Em reunião, Pazuello firmou compromisso de compra da CoronaVac; veja vídeo
Vídeo divulgado hoje pelo governo de São Paulo mostra o momento em que ministro da Saúde Eduardo Pazuello firma o compromisso de compra da CoronaVac, vacina chinesa produzida em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Em reunião realizada ontem com 24 governadores, o general anunciou a aquisição de 46 milhões de doses.
Na conversa, realizada virtualmente, Pazuello disse ainda que a vacina da Sinovac será incluída no PNI (Plano Nacional de Imunização) e distribuída pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A íntegra do encontro foi liberada depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizou publicamente o ministro e a aquisição das doses.
"Fizemos uma carta de resposta ao ofício do Butantan e essa carta é o compromisso da aquisição das vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro, em torno de 46 milhões de doses. Elas servirão para iniciarmos a vacinação ainda em janeiro. Essa é a nossa grande novidade e equilibra o processo", afirmou Pazuello.
"Essa vacina da Sinovac usa a mesma tecnologia que o Butantan usa para as demais vacinas do H1N1, com o vírus inativo. A vacina do Butantan será a vacina brasileira. Com isso, o registro entra pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e não pela Anvisa chinesa. Isso nos dá mais segurança e nos dá também mais liberdade de manobra", afirmou o ministro.
Segundo Pazuello, a expectativa do ministério é que a CoronaVac esteja disponível cerca de um mês antes da Astrazeneca, vacina de Oxford que está sendo testada no Brasil e que o governo já comprou 140 milhões de doses que devem chegar a partir de janeiro.
O objetivo, disse Pazuello. é comprar a produção chinesa para "cobrir essa lacuna". "Temos 140 milhões de doses da AstraZeneca que chegam a partir de janeiro, mas pode ser fevereiro. Se o Butantan nos fornecer essas 46 milhões de doses iniciais, a gente já consegue iniciar a vacinação."
De acordo com o ministro, o Brasil estuda outras vacinas, incluindo uma russa, uma americana e outra chinesa. "Quando a gente aperta no final, a maioria das fábricas nos leva para China."
As vacinas da Sinovac e da AstraZeneca estão na mesma fase 3, o estágio em que são feitos testes massivos do imunizante. Nenhuma delas ainda tem eficácia comprovada nem autorização de uso pela Anvisa.
"É importante destacar que a fase 3 também precisa ser feita no Brasil", acrescentou Pazuello durante a reunião. "Isso garante que aquela vacina funciona para brasileiros. Às vezes, pode funcionar para o povo chinês, russo, americano, mas não para brasileiros."
Desautorizado por Bolsonaro
Hoje, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ordenou o cancelamento do acordo feito pelo Ministério da Saúde com o governo de São Paulo. "Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade (...) Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado nela, a não ser nós".
Nas redes sociais, o presidente afirmou que o povo brasileiro não será "cobaia" e chamou a CoronaVac de "vacina chinesa de João Doria". "Para o meu governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", escreveu.
A declaração, no entanto, contradiz os esforços do governo Bolsonaro em divulgar, incentivar e produzir cloroquina, medicamento cuja eficácia nunca foi comprovada contra o coronavírus. O Exército brasileiro havia produzido até julho 3 milhões de comprimidos do medicamento. Os custos da produção, de mais de R$ 1,5 milhão, são alvo de investigação do Ministério Público de Contas e do TCU.
Além disso, o governo brasileiro comprou doses da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford —a primeira contratada pelo Ministério da Saúde —, que se encontra no mesmo estágio de testes que a CoronaVac.
Com a reação negativa do presidente, o ministério recuou e o secretário-executivo chegou a dizer que "houve uma interpretação equivocada da fala de Pazuello".
Já o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pediu grandeza ao presidente Bolsonaro (sem partido) em relação à polêmica envolvendo a vacina CoronaVac e disse que a "guerra" precisa ser contra o novo coronavírus. "Aproveito para pedir ao presidente que tenha grandeza e lidere o Brasil na saúde, na retomada de empregos... A nossa guerra é contra o vírus, não na política e não um contra o outro. Devemos vencer o vírus".
Outros governadores também criticaram Bolsonaro por desautorizar a compra da CoronaVac. "Será que ele não quer jogar War ou videogame com [Donald] Trump? Enquanto jogasse, ele não atrapalharia os que querem tratar com seriedade os problemas da população", chegou a dizer Flávio Dino (PCdoB).
Cerca de 200 vacinas estão sendo desenvolvidas no mundo contra a covid-19, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Relatório da entidade aponta que os estudos clínicos do imunizante desenvolvido na China ocorrem também na Turquia e na Indonésia.
E o governo do Chile anunciou, em agosto, que deve participar da fase 3 dos testes.
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