Topo

Após 9 meses de pandemia, SP ainda tem discrepâncias em dados divulgados

iStock
Imagem: iStock

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

18/12/2020 04h00

Depois de mais de nove meses do primeiro caso confirmado do novo coronavírus em São Paulo, os dados de infectados continuam subnotificados, indica a comparação de dados do governo estadual com os de vários municípios.

Ter os números exatos ou ao menos aproximados de infectados, mortos e recuperados é fundamental para se observar o comportamento da pandemia e definir políticas públicas de combate à doença. No entanto, em diversos momentos, a divulgação dos números dos estados e do país tiveram problemas.

No caso do estado de São Paulo, a plataforma Seade — Coronavírus reúne informações referentes ao estado e de todos os 645 municípios. Porém, ao fazer a comparação com os dados diários publicados pelas próprias prefeituras, os números de casos divergem —e muito.

As autoridades em Saúde admitem que podem ocorrer pequenas divergências entre as plataformas municipais e estaduais devido a um atraso na digitalização de dados, como ocorre com a soma de óbitos por covid-19. Mas em relação aos dados de casos confirmados, as discrepâncias chegam a ser acima de milhares em algumas cidades.

O caso da capital paulista é o mais crítico. O boletim diário do município informou 453.749 casos até a noite de quarta (16). Já no sistema estadual, o número era de 372.875 na mesma data. Uma diferença de 80.874, número maior que o total de casos diários divulgados no Brasil inteiro —que, no mesmo dia, foi de 68 mil.

A Secretaria Estadual da Saúde justificou que "as diferenças podem ocorrer porque a equipe da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde realiza um trabalho de qualificação dos dados, com unificação de registros a fim de evitar duplicidades relacionadas a uma mesma pessoa nas bases de dados oficiais do Ministério da Saúde para notificação da covid-19".

Os municípios fazem a divulgação dos seus dados em dois sistemas do Ministério da Saúde: e-SUS Notifica e o Sivep-Gripe. Segundo a pasta, caso um paciente seja atendido em uma unidade de saúde e receba o diagnóstico leve de coronavírus, ele pode entrar no e-SUS. Se o quadro do paciente evoluir, ele pode acabar sendo computado também pelo Sivep. Essas duas notificações gerariam duplicidades que seriam corrigidas pela secretaria.

No entanto, o município de São Paulo reforçou que o próprio sistema já faz o trabalho de corrigir duplicidades. "Os dados são extraídos diariamente dos sistemas oficiais de notificação (e-SUS Notifica e Sivep-Gripe) e são utilizadas ferramentas para limpeza de duplicidades dos bancos de dados e relacionamento entre bancos de diferentes sistemas, para que o número final de casos confirmados seja divulgado da forma mais fidedigna e atualizada possível", diz a nota enviada pela administração municipal.

A secretaria municipal atribui essa diferença à utilização de metodologias distintas e sistemas de monitoramento diversos. "É importante que a comparação do leitor seja feita sempre com informações do mesmo banco, para que seja observada a curva de evolução da doença, sem distorções metodológicas."

O segundo município no ranking de casos é Campinas que, segundo seu boletim municipal, somava 46.531 infectados pela doença. No sistema estadual constavam 39.771, uma diferença de mais de 6 mil.

A Prefeitura também respondeu que faz o trabalho de exclusão das duplicidades do sistema. "Eventuais diferenças podem ocorrer de acordo com o horário de exportação dos dados e o momento da exclusão de duplicidades dos sistemas, visto que são notificados aproximadamente 1.200 casos suspeitos por dia", diz, em nota.

São José do Rio Preto é a terceira cidade do ranking e seu caso é inverso: os dados do estado são maiores que os do município. No boletim municipal de quarta foram confirmados 31.863 casos, enquanto no estadual o número era de 33.137. Uma diferença de 1.274 entre um e outro.

A Prefeitura justificou essa diferença para baixo devido ao fato de "a Secretaria Municipal de Saúde não estar computando no boletim os resultados do inquérito sorológico". O boletim municipal informa que os dados do inquérito de novembro só serão inseridos na divulgação "após a conclusão da avaliação do inquérito".

Tanto as prefeituras quanto o estado negam que as divergências atrapalhem a compreensão da pandemia nas suas esferas. No entanto, a análise de casos confirmados ajuda a notar momentos de alta e queda da doença.

Problemas na divulgação dos dados

Atualmente, a maioria dos estados e o país assistem um aumento considerável de casos confirmados, indicando uma nova onda de contaminação pela doença. É com base nessas observações que se tomam decisões de abertura ou fechamento de atividades, como a que foi anunciada pelo estado de São Paulo em 30 de novembro.

Desde o início, a divulgação dos dados da pandemia enfrenta problemas no país. Em maio, o governo federal deixou de divulgar os dados na plataforma do Ministério da Saúde, o que levou ao surgimento do Consórcio de Veículos de Imprensa, do qual o UOL faz parte, que coleta as informações de contaminados e mortos diretamente com as secretarias estaduais.

Mas, mesmo após o consórcio, o país sofreu um apagão entre os dias 6 e 10 de novembro, sendo São Paulo o estado a ficar mais dias sem divulgar números de mortes por covid-19. Na quarta, inclusive, o estado voltou a relatar problemas em sua divulgação.

No país, há um outro indicativo importante de subnotificação, desde o início da pandemia: a baixa testagem. Hoje, são apenas 120.515 testes para cada milhão de habitantes no Brasil, segundo o site Wordometers. Para se ter uma ideia, outros países com altos números de infectados como o Brasil possuem muito mais testes por milhão: nos Estados Unidos são 682.878; e na Rússia, 574.577.