Topo

SP mira em Plano Nacional de Imunização, mas só “com papel assinado”

O ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o governador de SP João Doria - Adriano Machado e Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo
O ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o governador de SP João Doria Imagem: Adriano Machado e Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

17/12/2020 16h57

Depois de meses de quebra de braço com o governo federal, o governo de São Paulo mostra a intenção de aderir ao Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19. Só estabelece duas condições para o Ministério da Saúde: que a imunização comece antes do dia 25 de janeiro, data prevista para início no estado, e a assinatura de um documento que oficialize a compra da CoronaVac.

A cautela se justifica em uma desinteligência ocorrida com a gestão de Jair Bolsonaro (sem partido) há dois meses. Na primeira vez em que o ministério mostrou a intenção de adquirir a vacina da Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, o presidente acabou desautorizando o acordo publicamente.

Precisamos ter documento firme, definitivo e irrevogável do ministério pra aquisição da vacina do Butantan."
João Doria (PSDB), governador de SP

Em coletiva no Palácio dos Bandeirantes, o governador João Doria (PSDB) lembrou do episódio em mais de uma ocasião.

"Ontem, o ministro [da Saúde, Eduardo Pazuello] voltou a afirmar que faria encaminhamento dessa correspondência [de intenção de compra]. E espero que assim se cumpra. Foi a segunda vez que falamos com ministro nesse sentido", declarou Doria.

Em outubro, o ministério chegou a emitir um documento de intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. O compromisso foi firmado por Pazuello em reunião virtual com Doria e outros governadores.

No dia seguinte, o presidente desautorizou publicamente o acordo e afirmou que "o povo brasileiro não será "cobaia" da "vacina chinesa de João Doria". O episódio acirrou a disputa política entre Doria, um dos principais cotados a concorrer ao Planalto em 2022, e o presidente.

"Casamento"

O secretário de Saúde do estado, Jean Gorinchteyn, que se encontrou pessoalmente com o ministro Eduardo Pazuello, usa metáforas amorosas para explicar a relação. Segundo ele, o governo propôs um namoro — metáforas sobre relacionamentos são constantes no vocabulário do presidente Bolsonaro.

Nós queremos casar, com papel assinado."
Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde do estado

A previsão do Instituto Butantan é fazer uma entrega escalonada das doses: 9 milhões em janeiro, 22 milhões em fevereiro e 15 milhões em março. A primeira fase do plano estadual de imunização prevê o uso de 18 milhões de doses — o bastante para imunizar nove milhões de pessoas.

Se o governo acelerar, São Paulo entra

Outro ponto sensível para o governo paulista é manter a data de vacinação para o dia 25 de janeiro. Se o governo conseguir iniciar a campanha nacional antes, o estado fará parte; se não, começará sozinho.

"Se tivermos programa nacional que aconteça breve, muito bem, estaremos juntos. Caso se postergue, com datas para março, faremos o programa estadual ocorrer em 25 de janeiro", declarou Gorinchteyn.

Em relação à data, São Paulo não vê razão para fazer em fevereiro o que podemos fazer em janeiro. Cada dia que passa conta. Cada dia são 700 brasileiros que morrem."
João Doria (PSDB), governador de SP

O detalhe que permeia todo o acordo — e dá ao governo federal a justificativa para ainda não estabelecer uma data oficial de início — é que a CoronaVac, como nenhuma outra vacina, ainda não foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Os resultados da fase 3 de testes, a última, que estabelece a segurança e a eficácia do imunizante, deveria ter sido apresentado na última terça (15), mas foi adiada para a próxima quarta (23).

Segundo o governo, a estratégia, agora, é pedir o registro definitivo da vacina no Brasil e na China e cobrar celeridade da agência reguladora.

Nesta semana, ao apresentar o plano nacional, o ministério declarou que irá aderir à primeira vacina que for aprovada pela Anvisa — e isso, mesmo após negativa de Bolsonaro, inclui a CoronaVac. Agora, o governo estadual diz esperar e manter sua data no horizonte.

"25 de janeiro é data prevista para o início da imunização em São Paulo. Se, pelas circunstâncias, pudermos todos nós, Brasil e São Paulo, iniciar a vacinação antes, ótimo, é que mais desejamos", declarou Doria.

Hoje, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou a citar uma combinação de fatores para dizer hoje que o Brasil poderá ter, em janeiro, 24,7 milhões de doses disponíveis de vacinas contra a covid-19 em janeiro.

Estamos falando, em janeiro, de 500 mil doses da Pfizer, 9 milhões de doses do Butantan e 15 milhões a AstraZeneca. A data exata é o mês de janeiro. Pode ser 18, 20 de janeiro. Mas se nós pudermos compreender que o processo vai nos dar a data (...) já nos dá um novo desenho. Isso tudo dependendo do registro da Anvisa."
Eduardo Pazuello

O Ministério da Saúde emitiu uma nota hoje esclarecendo que não estabeleceu datas para o início da vacinação contra a covid-19. O informe vai na contramão de informações que circularam afirmando que o início da imunização ocorreria a partir do dia 21 de janeiro. Segundo a pasta, a ausência de previsão ocorre porque nenhum laboratório realizou até o momento o pedido de registro junto à Anvisa.