Presidente do Einstein vê 2ª onda no Brasil e critica plano de vacinação
Presidente do Hospital Albert Einstein, o cirurgião Sidney Klajner acredita que o Brasil está enfrentando uma segunda onda de covid-19. Ele viu um aumento de internações no local onde trabalha e está preocupado com o planejamento do país para a vacinação.
Sidney explicou que a segunda onda no Brasil é diferente da Europa, já que o país nunca conseguiu controlar totalmente a disseminação do novo coronavírus. Mas o crescimento de internações, segundo ele, leva a crer que teremos um novo pico da pandemia.
"Nosso comportamento no Brasil é bem diferente do que houve na segunda onda na Europa. O que teve lá foi um pico muito agudo de mortes e contaminados e um lockdown rígido, que fez com que a mortalidade caísse quase a zero. Com a chegada do verão europeu, a população voltou a fazer viagens, ir às praias, restaurantes, e aí veio outro pico e a necessidade de alguns governos implementarem um novo lockdown. Aqui, não houve um pico muito agudo, porque as medidas de isolamento fizeram com que se achatasse esse pico. No Brasil, porém, nunca deixou de existir um platô de contaminação e mortalidade, como houve na Europa", afirmou Sidney, em entrevista ao jornal O Globo.
O presidente do Albert Einstein revelou detalhes sobre as internações por covid-19 no hospital. Segundo ele, hoje são 106 pacientes internados com a doença.
"O maior pico da doença foi em abril, quando cerca de 150 leitos do hospital chegaram a ser ocupados por casos de covid-19, sendo muitos em estado bem grave, até porque era uma doença que carecia de conhecimento maior por parte dos médicos. Depois de maio, assistimos uma queda desse pico e chegamos a um platô. Por quatro meses, o hospital ficou com cerca de 50 leitos sempre ocupados com pacientes com covid. No último mês, vimos uma ascensão e o número de internações dobrou. Hoje estamos com 106 pacientes confirmados com covid-19, dos quais entre 50 estão na UTI e na UTI semi-intensiva", revelou Sidney.
Questionado sobre o motivo desse aumento de casos, o presidente do Albert Einstein admitiu que é difícil manter as medidas de isolamento social por muito tempo, mas defendeu que as restrições sejam mais rigorosas.
"As questões de saúde mental e de impactos de isolamento tornam a situação muito difícil, principalmente para os jovens. Então, voltam a acontecer encontros, idas a restaurantes, festas. Estudos mostram que, de cada dez contaminações que ocorreram entre março e maio em Nova York, oito se deram em restaurantes, bares ou academias. São ambientes fechados e o cidadão é obrigado a tirar máscara se for comer", comentou Sidney.
Vacinação
Sidney Klajner criticou as primeiras informações divulgadas sobre o plano de vacinação do Brasil, que ainda não está pronto. Ele sugeriu que o grupo prioritário deveria ser outro - segundo o governo, a vacinação vai começar pelos idosos com mais de 75 anos, profissionais de saúde e indígenas.
"Essa discussão tem que ser levada a uma profundidade maior. Grande parte da mortalidade não está nesses idosos acima de 75 anos e sim na população que sai mais de casa e se expõe, entre 60 e 75 anos. A mortalidade é maior na população mais ativa", apontou Sidney.
O médico não acredita que a vacina tenha que ser obrigatória, pois entende que pelo menos 70% da população brasileira vai querer tomá-la. Mas ele alerta para os riscos de politizar a vacina e, com isso, diminuir a quantidade da população imunizada.
"No momento em que existe a politização de uma ou outra vacina, corremos o risco de o apoiador desta ou daquela liderança tomar o imunizante que ela apoia. O risco é deixar de tomar a vacina por uma ideologia e não por uma questão sanitária. Em período de pandemia, toda vez que colocamos a nossa vida em risco, colocamos a do outro também", alertou Sidney.
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