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Anvisa diz que decisão de suspender testes com a CoronaVac foi técnica

Afonso Ferreira, Allan Brito, Felipe Pereira e Guilherme Mazieiro

Do UOL, em São Paulo e Brasília, e Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/11/2020 13h57Atualizada em 10/11/2020 19h16

O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, disse hoje que a decisão do órgão que suspendeu ontem as pesquisas da CoronaVac foi técnica. A vacina é desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.

Segundo apurou o UOL, a morte que causou a suspensão das pesquisas da CoronaVac foi o suicídio de um homem de 32 anos, voluntário na pesquisa, ocorrido em 29 de outubro.

Barra Torres justificou que os documentos enviados pelo Instituto Butantan sobre o "evento adverso" estavam "incompletos" e "insuficientes". Segundo ele, a decisão foi tomada por um órgão técnico da Anvisa, a GGMED (Gerência Geral de Medicamentos), sem passar pelo colegiado dos diretores.

Diante de informações incompletas, a área técnica só tem uma decisão a tomar [de suspender a pesquisa]. Nos desenvolvimentos tem eventos adversos, como dor ou vermelhidão. E tem graves, que vão desde internação com risco, sequela e até mesmo ao óbito.
Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa

"O que recebemos ontem não nos dava nenhuma outra alternativa", completou em declaração a jornalistas. Barra Torres prestou solidariedade à família do voluntário.

Questionado por um jornalista se a Anvisa sabia da informação sobre a morte, Barra Torres respondeu que "não havia essa informação" entre os dados repassados ontem à agência.

Segundo a Anvisa, a comunicação do Butantan informava apenas que era um "evento adverso grave não esperado". De acordo com os protocolos da agência, sob essa informação, a decisão de suspender a pesquisa foi correta.

Além da CoronaVac, há pelo menos outras três vacinas em estudo no país com parceria com laboratórios internacionais.

Sem parceiros

Barra Torres disse ainda que a agência "não é parceira de ninguém". Ele citou o VAR (instrumento do futebol que revisa decisões do juiz) para dizer que a Anvisa atua como árbitro.

"A Anvisa não é parceira de ninguém. A imagem que coloco é a imagem do árbitro, do juiz. É aquele que pesa o que foi feito certo e emite juízo de valor. Nenhuma colocação no sentido de que estávamos juntos. Não estamos. Tomaremos decisões no dia que tiverem que serem tomadas", disse Barras.

Barra Torres foi indicado por Bolsonaro para o comando da Anvisa ano passado e foi oficializado no posto pelo Senado, em outubro deste ano. O comando da agência é temporário, de cinco anos, e ele não pode ser destituído por decisão do Presidente da República.

Bolsonaro diz que "ganhou" de Doria

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou a suspensão pela Anvisa dos testes da vacina para, mais uma vez, atacar João Doria (PSDB-SP). Ele disse que "ganhou" do governador de São Paulo.

A vacina desenvolvida por São Paulo tem parceria com o laboratório chinês Sinovac. Pela participação de chineses, aliados de Bolsonaro criticam a pesquisa.

Anvisa não se envolve em política, diz diretor

Ao ser questionado por jornalista sobre uma possível influência política na decisão, Barra Torres afirmou que a polarização política do país deve ficar dos muros da Anvisa para fora.

"Na questão das comemorações e manifestações de cunho político, não tecemos no passado, agora ou no futuro comentários sobre questões políticas. O que o cidadão não precisa é de Anvisa contaminada por guerra política. Ela existe, mas tem de ficar dos muros para fora. Não é razoável que pessoas da ciência passem a tecer comentários e análises. Não somos comentaristas políticos. Quem tem capacidade para isso que o faça", afirmou.

Comunicação

A Anvisa fez uma apresentação com a "linha do tempo" dos acontecimentos envolvendo a suspensão. De acordo com a exposição, o "evento adverso" teria ocorrido em 29 de outubro e o Butantan enviou a notificação no prazo correto, em 6 de novembro.

Segundo a Anvisa, o ataque hacker que atingiu parte dos órgãos do governo semana passada afetou a comunicação interna e por isso a notificação do instituto paulista foi analisada no dia 9 de novembro.

Internamente no instituto Butantan causou indignação a resposta da Anvisa, porque avaliam que a documentação foi entregue antes do prazo protocolar de sete dias e a decisão sobre a notificação levou menos de três horas.

"No dia 6 Butantan enviou uma informação, mas que não chegou na Anvisa por conta de problemas técnicos, que foi situação de hackeamento. Só tivemos conhecimento dessa notificação no dia 9/11", disse o diretor da Anvisa Gustavo Mendes.

Linha do tempo da notificação, segundo a Anvisa:

29.out - evento adverso
06.nov - Instituto Butantan enviou informação à Anvisa, dentro do prazo protocolar.
09.nov , às 18h- sob a justificativas de problemas técnicos, a Anvisa informou que só recebeu a comunicação "sem nenhum detalhe"
09.nov, às 20h47 - comunicou, eletronicamente, o Butantan sobre a suspensão
09.nov, às 21h25 - publicação da informação, no portal da Anvisa, sobre a suspensão dos estudos