utilizado pela primeira vez em 1915 por um cirurgião alemão que evitou a amputação de soldados utilizando o método, conhecido por esterilizar ambientes.

Souza garante que, uma vez no corpo humano, o ozônio "melhora a oxigenação do sangue, é bactericida e leva glicose para a célula, controlando o metabolismo".

"Ele também protege o sistema imunológico ao melhorar a oxigenação, combater a inflamação e a dor crônica", diz.

Os resultados, no entanto, estão longe de serem divulgados. A Aboz tem um ano para apresentar os achados, conforme aprovação do registro no Conep.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que dizia a reportagem, os especialistas utilizam sonda retal e não uretral e os efeitos do ozônio são bactericidas e não antibactericidas. As informações já foram corrigidas.