Após 9 meses de pandemia, SP ainda tem discrepâncias em dados divulgados
Depois de mais de nove meses do primeiro caso confirmado do novo coronavírus em São Paulo, os dados de infectados continuam subnotificados, indica a comparação de dados do governo estadual com os de vários municípios.
Ter os números exatos ou ao menos aproximados de infectados, mortos e recuperados é fundamental para se observar o comportamento da pandemia e definir políticas públicas de combate à doença. No entanto, em diversos momentos, a divulgação dos números dos estados e do país tiveram problemas.
No caso do estado de São Paulo, a plataforma Seade — Coronavírus reúne informações referentes ao estado e de todos os 645 municípios. Porém, ao fazer a comparação com os dados diários publicados pelas próprias prefeituras, os números de casos divergem —e muito.
As autoridades em Saúde admitem que podem ocorrer pequenas divergências entre as plataformas municipais e estaduais devido a um atraso na digitalização de dados, como ocorre com a soma de óbitos por covid-19. Mas em relação aos dados de casos confirmados, as discrepâncias chegam a ser acima de milhares em algumas cidades.
O caso da capital paulista é o mais crítico. O boletim diário do município informou 453.749 casos até a noite de quarta (16). Já no sistema estadual, o número era de 372.875 na mesma data. Uma diferença de 80.874, número maior que o total de casos diários divulgados no Brasil inteiro —que, no mesmo dia, foi de 68 mil.
A Secretaria Estadual da Saúde justificou que "as diferenças podem ocorrer porque a equipe da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde realiza um trabalho de qualificação dos dados, com unificação de registros a fim de evitar duplicidades relacionadas a uma mesma pessoa nas bases de dados oficiais do Ministério da Saúde para notificação da covid-19".
Os municípios fazem a divulgação dos seus dados em dois sistemas do Ministério da Saúde: e-SUS Notifica e o Sivep-Gripe. Segundo a pasta, caso um paciente seja atendido em uma unidade de saúde e receba o diagnóstico leve de coronavírus, ele pode entrar no e-SUS. Se o quadro do paciente evoluir, ele pode acabar sendo computado também pelo Sivep. Essas duas notificações gerariam duplicidades que seriam corrigidas pela secretaria.
No entanto, o município de São Paulo reforçou que o próprio sistema já faz o trabalho de corrigir duplicidades. "Os dados são extraídos diariamente dos sistemas oficiais de notificação (e-SUS Notifica e Sivep-Gripe) e são utilizadas ferramentas para limpeza de duplicidades dos bancos de dados e relacionamento entre bancos de diferentes sistemas, para que o número final de casos confirmados seja divulgado da forma mais fidedigna e atualizada possível", diz a nota enviada pela administração municipal.
A secretaria municipal atribui essa diferença à utilização de metodologias distintas e sistemas de monitoramento diversos. "É importante que a comparação do leitor seja feita sempre com informações do mesmo banco, para que seja observada a curva de evolução da doença, sem distorções metodológicas."
O segundo município no ranking de casos é Campinas que, segundo seu boletim municipal, somava 46.531 infectados pela doença. No sistema estadual constavam 39.771, uma diferença de mais de 6 mil.
A Prefeitura também respondeu que faz o trabalho de exclusão das duplicidades do sistema. "Eventuais diferenças podem ocorrer de acordo com o horário de exportação dos dados e o momento da exclusão de duplicidades dos sistemas, visto que são notificados aproximadamente 1.200 casos suspeitos por dia", diz, em nota.
São José do Rio Preto é a terceira cidade do ranking e seu caso é inverso: os dados do estado são maiores que os do município. No boletim municipal de quarta foram confirmados 31.863 casos, enquanto no estadual o número era de 33.137. Uma diferença de 1.274 entre um e outro.
A Prefeitura justificou essa diferença para baixo devido ao fato de "a Secretaria Municipal de Saúde não estar computando no boletim os resultados do inquérito sorológico". O boletim municipal informa que os dados do inquérito de novembro só serão inseridos na divulgação "após a conclusão da avaliação do inquérito".
Tanto as prefeituras quanto o estado negam que as divergências atrapalhem a compreensão da pandemia nas suas esferas. No entanto, a análise de casos confirmados ajuda a notar momentos de alta e queda da doença.
Problemas na divulgação dos dados
Atualmente, a maioria dos estados e o país assistem um aumento considerável de casos confirmados, indicando uma nova onda de contaminação pela doença. É com base nessas observações que se tomam decisões de abertura ou fechamento de atividades, como a que foi anunciada pelo estado de São Paulo em 30 de novembro.
Desde o início, a divulgação dos dados da pandemia enfrenta problemas no país. Em maio, o governo federal deixou de divulgar os dados na plataforma do Ministério da Saúde, o que levou ao surgimento do Consórcio de Veículos de Imprensa, do qual o UOL faz parte, que coleta as informações de contaminados e mortos diretamente com as secretarias estaduais.
Mas, mesmo após o consórcio, o país sofreu um apagão entre os dias 6 e 10 de novembro, sendo São Paulo o estado a ficar mais dias sem divulgar números de mortes por covid-19. Na quarta, inclusive, o estado voltou a relatar problemas em sua divulgação.
No país, há um outro indicativo importante de subnotificação, desde o início da pandemia: a baixa testagem. Hoje, são apenas 120.515 testes para cada milhão de habitantes no Brasil, segundo o site Wordometers. Para se ter uma ideia, outros países com altos números de infectados como o Brasil possuem muito mais testes por milhão: nos Estados Unidos são 682.878; e na Rússia, 574.577.
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