Doria: O que está valendo é intenção de comprar vacina feita por Pazuello
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que "o que está valendo" é a intenção de compra do ministério da Saúde para adquirir 46 milhões de doses da vacina contra o coronavírus produzida pelo Instituto Butantan (em São Paulo). O governador foi perguntado por jornalistas se havia sido comunicado sobre a intenção de Bolsonaro de cancelar o ofício, assinado há dois dias pelo ministro Eduardo Pazuello, em que manifestou intenção da compra.
"O que está valendo é aquilo que está assinado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Ele é ministro de estado e ministro do governo federal", afirmou Doria na tarde de hoje, após participar de reunião com o presidente interino da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barras.
O protocolo de intenções foi assinado no dia 19 de outubro e anunciado ontem em reunião realizada entre governadores e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Porém, na tarde de hoje, o presidente anunciou que mandará cancelar o acordo assinado pelo ministro.
Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade (...) Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado nela, a não ser nós
Jair Bolsonaro
Mais cedo, em suas redes sociais, o presidente já havia exposto sua insatisfação com a repercussão das negociações referentes ao acordo mediado pelo ministro Pazuello para compra da CoronaVac. Bolsonaro recebeu várias críticas de apoiadores —alguns se disseram "traídos"— e mensagens que pediam que ele não adquirisse vacina produzida por uma "ditadura comunista". Em resposta, disse que não compraria a "vacina chinesa de João Doria" e que o povo brasileiro não seria "cobaia".
No dia de hoje, o governador de São Paulo cumpriu agenda oficial em Brasília. Ele tinha reunião agendada com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas foi cancelada por indisposição do deputado. Ele alegou que comeu algo que lhe fez mal. A reunião foi cancelada após Bolsonaro desautorizar Pazuello publicamente e negar a compra de vacinas do Butantan.
Pazuello oficializou, em documento enviado ao governo paulista dia 19 de outubro, a intenção de adquirir 46 milhões de doses da vacina produzida pelo Butantan.
O ofício está redigido sob o título: Vacina Butantan-Sinovac para o PNI (Programa Nacional de Imunizações). No documento, Pazuello argumentou que a manifestação "não tem caráter vinculante", uma vez que somente será possível prosseguir com o processo de aquisição após o regular registro da vacina na Anvisa", informa o documento.
Financiamento
Questionado se há um "plano B" para financiar a produção das doses, caso o governo federal não custeie parte da produção, disse que vai pensar no "plano Brasil".
"Vou pensar no plano Brasil. A vacina do Brasil a vacina do Covid", disse.
Ele respondeu que o correto é o financiamento pelo governo federal. "Por três décadas tem sido assim, 30 anos tem sido assim", completou.
O Butantan busca acordo de R$ 1,9 bilhão para financiar a produção e desenvolvimento de pesquisas ligadas à vacina de coronavírus e se oferece para distribuir a vacina para todo país.
Disputa com Doria
A CoronaVac é peça central de um novo conflito entre Bolsonaro e o governador João Doria (PSDB), ex-aliados que se tornaram desafetos e possíveis concorrentes na eleição presidencial de 2022.
Bastante irritado, o chefe do Executivo federal disse que não fala com Doria, que o "diálogo é zero", e acusou o tucano de agir por interesse eleitoral. "Parece que é a última cartada dele na busca de popularidade ou para retratar tudo aquilo que ele perdeu durante a pandemia."
Acordo anunciado por Pazuello
O anúncio do acordo para aquisição das vacinas Coronavac ocorreu ontem, em uma reunião entre Pazuello e 24 governadores —incluindo Doria. "Temos 140 milhões de doses da Astrazeneca que chegam a partir de janeiro, mas pode ser fevereiro. Se o Butantã nos fornecer essas 46 milhões de doses iniciais, a gente já consegue iniciar a vacinação", disse o ministro da Saúde.
Hoje, no entanto, Bolsonaro desautorizou o seu próprio ministro e disse que o governo não comprará a vacina. A justificativa é que o imunizante ainda não tem eficácia comprovada.
Embora tenha ressaltado que a premissa para compra de vacina destaca-se pela segurança e eficácia conforme aprovação da Anvisa, o governo federal assinou, em agosto, MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca. No Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz.
As vacinas da Sinovac e da Astrazeneca estão na mesma fase 3, o estágio em que são feitos testes massivos do imunizante. Nenhuma delas ainda tem eficácia comprovada nem autorização de uso pela Anvisa.
Bolsonaro também contradiz os esforços do atual governo em divulgar, incentivar e produzir cloroquina, medicamento cuja eficácia nunca foi comprovada contra o coronavírus. O Exército brasileiro havia produzido até julho 3 milhões de comprimidos do medicamento. Os custos da produção, de mais de R$ 1,5 milhão, são alvo de investigação do Ministério Público de Contas e do TCU.
"A vacina tem que ter uma comprovação científica, diferentemente da hidroxicloroquina, posso falar sobre isso, tem que ter sua eficácia. Não pode inalar (quis dizer inocular) algo em uma pessoa e o malefício ser maior do que o benefício, apenas isso", rebateu o presidente hoje, quando questionado sobre o medicamento.
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