Em evento sem Doria, Bolsonaro ameniza tom e fala em união contra covid-19
Após meses de desavenças, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou hoje um tom conciliador com os governadores e pregou união para buscar uma solução contra o novo coronavírus em discurso durante lançamento do Plano Nacional de vacinação.
Bolsonaro se disse "honrado" em receber os governadores e disse que alguns não compareceram por "motivo de força maior". O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário político do presidente, não foi ao evento. Ele justificou que é seu aniversário de 63 anos, vai ficar próximo à família e despachar de São Paulo. Em seu lugar foi enviado o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn.
Se algum de nós extrapolou, foi no afã de buscar solução."
Jair Bolsonaro
Entre outros presentes, estavam Helder Barbalho (MDB-PA), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Fátima Bezerra (PT-RN) e Camilo Santana (PT-CE).
"Realmente nos afligiu desde o início. Não sabíamos o que era esse vírus e ainda não sabemos em grande parte. Nós todos estamos na iminência de apresentar alternativa concreta para nos livrar desse mal, que é o plano de operacionalização da vacinação contra covid-19", discursou o presidente.
Momentos difíceis vivemos, mas depois da tempestade, a bonança. É isso que estamos vislumbrando para o horizonte do Brasil. São 27 governadores com propósito de bem comum: a volta da normalidade."
Jair Bolsonaro
O tom ameno destoa de declarações dadas por Bolsonaro ao longo dos meses. Desde o início da pandemia, o presidente e parte dos governadores têm mantido uma relação conflituosa, especialmente a respeito do impacto da pandemia na economia. Além de minimizar a gravidade da doença, Bolsonaro criticou governadores e prefeitos que promoveram restrições das atividades econômicas.
Pazuello diz que estados serão tratados igualmente
Antes de Bolsonaro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, declarou que todos os estados serão tratados de forma igual em relação à vacina e que não se pode colocar em dúvida a credibilidade da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em indireta a João Doria.
No mês passado, o governador acusou Bolsonaro de interferir na agência. Ele não apresentou provas disso, mas disse que a agência agiu de forma ideológica ao interromper os testes da vacina CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, por dois dias na ocasião.
"Todos estados serão tratados de forma igualitária, proporcional e não haverá diferença. Todas as vacinas produzidas no Brasil, por Butantan ou Fiocruz, terão prioridade do SUS. Isso está pacificado. Está discutido. Está muito bem tratado e acompanhado", disse o ministro.
Qualquer fumaça ou discussão anterior ficou na discussão. Estamos afirmando que todos os brasileiros receberão vacina de forma grátis, igualitária e proporcional nos postos. Vacinas registradas e garantidas na segurança e eficácia. Não podemos brincar com saúde da população."
ministro Eduardo Pazuello
Durante reunião com governadores no dia 8 de dezembro, Pazuello foi cobrado por Doria sobre as razões de o governo federal não ter investido recursos na CoronaVac. O tucano ainda questionou se o ministério irá comprar a CoronaVac após aprovação da Anvisa.
"Eu já respondi isso a todos os governadores: quando a vacina do Butantan, que não é do estado de São Paulo, tá, governador? Ela é do Butantan, eu não sei por que o senhor fala tanto como se fosse do estado", disse o ministro da Saúde na ocasião.
No evento desta manhã, o presidente esteve acompanhado de outros quatro militares à frente no palco onde foram feitos os discursos: Pazuello, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa). Nenhum deles usava máscara.
'Para que ansiedade?', questiona Pazuello
Pressionado pelo impasse relacionado às vacinas em estudo contra a covid-19, o ministro da Saúde também questionou o que chamou de "angústia" e "ansiedade" para que o Executivo deixe de lado as disputas políticas e apresente resoluções quanto ao processo de imunização.
Enquanto países como Estados Unidos e Reino Unido já estão em processo de vacinação, o governo brasileiro avalia questões como a marca da vacina a ser investida e se ela será ou não obrigatória para a população. Questões logísticas sobre distribuição e armazenamento também seguem em discussão.
"Somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Para que essa ansiedade e essa angústia? Somos referência na América Latina. E estamos trabalhando", declarou ele na cerimônia de apresentação do plano nacional de imunização.
Caiado vê união de Bolsonaro
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), disse ao UOL que Bolsonaro conseguiu unir os governadores em torno da vacinação. Segundo ele, apenas Doria foi uma "voz dissidente". Eles são desafetos.
"Não teve nenhum governador, a não ser o de São Paulo, que se colocou num plano próprio dele. Todos se colocaram dentro do Plano Nacional de Imunização", disse Caiado.
"O discurso do presidente hoje, foi de conciliação. Todos os governadores pediram isso, só teve uma voz dissidente à distribuição da vacina pelo Ministério da Saúde, não teve uma segunda voz", continuou Caiado.
O plano já havia sido apresentado ao STF (Supremo Tribunal Federal) na semana passada. O documento inclui a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan (SP) em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Plano Nacional
Nesta semana, a AGU (Advocacia-Geral da União) respondeu a questionamentos da corte e informou que a vacinação começará cinco dias após aval da Anvisa e da entrega das doses por algum laboratório.
O país registra 182.854 mortes desde o início da pandemia. O total de infectados subiu para 6.974.258, segundo dados divulgados ontem (15) pelo consórcio de imprensa, do qual o UOL faz parte.
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